Para muitas pessoas, o dia só começa mesmo depois da primeira xícara de café. E aí vem a segunda, a terceira, a quarta, a quinta… Pois é, o brasileiro gosta bastante desse grão! Mas a gente não é bom só em consumir. Somos também o maior produtor de café do mundo, responsáveis por algo entre 35% a 40% das sacas, dependendo da safra.
Faça em casa ou tome na rua, você já deve ter percebido que o nosso sagrado cafezinho ficou mais caro nos últimos tempos. E não somente no Brasil, mas no mundo todo. Já existem relatos de uma xícara de café sendo vendida a quase 5 libras (R$ 36) em Londres. Ou a 7 dólares (R$ 38) em Nova York.
Leia mais
A britânica BBC ouviu alguns especialistas na área e eles afirmaram que o custo dos grãos não torrados está em um dos maiores níveis da história. E a explicação por isso passa por fatores econômicos e climáticos.
Para você ter uma ideia, de acordo com a Organização Internacional do Café, os estoques do produto estão “quase esgotados” atualmente. E o início dessa crise ocorreu no Brasil há alguns anos.
O Brasil como parte do problema
- Como já dissemos, nosso país é o principal produtor e exportador global de café.
- Em 2021, uma geada atípica atingiu algumas regiões de Minas Gerais, São Paulo e Paraná.
- São estados produtores do grão.
- Minas, por exemplo, responde por mais de 50% das plantações de café.
- A geada de 2021 estragou vários pés de café e a falta de chuva registrada nos anos seguintes também atrapalhou bastante a agricultura.
- Diante disso, o que o mercado global fez?
- Recorreu a outros países produtores do grão, principalmente o Vietnã, que é o segundo maior, só que bem atrás do Brasil.
- O problema é que as mudanças climáticas também atingem a nação asiática, que sofreu com uma seca severa nesse período.
- A falta de chuvas frequente fez com que os agricultores de lá resolvessem apostar em outro tipo de plantação.
O Vietnã e a fruta fedida
Nesse meio tempo, os vietnamitas decidiram substituir as plantações de café pelas plantações (mais resistentes) de uma fruta chamada durian.
Podemos dizer que a durian é, no mínimo, polêmica. Ela é bastante popular no Leste Asiático, mas divide opiniões nesses países. É do tipo ame ou odeie. Isso por causa do seu cheiro forte. Alguns dizem que se parece com chulé – outros com vômito. Os defensores da durian, porém, afirmam que você se acostuma com o odor. E o sabor diferente e cativante faz valer a pena.
Fato é que alguns lugares, como Tailândia, Japão, Cingapura e Hong Kong, proibiram o consumo da fruta no transporte público. Na China, no entanto, esse consumo é liberado. Os chineses, aliás, vem tomando cada vez mais gosto pelo alimento polêmico. A ponto de o Vietnã apostar tanto assim na durian.
As exportações para a China dessa fruta cultivada no Vietnã quase dobraram entre 2023 e 2024. Alguns agricultores estimam que a safra seja cinco vezes mais lucrativa do que o café. Num movimento contrário, as exportações de café caíram 50% em junho em comparação com o mesmo período do ano anterior.
Exportadores na Colômbia, Etiópia, Peru e Uganda até tentaram suprir essa lacuna, mas não produziram o suficiente para aliviar essa mudança ocorrida na Ásia.
O resultado disso tudo são os estoque no limite e a alta do preço do grão.
O Brasil como parte da solução
Mesmo com esse fenômeno ocorrido no Vietnã, o mercado global de café ainda tem uma esperança: o Brasil. A próxima safra de primavera aqui no país deve definir o rumo que os preços vão tomar no médio prazo.
Se a safra for boa, os estoques aumentam e os valores para os consumidores tendem a cair. Só que uma safra boa depende da chuva – e, como todos nós sabemos, ela anda em falta em várias regiões.
Se a chuva cair nas próximas semanas, as plantas devem florescer saudáveis. Agora, se enfrentarmos mais períodos de seca, aí não tem jeito: o café continuará caro.
E a culpa não é do Brasil, do Vietnã ou da durian. Desde 2021 e aquela geada, pode colocar na conta das mudanças climáticas.
As informações são da BBC.