Na Universidade Estadual do Piauí (Uespi), um projeto de extensão tem ganhado destaque ao propor um debate essencial para o futuro do Direito: o impacto da Inteligência Artificial na prática jurídica. Coordenado pelo professor Ítalo José, o projeto “Direito e Inteligência Artificial” se consolida como um espaço acadêmico e prático para refletir sobre as transformações tecnológicas que já estão redesenhando o sistema de Justiça.
Mais do que apenas estudar a tecnologia, a proposta busca entender como a IA está moldando — e será moldada — pelas normas jurídicas. “O projeto é uma ponte entre a sala de aula, a pesquisa de ponta e as demandas sociais. Queremos promover um diálogo crítico, interdisciplinar e responsável sobre o uso da IA no universo jurídico”, explica o professor Ítalo.
A iniciativa nasceu da percepção de uma lacuna na formação jurídica: apesar da presença crescente da IA em tribunais, escritórios de advocacia e órgãos públicos, ainda são raras as abordagens acadêmicas que preparem os estudantes para esse novo cenário. “Quando vemos notícias sobre algoritmos sendo utilizados em decisões judiciais, automação de tarefas jurídicas e dilemas éticos relacionados a vieses algorítmicos, percebemos que não basta reagir. É preciso se antecipar, compreender e influenciar esse processo de forma construtiva”, afirma o coordenador.
Entre os principais objetivos do projeto, estão: o aprofundamento dos aspectos legais, éticos e sociais da IA; a capacitação de estudantes e da comunidade jurídica; o incentivo ao debate público sobre temas emergentes — como responsabilidade civil de algoritmos, proteção de dados e regulação tecnológica — além da promoção da produção científica e do diálogo entre universidade e sociedade.
As atividades são variadas: grupos de estudo, oficinas práticas, seminários com especialistas, produção de conteúdos para redes sociais, análise de casos reais e acompanhamento de legislações nacionais e internacionais. Os encontros presenciais ocorrem todas as quintas-feiras, às 17h30, no campus Torquato Neto, em Teresina — e já há planos de expandir as ações para o formato híbrido.
Impacto na formação dos alunos
Os estudantes participantes já percebem os benefícios da iniciativa. Rikelme Oliveira, aluno do curso de Direito, destaca a motivação proporcionada pela experiência: “Quando o professor falou sobre o projeto, me animei na hora. É uma oportunidade de fazer algo diferente, que também agrega muito ao currículo”.
Ele também reflete sobre os impactos da IA na profissão: “A tecnologia já está sendo usada para otimizar o trabalho jurídico, como na revisão de documentos e análise de contratos. Isso facilita, mas também pode reduzir vagas de emprego. Um advogado pode preferir contratar uma IA para determinadas tarefas em vez de outro profissional”.
Apesar das incertezas, Rikelme reconhece os aspectos positivos: “A IA pode trazer benefícios, como o suporte à atuação dos advogados e o acesso à orientação jurídica. Mas também pode acirrar a saturação no mercado do Direito, algo que já preocupa muitos estudantes”.
Outro participante, Felipe Baruc, ingressou no projeto buscando compreender melhor a relação entre Direito e tecnologia. “Quis entender como essa interação acontece hoje e o que esperar no futuro. A IA deve ser vista como uma ferramenta, não como uma substituta. E isso exige preparo — tanto dos profissionais quanto do próprio sistema jurídico”, conclui.