Produtores rurais do interior de São Paulo suspeitam que os incêndios dos últimos dias tenham sido provocados de forma criminosa. Representantes do setor ouvidos pelo jornal Folha de S.Paulo dizem que a forma como as queimadas começaram aponta para uma ação coordenada.
O diretor-executivo da Associação dos Plantadores de Cana do Oeste do Estado de São Paulo (Canaoeste), Almir Torcato, afirma que, apesar das condições climáticas favoráveis a incêndios, o fogo começou em pontos separados, o que pode sugerir intervenção humana.
“Nós, como instituição, não temos prova suficiente para falar que foi algo coordenado”, disse à reportagem. “Mas os fatos por si só não são coerentes para ter sido exclusivamente natural, considerando as imagens de satélite e tudo mais.”
Segundo Torcato, o setor já não utiliza queimadas na produção há décadas, prática comum antes da mecanização da colheita da cana-de-açúcar.
Essa visão é compartilhada pelo produtor Marco Guidi, que disse nunca ter visto incêndios ocorrerem dessa forma.
“Os focos iniciaram simultaneamente, em pontos distantes um do outro, dificultando a presença das brigadas”, afirmou Guidi à Folha. “A grande maioria começou no meio do dia, quando as temperaturas e o vento dificultam a extinção do fogo. Tudo leva a crer que foi uma ação criminosa e bem articulada.”
A Associação Brasileira do Agronegócio (Abag) destacou que essa é uma questão antiga para o setor. Em 2022, a entidade entregou um ofício à Secretaria de Segurança do Estado no qual pediu investigações sobre suspeitas de incêndios criminosos.
Empresas do setor, como a Raízen, também acreditam na natureza criminosa dos incêndios, agravados pela longa estiagem, baixa umidade, ventos e altas temperaturas.
A Grupo Moreno, companhia agrícola, publicou uma nota nas redes sociais oferecendo uma recompensa de R$ 30 mil por informações que levem à identificação de responsáveis por incêndios criminosos em áreas usadas para cultivo de cana ou vegetação nativa.
PF abre inquéritos para investigar incêndios em SP
A Polícia Federal abriu dois inquéritos neste domingo, 25, para investigar suspeitas de ação criminosa nos incêndios que atingem o Estado de São Paulo.
A polícia militar de São Paulo já prendeu duas pessoas suspeitas de atear fogo no interior paulista. Em Batatais, um homem de 41 anos foi flagrado incediando uma mata seca no bairro de Araras.
Em São José do Rio Preto, um idoso de 76 anos é suspeito de queimar lixo. Outras pessoas estão sendo investigadas em vários municípios do Estado.