O turismo é um dos setores mais importantes dos Estados Unidos. Para se ter uma ideia, o setor contribuiu com US$ 2,36 trilhões para o Produto Interno Bruto (PIB) americano em 2023, superando os valores pré-pandemia, conforme a plataforma Statista. Um emprego é gerado no país a cada 40 visitas internacionais, segundo o ITA (Administração de Comércio Internacional).
Porém, esse cenário pode mudar em decorrência das tarifas de importação — ou seja, a guerra comercial — que o presidente Donald Trump anunciou. A China, o México e o Canadá, os maiores compradores de produtos norte-americanos, são alguns dos principais alvos.
Segundo especialistas, o tarifaço, a atual política de controle migratório e o reposicionamento dos EUA como um país imprevisível podem afetar o turismo no país. Empresas de serviços financeiros já projetaram um enfraquecimento das viagens e divulgaram previsões fracas de lucros das companhias do setor.
Setor aéreo nos EUA
Diante de incertezas sobre as políticas tarifárias — se elas vão ou não permanecer —, sinais dessa apreensão no setor aéreo começaram a ser vistos. Isso acontece após as companhias se beneficiarem, há dois meses, de forte demanda e preços sólidos nas passagens americanas.
Em abril, a American Airlines cancelou a previsão de lucro para 2025 devido às incertezas do mercado. No mesmo mês, a Delta Air Lines divulgou a previsão de um lucro menor do que o esperado para o trimestre atual, dizendo que a demanda por viagens “em grande parte paralisou”.
Mecanismos econômicos aplicados no curto prazo podem mitigar os danos da política tarifária para o turismo nos EUA, segundo Glauber Santos, economista e coordenador da pós-graduação em turismo da Universidade de São Paulo (USP).
Para ele, a perspectiva é de que as companhias aéreas comecem a ter uma redução na taxa de ocupação e, com a desvalorização do dólar, diminuam o preço das passagens para os EUA. “Isso tende a amortecer um pouco a queda, mas é um elemento de curtíssimo prazo“, pontua Glauber.
Por outro lado, Guilherme Dietze, economista e presidente do Conselho de Turismo da FecomercioSP, ressalta que a tendência de inflação americana com a guerra comercial deve afetar os preços das passagens a longo prazo. “[O tarifaço] Deve trazer um custo para as companhias aéreas que deve ser repassado ao consumidor”, diz o economista.
Para Glauber, as empresas ainda deverão diminuir a quantidade de voos para os EUA e, eventualmente, ampliar a demanda para os destinos concorrentes. A desvalorização do dólar também deve reduzir o turismo internacional dos norte-americanos e, com isso, intensificar os voos domésticos — que já é forte no país.
“Contudo, essa substituição não é perfeita e, portanto, o doméstico não deve compensar as perdas no emissivo [de americanos que viajam internacionalmente] e no receptivo”, explica o coordenador.
E o setor aéreo do Brasil?
Destinos nos EUA são um dos mais populares entre os brasileiros. Um estudo da IATA (Associação Internacional de Transporte Aéreo) apontou em um ranking que Miami (4º lugar), Orlando (5º) e Nova York (6º) foram os locais mais procurados pelos viajantes do Brasil em 2023.
Como as tarifas para o Brasil são de 10% sobre produtos nacionais, o país é um dos menos afetados pela política norte-americana. Para Glauber, se a guerra comercial continuar, a previsão é de que as companhias aéreas brasileiras reduzam os preços em um primeiro momento e, depois, diminuam a oferta de voos para os EUA a médio prazo.
Ele também diz que a política de Trump não deve ter “muito efeito” sobre a demanda de brasileiros por viagens ao exterior, que podem visitar outros lugares, como Canadá e Europa.
“Parece que as tarifas do Trump não estão gerando e não têm perspectivas de gerar reações, por exemplo, nas tarifas entre Europa e Brasil ou outros pares de países do mundo. De modo que esse efeito deve ficar bastante contido nos EUA, deixando mais marcado e evidente o favorecimento dos destinos concorrentes do país norte-americano”, explica.
Já Dietze acredita que o brasileiro não deve reduzir a demanda do turismo de negócios e de lazer para os EUA. Ele diz que a procura intensa de visita ao país envolve viagens para diversão, participação em feiras e de intercambistas que voltam ao Brasil por um período e, depois, retornam para a nação norte-americana.
“Não vejo como impacto essa redução de turistas brasileiros nos EUA. O que impactaria seria um câmbio muito desfavorável, o que não é o caso: a gente está vendo o câmbio mais comportado de R$ 5,60, abaixo dos R$ 6,30 que vimos no final do ano passado. Isso vai estimulando os turistas brasileiros a irem aos EUA”, opina.
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*Com informações de Siddarth S, da Reuters, em Bengaluru