No encontro histórico entre os líderes Vladimir Putin, da Rússia, e Kim Jong-un, da Coreia do Norte, realizado nesta quarta-feira, 19, em Pyongyang, foi assinado um pacto abrangente entre os dois países.
Para Kim, o acordo é “pacífico e defensivo”. Já Putin fez um alerta ao Ocidente quando ressaltou que o documento inclui assistência mútua em caso de agressão a qualquer uma das partes.
“O recado para o mundo e para o Ocidente é muito claro, existe um eixo de autocracias, regimes autoritários e teocráticos com Irã, China, Rússia, em que está inserida a Coreia do Norte”, afirma a Oeste Márcio Coimbra, CEO do Instituto Monitor da Democracia.
“Quando há esse encontro, essa aproximação midiática entre dois de seus representantes, isso mostra ao mundo que estes regimes estão plenamente alinhados.”
Putin revelou que os dois líderes abordaram diversos temas globais. Em meio à guerra da Rússia contra a Ucrânia, para anexar regiões do lado ucraniano, o presidente russo busca compensar o isolamento imposto por sanções dos países da Organização do Tratado do Atlântico Norte (Otan).
De acordo com o The Guardian, Putin afirmou que Moscou e Pyongyang estão alinhados na oposição às sanções.
E, ao se encontrarem, os dois governos também deixam claro que a transferência de tecnologia para armamento nuclear será a maneira mais contundente de dissuasão em relação ao Ocidente.
“Essa aproximação entre os dois ocorre exatamente porque a Coreia do Norte tem um programa nuclear muito desenvolvido e a Rússia possui armas nucleares e expertise para dar suporte”, diz Coimbra.
China tem interesse nesta aliança
A Coreia do Norte também tem funcionado como um alicerce para a Rússia, sufocada economicamente, alimentar seu poderio bélico. Os EUA acusaram a Coreia do Norte de fornecer “dezenas de mísseis balísticos e mais de 11 mil contêineres de munições à Rússia” para utilização na Ucrânia.
Putin mesmo salientou que a Rússia não descarta colaboração técnico-militar com a Coreia do Norte, conforme o documento assinado.
Enquanto isso, a China observa esta visita em uma posição de parceiro dos dois países. E como um outro contraponto ao Ocidente. Isto valeu críticas do secretário-geral da Otan, Jens Stoltenberg.
“Eles [a China] não podem continuar tendo relações comerciais normais com países na Europa e ao mesmo tempo alimentar a maior guerra que vimos na Europa desde a Segunda Guerra Mundial [a guerra na Ucrânia].”
Coimbra também ressalta a presença velada da China nesta movimentação. E acrescenta que a crise econômica na Rússia e na Coreia do Norte foi outro fator que motivou o fortalecimento da aliança.
“São dois países que atravessam uma dificuldade econômica muito grande, a Rússia por conta das sanções do Ocidente e a Coreia do Norte em razão do comunismo que dizimou a economia do país”, acrescenta o CEO do Instituto Monitor da Democracia.
“Os dois dialogam muito porque precisam de apoio mútuo e do apoio da China, não podemos nos esquecer que a China é o terceiro elemento central deste encontro.”
Neste sentido, Coimbra alerta para a posição estratégica da Coreia do Norte na Ásia, o que é mais um motivo para a aproximação russa.
“A Coreia do Norte está situada entre a China, o Japão e a Coreia do Sul”, lembra o professor. “Para a Rússia, ter uma presença e uma influência ali é altamente estratégico.”
Para a Coreia do Norte, o outrora isolamento quase absoluto começa a mudar para um alinhamento com o principal opositor do Ocidente. “É, portanto, um jogo de ganha-ganha para os dois lados.”
Apoio mútuo e elogios entre líderes
Na conversa, Kim Jong-un elogiou Putin, ao chamá-lo de “o amigo mais querido do povo coreano”. Ele acrescentou: “Neste momento, quando o mundo inteiro está prestando muita atenção em Pyongyang, onde a missão de amizade da Rússia chegou, estou com camaradas russos – nossos amigos e camaradas mais honestos.”
O site do Kremlin, relatou o Guardian, informou que o acordo prevê também cooperação nas áreas de saúde, educação médica e ciência.
Putin ainda aproveitou para reforçar a ligação entre os dois países, ao realçar valores que moviam a antiga União Soviética.
Participou, assim, de homenagem a soldados soviéticos que morreram na libertação da península coreana, então ocupada por forças japonesas, durante a Segunda Guerra.
A presença soviética, em seguida, foi determinante para o início da Guerra da Coreia (1950-1953), que provocou a divisão entre Coreia do Sul e Coreia do Norte.
Esta é a primeira visita de Putin à Coreia do Norte em 24 anos. Depois da passagem pela Coreia do Norte, o presidente russo seguirá para o Vietnã, com a mesma intenção de manter um eixo de defesa e de aliança internacional.