O ministro Alexandre de Moraes, do Supremo Tribunal Federal (STF), disse, nesta quinta-feira (7), que os sistemas de prevenção à corrupção no país falharam e que o combate a esses casos “acabou criando um vácuo muito grande” que levou à polarização e ao ódio.
Conforme o ministro, o vácuo possibilitou o surgimento de uma “extrema direita com sangue nos olhos e antidemocrática”, não só do Brasil, “mas no Brasil principalmente”.
O magistrado também afirmou que é preciso “aprender” com os erros das instituições. “Temos que aprender com nossos erros institucionais e nos perguntar por que chegamos a esse ponto, ao ponto em que a corrupção, na verdade, perdeu a vergonha na cara naquele momento do mundo político”.
A declaração foi feita em evento organizado pelo Ministério Público Federal (MPF) em Brasília sobre o Dia Internacional de Combate à Corrupção.
Todos os sistemas preventivos falharam. O combate à corrupção acabou criando um vácuo muito grande. E esse vácuo gerou uma situação, uma polarização, um ódio, e o surgimento, não só no Brasil, mas no Brasil principalmente, de uma extrema direita com sangue nos olhos e antidemocrática também
Alexandre de Moraes
Moraes chamou a corrupção de “chaga que corrói” a democracia, “como vimos nesses últimos tempos com abalo sísmico no mundo político, que teve suas consequências”.
“Talvez realmente não houvesse o que fazer depois que se descobriu a corrupção, mas sim antes, preventivamente”, afirmou.
Moraes também disse que o Ministério Público pode investigar os casos relacionados ao crime organizado, tráfico de drogas e milícias da mesma forma que fez com a corrupção política.
“É o momento de o Ministério Público inovar, avançar e inovar da mesma forma que vem fazendo nesses 20 anos em relação à corrupção, ao combate à corrupção política, mas inovar também em relação à corrupção que gera o crime organizado. Eu repito isso há muito tempo. Entendo que tanto o poder Judiciário quanto o Ministério Público ainda estão devendo muito a isso.”
Para o ministro, o desafio dos ministérios públicos estaduais e federal é o combate ao crime organizado e que, para isso, é preciso enfrentar também a ação ilícita dentro do Estado.
Só se combate a criminalidade organizada se nós cortarmos o cordão umbilical entre crime organizado e o crime institucionalizado pela corrupção nos órgãos de Estado
Alexandre de Moraes
“Vai continuar existindo crime, a luta do bem contra o mal. Não existe Batman se não existisse o Coringa. Não existe Ministério Público se não existir o crime. Mas, sempre deve haver um equilíbrio, e a corrupção permite à criminalidade organizadas desequilibrar isso”.
O ministro deu como exemplo o acesso de armamentos em determinados locais.
“Como é possível tantos fuzis no alto de um morro no Rio de Janeiro? Se não houve corrupção, é algo absolutamente impossível”, disse.
Ele defendeu usar os mesmos mecanismos adotados no combate à corrupção “que se tornava sistêmica em empresas estatais” para enfrentar crimes como o tráfico de drogas, as milícias e o jogo do bicho.
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