quarta-feira, dezembro 18, 2024
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Professora escreve redação com tema da Fuvest 2025; leia modelo

Os mais de 28 mil candidatos que realizaram as provas da segunda fase da Fuvest 2025, vestibular da USP (Universidade de São Paulo), tiveram que escrever uma redação a partir do tema “As relações sociais por meio da solidariedade”, no domingo (15). Confira abaixo exemplo.

O assunto principal não gerou surpresa entre os professores ouvidos pela CNN, seguindo a tradição de “oscilar entre temas filosóficos e sociais”.

Maria Clara Martho Betti, coordenadora de redação do Poliedro Curso São Paulo, escreveu um modelo de redação, a pedido da reportagem, para mostrar aos alunos como poderia ser um bom texto. Confira:

Em maio de 2024, Eduardo Leite, governador do Rio Grande do Sul, veio a público pedir doações via Pix aos cidadãos brasileiros, as quais seriam usadas para ajudar os gaúchos atingidos pelas chuvas que devastaram o estado. Polêmico, o pedido de Eduardo evidencia que, em meio a crises, o governo, com recursos limitados, não basta para garantir a ordem social: a caridade popular faz-se essencial. Apesar da experiência gaúcha, a solidariedade é escassa nas relações cotidianas – marcadas pela desigualdade socioeconômica –, restringindo-se a situações excepcionais de crises humanitárias. Mesmo nessas ocasiões, porém, o espírito de fraternidade tende a ganhar espaço apenas quando apresenta o potencial de engajamento midiático e enaltecimento daqueles que o exibem.

Numa sociedade estruturalmente desigual, o cotidiano é marcado pela falta de solidariedade. Isso ocorre porque a discrepância de poder aquisitivo entre o topo e a base da pirâmide social impõe barreiras ao convívio entre classes distintas, que, em geral, não frequentam os mesmos espaços. Essa falta de convivência gera, por sua vez, indiferença: se o outro é desconhecido, não se sabe em que condições vive, quais desafios enfrenta, o que pode levar ao temor do que está apartado do indivíduo. Exemplo desse medo é a perseguição ao Padre Júlio Lancellotti, responsável por denunciar a aporofobia e a arquitetura hostil, que exclui pessoas em situação de rua dos centros urbanos. Defensor de minorias, o religioso passou a ser mal visto pela população por defender os pobres – cuja presença nas cidades é comumente vista como incômoda e perigosa. Em meio a tanta tensão, a apatia e o medo gerados pela desigualdade sobrepõem-se à solidariedade.

Há ocasiões, ainda, em que a caridade pode, perversamente, lourear quem a pratica e nutrir desigualdades, em vez de saná-las. Marcada pela midiatização das relações, a lógica de espetacularização nas redes sociais modela as ações dos sujeitos, sendo mais importante aparentar bondade do que fazer o bem de forma genuína e altruísta. Na realidade, o que se busca é a visibilidade, uma vez que a exposição engaja, viraliza, monetiza. Por isso, atos solidários se tornam conteúdo e mercadoria, principalmente quando associados a catástrofes amplamente noticiadas – o que tende a gerar alcance e engajamento. Não surpreendem, então, as alegações do influenciador Nego Di, que mentiu ter doado um milhão de reais ao estado gaúcho. O caso, longe de ser isolado, ilustra um fenômeno mais amplo na atualidade: mesmo em situações extremas, a fraternidade só tem valor se é exibida, servindo aos interesses de quem a pratica sem contribuir para a resolução de relações sociais desiguais.

Fica claro, portanto, que a desigualdade social dificulta o surgimento espontâneo da solidariedade no cotidiano. Diante disso, em vez de permitir a união entre indivíduos para o enfrentamento de crises, a caridade perde seu caráter altruísta para servir a interesses individuais e, dessa forma, perpetua relações sociais desiguais mediadas não pela solidariedade, mas pela indiferença e pela ambição.

O exame do primeiro dia, no domingo (15), ainda contou com 10 perguntas dissertativas e foi marcado pelo “equilíbrio entre as questões de literatura e as de língua portuguesa”, segundo a Fuvest.

A prova abordou cinco das nove obras de leitura obrigatória: “Romanceiro da Inconfidência”, de Cecília Meireles; “Quincas Borba”, de Machado de Assis; “Os Ratos”, de Dyonélio Machado; “Nós Matamos o Cão Tinhoso!”, de Luís Bernardo Honwana; e “Água Funda”, de Ruth Guimarães.

Os avaliadores também propuseram discussões atuais, como uma crônica de Ruy Castro sobre os neologismos futebolísticos e trecho de entrevista do escritor e ativista Ailton Krenak sobre o conceito de necropolítica.

A prova também adicionou uma pergunta sobre a relação entre o uso da inteligência artificial no ensino e sua aplicação no mundo do trabalho e uma sobre a reciclagem.

O segundo dia de avaliações, realizado na segunda (16), cobrou questões atuais, como composição química das medalhas olímpicas e a Nova Rota da Seda. Algumas perguntas trouxeram fatos ocorridos neste ano, como a proibição da venda de mariscos, na Baixada Santista, e o surto de mpox.

Os resultados oficiais do vestibular serão divulgados na página da Fuvest no dia 24 de janeiro de 2025. Serão disponibilizadas duas listas de chamada para matrícula, além das listas de espera.

O total de vagas disponíveis na USP é de 8.147, sendo 4.888 delas para ampla concorrência; 2.053 para pessoas egressas de escolas públicas; e 1.206 para pessoas egressas de escolas públicas autodeclaradas negras, de cor preta ou parda, e indígenas.

Via CNN

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