Falar sobre temperatura no Sistema Solar é sempre um tema complexo, inclusive para os próprios astrofísicos. Há vários motivos para isso, desde as variações extremas até a existência ou não de atmosfera nos corpos celestes, além da forma como suas composições químicas absorvem e retêm calor.
Até mesmo a temperatura mais alta, que é obviamente a do Sol, levanta questões, pois a superfície do nosso astro é relativamente “fria” quando comparada à chamada corona, que é a camada mais externa da atmosfera da estrela. Enquanto a superfície, ou fotosfera, registra uma temperatura de 5500°C, na corona, localizada milhões de quilômetros acima, o valor chega a 3 milhões de graus Celsius, ou mais.
Saindo dessa “fornalha” em direção aos confins do espaço profundo, o que impera é o frio. Como a maior parte do espaço interplanetário dentro do nosso sistema está longe do Sol, que é a única estrela e principal fonte de calor, sabemos que as temperaturas são extremamente baixas.
Mas também no caso do frio existe um limite térmico que se estende a todo o espaço sideral. Essa temperatura basal, conhecida como temperatura do fundo cósmico de micro-ondas, é cerca de 2,7 Kelvin, ou -270,45°C. Ela equivale à temperatura média do Universo observável, medida no espaço profundo, resultante da expansão e resfriamento do cosmos ao longo de bilhões de anos após o Big Bang.
Como essa temperatura mínima é uniforme em todas as direções do espaço, isso significa que nem mesmo no espaço profundo há objetos mais frios do que ela. Comparada com qualquer região do Sistema Solar, a temperatura de fundo cósmico é sempre muito mais fria.
Afinal, qual é o lugar mais frio do Sistema Solar?
Há 15 anos, acreditávamos firmemente no que a lógica sugeria: quanto mais nos afastamos do Sol, mais frios os objetos se tornam. Dessa forma, não era necessário nem pesquisar, pois os candidatos a lugar mais frio do Sistema Solar seriam a Nuvem de Oort (um grupo de objetos gelados entre 2 mil a 100 mil Unidades Astronômicas do Sol), o planeta-anão Plutão ou o planeta Netuno.
No caso de Netuno, tivemos uma surpresa ao descobrir que o planeta, que fica a 4,8 bilhões de quilômetros do Sol, não é mais frio que Urano, que está 1,6 bilhão de quilômetros mais perto da nossa estrela. Embora o oitavo planeta do Sistema Solar registre temperatura de -214°C, Urano bateu esse recorde, chegando a -224°C. O motivo pode ter sido a colisão com um grande objeto espacial há bilhões de anos que inclinou o eixo de rotação do planeta em quase 98 graus, ou seja, ele gira de lado em relação ao Sol.
Em 2009, fomos surpreendidos mais uma vez, agora com dados medidos pelo Orbitador Lunar Reconnaissance da Nasa (LRO), uma nave espacial robótica que, até hoje, mapeia a superfície lunar em alta resolução e coleta dados.
Avaliando a radiação térmica emitida pela superfície da Lua, o radiômetro Diviner da sonda registrou uma temperatura de -248°C dentro da cratera Hermite perto do polo norte lunar. estabelecendo um novo recorde para o lugar mais frio conhecido em nosso Sistema Solar.
Para se ter uma ideia, a temperatura da superfície de Plutão é avaliada pela Nasa em cerca de -184°C. O LRO também detectou temperaturas em regiões extremamente frias no polo sul lunar. São crateras permanentemente sombreadas que foram medidas no auge da longa noite de inverno de quase seis meses terrestres.
Em uma palestra realizada durante a 53ª Conferência de Ciência Lunar e Planetária, em 2022, o estudante de pós-graduação Patrick O’Brien e seu orientador Shane Byrne, da Universidade do Arizona, propuseram que as crateras lunares “duplamente sombreadas” seriam de fato “os locais mais frios do Sistema Solar”.
Segundo os pesquisadores planetários, uma cratera duplamente sombreada é aquela “protegida não apenas da iluminação solar direta, mas também de fontes secundárias de aquecimento, como radiação solar refletida em áreas iluminadas próximas, bem como radiação térmica emitida por essas superfícies quentes”. Essas regiões podem ter ficado ao abrigo da iluminação solar por bilhões de anos.
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