Por Raphaël Lima
O que está acontecendo na Geórgia nos últimos dias é um aviso sobre o que pode ser o rumo da censura no Brasil caso as coisas continuem na direção que estão.
Não é a Geórgia o estado dos EUA, e sim o país Geórgia, na fronteira com a Rússia, no Cáucaso.
Um partido pró-Putin conseguiu uma grande representação no Parlamento e está tentando pela segunda vez aprovar uma lei que dará amplos poderes para perseguir opositores.
A “Lei Russa“, como foi apelidada, obriga que qualquer organização que receba mais de 20% de seu financiamento do exterior se registre como “Entidade trabalhando para os interesses de outro país”.
Pior, caso o Ministério da Justiça decida, ou caso uma denúncia seja feita, mesmo que anônima, organizações e suas lideranças podem ser investigadas.
Seus participantes podem ser monitorados e grampeados, suas contas abertas e varridas, e suas atividades investigadas e expostas. Isso pode incluir a mídia, organizações que combatem corrupção, e ativistas de todos os tipos.
Assim, qualquer organização que descobrisse algum escândalo de corrupção poderia ser investigada e perseguida.
Qualquer organização promovendo liberdade, livre-mercado, uma aproximação com a Europa e o mundo livre, ou qualquer coisa que incomode os interesses da Rússia ou de Vladimir Putin, pode ser devassada.
População da Geórgia manifestou contra a censura
Tão grave é a ameaça que em torno de 20% a 30% da população da capital georgiana, Tblisi, saiu para protestar na semana passada e no último domingo, debaixo de chuva torrencial.
Com em torno de um milhão de habitantes, a capital foi tomada por luzes e gritos contra a lei autoritária.
Para termos um senso de proporção, os protestos na Avenida Paulista em 2016 pelo impeachment de Dilma atraíram em torno de 3 milhões de pessoas, também em torno de 25% da população da capital paulista.
A Duma, o parlamento russo, aprova a lei. Não é surpresa, a Rússia tem uma versão extremamente similar em vigor em seu solo.
A lei chega num momento onde 80% da população da Geórgia defende a entrada na União Europeia.
Apesar de seus defeitos, a UE é uma enorme proteção contra as forças armadas russas, o que é extremamente relevante já que a Geórgia já foi invadida em 2008.
O motivo oficial foi a desculpa padrão de Putin: estão oprimindo russos.
A realidade é que como o país começou a se afastar da influência do Kremlin e se tornar liberal, uma intervenção foi inventada para intimidar e trazer o país de volta ao controle autoritário russo.
Os autoritários não podem permitir que a liberdade crie raízes.
Onde ela existe, sua luz de prosperidade atrai mentes e pés, e com isso expõe o atraso dos países autoritários, revoltando sua população, que pode com isso se sentir inspirada a derrubar seus ditadores.
Brasil pode ser Geórgia de amanhã
Aqueles que amam e carregam a tocha da liberdade precisam se unir e prestar solidariedade onde quer que sejam atacados, pois nossos inimigos são numerosos, poderosos e sem qualquer escrúpulo.
Uma comissão parlamentar nos EUA expôs a censura e perseguição contra opositores no Brasil, para avisar os americanos de que os abusos cometidos por Biden e seu governo podem tomar rumos ainda mais graves, como aqueles tomados aqui.
Para eles, o Brasil hoje pode ser os EUA de amanhã. E a Geórgia de hoje pode ser o Brasil de amanhã.