Marte, o vizinho vermelho da Terra, tem calotas polares brilhantes que são visíveis até mesmo através de pequenos telescópios. Elas se expandem e contraem com as estações e são compostas principalmente de dióxido de carbono congelado, diferente das calotas polares do nosso planeta, formadas por água congelada.
Um estudo liderado pelo Instituto de Ciência Planetária dos EUA traz novas perspectivas sobre as calotas polares marcianas. Publicada recentemente na revista Icarus, a pesquisa se baseou em observações feitas pelo Orbitador de Reconhecimento de Marte (MRO), da NASA.
Mais especificamente, em imagens obtidas pelo instrumento HiRISE (sigla em inglês para “Experiência em imagens de alta resolução”), a bordo da sonda, que revelaram detalhes inéditos das regiões polares de Marte.
O que você vai ler aqui:
- As calotas polares de Marte são compostas por dióxido de carbono congelado, não água – diferente da Terra;
- Cientistas usaram imagens da sonda MRO, da NASA, para analisar o dióxido de carbono nas calotas marcianas;
- Eles descobriram que a órbita excêntrica de Marte causa variação nas estações e afeta o comportamento do dióxido de carbono;
- Enquanto o hemisfério sul tem climas mais frios e favorece o acúmulo de gelo seco, o norte é impactado por tempestades de poeira;
- O relevo de Marte influencia a formação das “aranhas” na superfície e a formação de gelo nos polos.
Estudo analisou dióxido de carbono presente nos polos de Marte
De acordo com um comunicado, o estudo focou na circulação do dióxido de carbono entre as calotas polares e a atmosfera do planeta. Segundo a autora principal, Candice Hansen, sua equipe buscou entender as razões para as diferenças no comportamento do dióxido de carbono entre os polos marcianos.
A explicação está na órbita excêntrica de Marte. Diferente da órbita quase circular da Terra, a de Marte é mais elíptica, o que faz com que o planeta leve cerca de dois anos terrestres para completar uma volta ao redor do Sol. Essa órbita afeta as estações marcianas, que têm duração extremamente desigual.
No hemisfério sul, os períodos de outono e inverno são mais longos e mais frios, já que Marte está mais distante do Sol durante essas estações. No hemisfério norte, as estações de primavera e verão são as mais longas.
A elevação do terreno também impacta o clima. O hemisfério sul é mais elevado, com uma pressão atmosférica menor e temperaturas mais baixas, o que favorece o acúmulo de gelo de dióxido de carbono. Anualmente, cerca de 25% da atmosfera de Marte congela como gelo seco.
“Então, em última análise, o outono e o inverno do sul trazem a pressão atmosférica mais congelante e mais baixa. Esses são os principais impulsionadores das diferenças no comportamento sazonal do dióxido de carbono entre os hemisférios”, explica Hansen, complementando que, no hemisfério norte, o inverno é mais ameno devido às tempestades de poeira. “Essas tempestades, uma característica sazonal de Marte, afetam a dinâmica das calotas polares”.
O relevo marciano ainda influencia como o dióxido de carbono afeta o terreno em cada polo. No polo sul, o terreno é plano, o que facilita a ação dos ventos fortes, espalhando partículas.
As “aranhas marcianas”
No outono, uma camada de gelo de dióxido de carbono se acumula e, ao longo do inverno, se torna mais espessa e translúcida. Quando o Sol volta a aquecer a camada de gelo na primavera, o dióxido de carbono sublima, criando pressão que provoca rupturas na superfície do gelo.
Essas rupturas formam as “aranhas marcianas“, estruturas que aparecem quando o gás que está escapando carrega poeira, criando ventos de detritos em forma de leque.
No polo norte, o terreno é diferente. As dunas de areia interferem no processo de sublimação. Elas criam pontos fracos no gelo, mas a areia das dunas suaviza os ventos, impedindo a formação de aranhas marcianas.
As diferenças entre as calotas polares de Marte oferecem informações valiosas sobre o clima e a geologia do planeta. Embora ele já não seja tão geologicamente ativo quanto no passado, ainda há mudanças em sua superfície.