Quem acompanha a coluna há algum tempo sabe que costumo dizer que o melhor vinho é aquele que “você gosta”. No entanto, para as festas de fim de ano, vou utilizar uma “licença poética” para trocar minha opinião a respeito deste assunto.
Acredito ser importante valorizarmos os pratos preparados com tanto carinho pelas nossas famílias, então nada mais justo do que termos rótulos à altura.
Nas escolhas que fiz abaixo, considerei quais são os principais preparos para cada festividade.
Vinhos para o Natal
Dentre todos os momentos do ano, o Natal é o momento ideal para você investir em rótulos mais complexos e de maior qualidade.
As ceias das famílias começam cedo e possuem inúmeros pratos. É claro que não dá para ter um vinho que harmonize com cada uma das opções do cardápio, mas vale a pena ter à sua disposição borbulhas ou brancos e tintos leves para as comidas salgadas — além, é claro, de um bom vinho de sobremesa para o último passo do jantar.
Lembre-se que, no Brasil, o Natal costuma ser de temperaturas altas. Então, procure por rótulos com pouca passagem em madeira e menores graduações alcoólicas. Assim, dá para “bebericar” a noite inteira.
- Salpicão, canudinho, saladas de maionese e arroz à grega: dê a preferência a espumantes brancos com alta acidez. Indico experimentar um rótulo produzido pelo método charmat ou charmat longo. Serve como um “welcome drink” e, ao mesmo tempo, ajuda a limpar o paladar.
- Panetone, chocotone ou stolen: arrisco a dizer que quem experimentar um panetone com uma taça de espumante moscatel nunca mais vai querer comer sem a bebida. Escolha moscateis gaúchos da região de Farroupilha ou então do Vale do São Francisco, no nordeste do país. Porém, tenha o cuidado de comer o panetone no início do jantar ou junto com a sobremesa, pois moscatel não vai bem com comida salgada.
- Frango caipira, faisão, pato e marreco recheado: tradicionalmente, as aves que possuem mais gordura vão bem com brancos estruturados como riesling, viognier e sauvignon blanc. Mas, a depender do molho em que elas estão acompanhadas, escolha tintos leves como Borgonhas ou cortes do sul do Rhône como Grenache, Cinsault e Mourvèdre.
- Chester, tender, peru e lasanha: igual ao exemplo acima, as aves natalinas combinam com brancos intensos como Chablis ou vinhos do Trento. No caso da lasanha ou das aves ao molho, minha aposta certeira é em um tinto do Dão ou do Douro, ambos portugueses. Com taninos macios e aromas de frutas vermelhas bem presentes, é uma ótima combinação.
- Porco à pururuca e bacalhau: os espumantes feitos pelo método champenoise (tradicional) são ótimos para contrastar com a gordura suína. Escolha os bruts e natures brasileiros ou aposte em algum Champagne não safrado. Se você tem algum surlie na adega, aqui também é o momento. O mesmo para um bom bacalhau cheio de azeite de oliva.
- Pavê, torta de bolacha, pudim, mousse e tiramisù: chegamos nas sobremesas e é impossível fugir de um especial vinho do Porto. Se o preparo leva bastante chocolate, vá de Porto Tawny. Já se há predominância de cremes à base de leite, vá de Porto Ruby.
- Salada de frutas, cheesecake, pavlova e banoffee: a minha regra para harmonizar sobremesas é de que se há frutas, há moscatel. Assim como o panetone, escolha os brasileiros ou algum espumante italiano feito pelo método Asti.
Depois destas combinações você está se perguntando: Stêvão, preciso de todos estes vinhos? A resposta é: não. Dê a preferência para o que os convidados mais gostam de beber e qual será o prato predominante da sua ceia de natal. Escolha dois ou três rótulos e aproveite a noite.
Vinhos para o Ano Novo
Diferente do Natal, nem todos costumam fazer ceia de ano novo. Na minha família, por exemplo, tudo vira churrasco.
Mas, para além do momento de comemorar a chegada de um ciclo, vale a pena elevar o prazer da noite de todos que estarão juntos.
Ah, aqui vai um conselho crucial! Não “estoure champagne”, nem faça sabragem com vinho bom. Ao estimular a pressão para expulsar a rolha, perde-se muito gás carbônico, estragando a bebida.
Quer fazer uma foto bonita? Escolha espumantes mais simples, baratos e até alguns específicos para a festividade.
Deixe os safrados para o jantar!
- Lentilha, sopas e caldos: se a lentilha tem embutidos como linguiça, bacon ou pedaços de porco, vá de tintos encorpados. Cabernet Franc ou Carmenère do novo mundo combinam bem, além de blends com Alicante Bouschet e Touriga Nacional de Portugal.
- Tábua de queijos, embutidos e antepastos: essa é uma dica para a vida toda! Embutidos combinam com Lambrusco e, por óbvio, tintos. São vinhos refrescantes, bastante frutados e fáceis de beber.
- Salpicão, torta fria, pão picante e salada de maionese: alguns pratos mais regionais, outros um pouco menos, mas aqui o espumante é protagonista. O ideal são os com menos teor de açúcar como nature e brut e feitos pelo método champenoise. Experimente um rótulo da Argentina ou de Santa Catarina. As uvas são colhidas em altitude e, por isso, reservam mais acidez ao vinho base.
- Churrasco: o churrasco é um clássico na ceia de ano novo, principalmente no sul do país. Aqui, nada de brancos ou espumantes, é o momento de tirar todos os tintos da sua adega. Vá de Malbec, Cabernet Sauvignon, Tannat ou Merlot. Quanto mais barrica, melhor. Para isso, dê uma olhada neste texto específico sobre o tema, também.
- Porco assado: diferente do churrasco de carne bovina, o porco requer vinho branco. Porém, podem ser opções com passagem por barrica e bastante estruturados. Sabe aquele “chardonnayzão” que você tanto ama? Abra-o! A acidez e a textura vão combinar com o corte suíno. Se quer uma opção mais leve, vá de riesling itálico.
*Os textos publicados pelos Insiders e Colunistas não refletem, necessariamente, a opinião do CNN Viagem & Gastronomia
Sobre Stêvão Limana
Stêvão Limana é jornalista formado pela Universidade Federal de Santa Maria (UFSM), pós-graduado em enologia, postulante a sommelier profissional e maratonista nas horas vagas. Na TV, fala sobre política e eleições, enquanto na internet foca em vinhos e gastronomia.