Dos agora 238 reféns em Gaza, depois da morte da soldado Noa Marciano, 32 são latinos. Acredita-se, e se espera, que eles estejam vivos.
Inscreveu-se na central em Tel-Aviv, que vai distribuindo as missões a cada dia. Ele viaja pelo país para dar suporte aos familiares, cuja maioria perdeu suas casas e teve de se mudar para cidades como Herzlia, Eilat e Tel-Aviv.
“Não sei explicar por que tomei essa decisão, senti que tinha de fazer isso, me tocou”, afirma. “Essas pessoas são como meus irmãos, precisam de ajuda e é importante que elas encontrem esse apoio. Muita gente, em meio a essa situação brutal, ainda perdeu sua casa e teve de sair da cidade.”
Gonzalez diz que centenas de milhares de pessoas fizeram o mesmo. Deixaram de lado seus afazeres para se dedicarem a ajudar os amigos e familiares a transitar por esse drama cujo fim é uma incógnita.
“Diria que pelo menos metade do país está engajada nisso”, destaca. “Meu objetivo é fazer o que é necessário para que o mundo não se esqueça dos reféns, o tempo passa, as pessoas vão voltando para suas vidas, para os seus trabalhos, para a família e eles ficam lá, presos. Não podemos deixar que fiquem esquecidos.”
Em outro, vai para o lado oposto do país para acompanhar uma entrevista de uma filha cuja mãe foi sequestrada.
A função dele é estar ao lado, acompanhar, ouvir, dar força, suprir as necessidades, chamando por atendimento psicológico, consultas médicas e outras questões.
“Hoje estive com um homem que teve o filho sequestrado”, conta o voluntário. “Ele estava sem ânimo para conversar, queria ficar só, deixei. O ânimo deles varia. Em um dia, estão animados, esperançosos. No outro, estão depressivos. Varia muito de momento a momento, de pessoa para pessoa.”
Em Israel há 22 anos, Gonzalez serviu no Exército, inclusive em operações na Faixa de Gaza. Entrou em esconderijos do Hamas, fez buscas, seguiu os rastros de terroristas.
Ele conta que viu exatamente o que se tem falado atualmente e do que, segundo diz, boa parte do mundo não quer saber.
“Vi eles usando escudos humanos, confirmei com meus próprios olhos como eles colocam arsenais em locais civis, senti as dificuldades em atacá-los porque eles não permitiam que os civis saíssem de seus lados”, observa.
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“Sinto pelos dois lados, de Israel e dos palestinos, para mim é doloroso ver qualquer criança sofrer. Se o Hamas não for contido agora, a humanidade inteira corre perigo.”
Como latino, Gonzalez está incrédulo em relação à posição de países como a Bolívia, o Chile (onde nasceu), a Colômbia e a Venezuela.
Todos têm reféns compatriotas sob o controle do Hamas. O grupo terrorista pode tê-los levado aos seus túneis escuros e apertados.
“Esses países não têm dado nenhum tipo de suporte para seus cidadãos, é impressionante”, ressalta. “É inacreditável. A Bolívia até cortou relações com Israel neste momento. Está sem embaixada, não há nenhum representante a quem as famílias do sequestrado possam recorrer.”
A postura do presidente do Brasil, Luiz Inácio Lula da Silva, que tem criticado Israel e não reconheceu o Hamas como grupo terrorista também tem causado uma péssima impressão entre os defensores dos direitos humanos em Israel, segundo Gonzalez.
“Somos todos latinos e de sangue quente”, lembra o chileno. “Somos apegados à família, aos amigos, às relações humanas. Cuidamos da mamãe, do papai, fazemos isso por hábito. Quando vejo um presidente com essa frieza em relação a um dos lados, dói no coração.”