sexta-feira, novembro 22, 2024
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Por que passar férias no mar Mediterrâneo pode ser prejudicial à saúde?

O Mar Mediterrâneo pode trazer a ideia de férias luxuosas na praia, deliciosas refeições de frutos-do-mar e extensões intermináveis de areia, mas essa água está se tornando cada vez mais tóxica. Mais de 87% do Mar Mediterrâneo, que se estende do Oceano Atlântico até a África, Europa e Ásia, está poluído com microplásticos e outros poluentes, incluindo metais tóxicos e produtos químicos industriais, de acordo com um relatório de julho de 2024, do World Wide Fund for Nature (WWF).

Globalmente, a poluição da água está ligada a 1,4 milhão de mortes prematuras, significando problemas para os 150 milhões de pessoas que vivem ao longo da costa mediterrânea. Todos os anos, cerca de 270 milhões de turistas são atraídos por essas águas.

O Mar Mediterrâneo banha 46 mil quilômetros de costa em 22 países, muitos com diferentes padrões e práticas ambientais.

O Egito, que contribui com 0,25 milhão de toneladas de plástico no Mediterrâneo, é o maior infrator, segundo o grupo. Depois dele, vem a Turquia, que contribui com 0,11 milhão de toneladas; e a Itália, com 0,04 milhão de toneladas de plástico para o mar — tudo faz parte dos 1,9 milhão de fragmentos de plástico por metro quadrado.

Especialistas consultados para o relatório da WWF dizem que os humanos podem ingerir microplásticos de ambientes aquáticos por meio do consumo de organismos marinhos e da água (tanto potável quanto engarrafada).

“Mais de 840 microplásticos podem ser ingeridos por ano com o consumo de três principais espécies de peixes comerciais (robalo e dois tipos de cavala), e até 11 mil com o alto consumo de bivalves (por exemplo, mexilhões, amêijoas, etc)”, afirma o relatório, observando haver menos contaminação ao comer camarão.

“Se também contarmos a exposição pelo ar e alimentos que não vêm de ambientes aquáticos, podemos ingerir mais de 100 mil microplásticos todos os dias.”

Impactos da poluição

Na cidade costeira de Ostia, perto de Roma, Pierluigi Capozzi observa o mar de seu restaurante, Mediterrâneo. “Talvez há 50 anos, as pessoas não sabiam o que sabemos agora sobre poluição e plástico”, disse à CNN. “Mas vejo jovens jogando garrafas plásticas no mar, jogando lixo no chão, cigarros, lixo.”

Ele ainda vê um ponto positivo. Há uma década, todas as manhãs a areia em frente ao seu restaurante à beira-mar estava coberta de produtos químicos dos navios cargueiros que atravessam as rotas de navegação visíveis da costa. “Graças a uma melhor regulamentação, essa poluição química acabou agora”, diz ele.

O Mediterrâneo é um dos principais reservatórios de diversidade marinha e costeira do mundo, conforme a Med Sea Alliance, que trabalha para defender a indústria pesqueira por meio de melhores práticas.

Eles dizem que a poluição traz impactos negativos à flora e fauna do mar. Apesar de cobrir apenas 0,7% da área oceânica mundial, o mar possui 7,5% da fauna marinha mundial e 18% da flora marinha mundial.

A pesca é uma indústria de €4,6 bilhões (cerca de R$ 27,8 bilhões) no Mediterrâneo. A poluição da água impacta o sustento das 180 mil pessoas que dependem da pesca para sua subsistência, diz o WWF.

O Programa Ambiental da ONU diz que as capturas marítimas no Mediterrâneo caíram 34% nos últimos 50 anos, devido à sobrepesca e aos plásticos na água.

“Cerca de 730 toneladas de resíduos plásticos acabam diariamente no Mar Mediterrâneo”, diz o grupo. “Os resíduos plásticos representam de 95 a 100% dos resíduos marinhos flutuantes e 50% dos detritos no fundo do mar. Em tonelagem, o plástico pode superar os estoques de peixes.”

Quais são as consequências para vida marinha?

Um estudo de 2023 do Instituto de Conservação Marinha do Arquipélago, na Grécia, examinou 25 animais marinhos, incluindo oito golfinhos, dois focas-monge e 15 tartarugas marinhas, e encontrou poluentes microplásticos neles todos.

“Em particular, entre outros tipos de plástico, um total de 10.639 fibras de microplástico foram detectadas no trato gastrointestinal dos mamíferos marinhos e tartarugas mortos.”

Raffaele Marfella, professor de ciência avançada na Universidade Vanvitelli em Nápoles, afirma que a poluição por plástico é um problema global urgente que vai além dos danos ao meio ambiente.

Citando um artigo recente no New England Journal of Medicine, ele destaca a relação entre microplásticos e nanoplásticos, conhecidos como MNPs, e certas doenças cardiovasculares.

“O conhecimento atual sugere que os MNPs podem entrar na corrente sanguínea por ingestão ou inalação, desencadeando inflamação e estresse oxidativo. Com o tempo, a exposição crônica aos MNPs pode acelerar a progressão da aterosclerose e aumentar a probabilidade de eventos cardiovasculares.”

A poluição por plástico é considerada um poluente “permanente”, o que significa que, uma vez que se torna invasiva, permanece para sempre.

O frequentador de praia Francesco Pacelli disse à CNN que fica triste toda vez que vê pessoas deixando lixo e garrafas na beira da água.

“É muito importante manter uma praia limpa, a água fica mais bonita,” ele diz. “Na minha opinião, é muito importante, especialmente para os peixes, animais com todo o plástico que flutua ao redor.”

Se os humanos não fizerem sua parte para parar a praga da poluição da água, as férias dos sonhos no Mediterrâneo podem logo se tornar um pesadelo.

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Via CNN

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