O Partido dos Trabalhadores (PT) assinou uma resolução do Foro de São Paulo, em que reconhece a vitória eleitoral do ditador Nicolás Maduro e manifesta solidariedade ao regime venezuelano.
O documento foi formulado e divulgado durante uma reunião do grupo de partidos de esquerda, realizada no México, paralelamente à posse da esquerdista Claudia Sheinbaum, a nova presidente do país.
Em sete páginas, os partidos de esquerda criticam nominalmente todos os presidentes de centro ou centro direita da América Latina, como Daniel Noboa, Javier Milei e Luis Lacalle Pou, se insurgem contra o “imperialismo” dos Estados Unidos e elogiam as iniciativas do “Sul Global”, liderado pelas ditaduras da China e Rússia.
No trecho sobre Maduro e a ditadura venezuelana, os partidos esquerdistas apelam “ao respeito pelas instituições democráticas da Venezuela” e ao resultado das urnas, que “deram a vitória” a Maduro.
“Dadas as ações da extrema direita, torna-se imperativo que as nossas forças políticas apelem ao respeito pelas instituições democráticas da Venezuela e à autodeterminação do povo venezuelano em relação aos resultados eleitorais que deram a vitória ao Presidente Maduro”, escreveram os esquerdistas no documento com data de 24 de setembro.
E prosseguem, mencionando um evento da esquerda realizado na Venezuela em setembro: “Saudamos o recente Congresso Mundial contra o Fascismo, o Neofascismo e Expressões Similares, nos dias 10 e 11 de setembro em Caracas, bem como a criação da Internacional Antifascista. A realização desta atividade na Venezuela tem uma importância transcendental, devido à coordenação internacional e ao trabalho conjunto das forças de extrema direita para atacar os resultados das eleições presidenciais venezuelanas e a vitória do presidente Nicolás Maduro.”
As eleições na Venezuela
As eleições na Venezuela foram realizadas em 28 de julho e as atas que comprovariam a vitória de Maduro jamais foram apresentadas. Mesmo assim, tanto o órgão eleitoral — o Conselho Nacional Eleitoral (CNE) — quando o Tribunal Supremo da Venezuela proclamaram Maduro vencedor.
Antes das eleições, a principal adversária do regime, María Corina Machado, foi impedida de disputar a presidência, sob o argumento de que estava inelegível. Sua substituta, Corina Yoris, também foi rechaçada pela ditadura.
Mesmo assim, o candidato oposicionista, Edmundo González, liderou as pesquisas. Instituições independentes, como o Carter Center, dos EUA, e a Associated Press, que analisaram as atas recolhidas pela oposição, disseram que González venceu o pleito. Até agora, nenhum país democrático (salvo os governados por políticos de esquerda alinhados com Maduro) reconheceu a vitória de Maduro.
Também em julho, a Organização dos Estados Americanos (OEA) declarou que não reconhece o resultado da eleição na Venezuela, divulgado pelo CNE. Segundo um relatório da OEA, há sinais de que o regime manipulou os dados da contagem para beneficiar Maduro.
Depois das eleições, dezenas de protestos foram realizados e mais de 1,5 mil pessoas foram presas, inclusive adolescentes.
PT não comenta reconhecimento de vitória de Maduro
Mônica Valente, que ocupa o cargo de secretária-executiva do Foro e integra a Executiva Nacional do PT, participou do encontro. No entanto, o partido decidiu não divulgar amplamente o apoio à resolução pró-Maduro, temendo possíveis repercussões negativas nas eleições municipais. Uma fonte interna do partido confirmou essa preocupação à CNN.
Até o momento, a assessoria de Gleisi Hoffmann, presidente nacional do PT, ainda não se manifestou sobre o assunto.
Partido de Lula disse que eleições na Venezuela foram “democráticas”
Em julho deste ano, o partido de Lula afirmou, em nota divulgada, que as eleições na Venezuela foram “pacíficas, democráticas e soberanas”. O próprio presidente disse que o processo foi normal e tranquilo.
O pleito terminou sem a contagem total dos votos, e o Conselho Nacional Eleitoral (CNE) se negou a apresentar as atas necessárias para comprovar a idoneidade das eleições. No anúncio do resultado, o órgão apenas comunicou a vitória do ditador Nicolás Maduro.