A Bacia do Rio Pardo, com extensão de 264 km, é um importante recurso natural do Estado de São Paulo. Suas águas atravessam 20 municípios, desde Botucatu até Ourinhos, e fornecem abastecimento, energia e irrigação para a agricultura, indústrias e pesca.
Contudo, no fim do século passado, a sustentabilidade não era uma preocupação, e a pesca quase desapareceu por causa da poluição.
De acordo com o jornal O Estado de S. Paulo, um grupo de amigos de Santa Cruz do Rio Pardo, liderado pelo funcionário público Carlos Cavalcchuki, fundou a ONG Rio Pardo Vivo em 2008 para melhorar as condições do rio.
Hoje, o cenário é outro. Os peixes retornaram e a pesca — seja esportiva, comercial ou de subsistência — está ativa.
A ONG lançou o Projeto Cardume, que atingiu a marca de 3 milhões de peixes soltos no Rio Pardo em 2024, com uma média anual de 200 mil. Espécies como dourados, piaparas, curimbatás, pacu-guaçu e lambaris foram reintroduzidas. Estudantes de escolas locais participam das solturas.
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Em 2023, o projeto foi finalista do Prêmio ANA, da Agência Nacional das Águas, um dos mais renomados do Brasil. “Esse é um exemplo de como a ação conjunta da sociedade e do poder público pode fazer a diferença na recuperação de um rio degradado”, disse Cavalcchuki. “Com a continuidade do projeto e a conscientização da população, o Rio Pardo poderá voltar a ser um rio próspero e cheio de vida.”
Rio Pardo tem pescas esportivas
José Ricardo Marcolino, funcionário público e pescador desde os 15 anos, vivenciou as mudanças no Rio Pardo. Antes, a pesca era escassa; hoje, ele pega tantos peixes que não consegue contar.
“Ninguém acreditou em mim, quando peguei meu primeiro dourado no Rio, em 2010, ainda mais que ele escapou”, contou Marcolino. “De lá para cá, foram quase 20 dourados, um deles com 7 kg.”
A pesca esportiva e de subsistência ganhou força e permitiu que pescadores locais voltem a depender do rio para seu sustento. João Paulo Figueira, gerente de Desenvolvimento Sustentável da empresa Special Dog, apoia a Rio Pardo Vivo desde o primeiro abaixo-assinado contra novas hidrelétricas.
“A ONG acaba sensibilizando a comunidade e engajando os principais atores dessa transformação: iniciativa privada, gestão pública e terceiro setor”, disse Figueira ao Estadão. “O Rio Pardo é uma preciosidade e temos um carinho muito grande por ele, mas não depende só da nossa comunidade.”
Além de fornecer alevinos, a empresa mobiliza a comunidade, especialmente escolas. “Incentivamos a participação de crianças nesses momentos de soltura, para que elas se envolvam e cresçam com a consciência da preservação”, explicou Figueira.
O empresário, residente em Santa Cruz do Rio Pardo, observa uma mudança no modelo econômico da região. “Nesses anos, podemos dizer que passamos de parte do problema para parte da solução”, afirmou Figueira. “É uma mudança de consciência. E isso se reflete no nosso negócio, com uma nova percepção sobre o uso dos recursos hídricos.”
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A empresa economizou 600 milhões de litros de água nos últimos anos com práticas de reuso e captação de água da chuva. “Esse é um movimento que não para”, explicou Figueira. “Economizamos 7,5 milhões de litros por mês, e 38% de toda a água que utilizamos vem de fontes secundárias, reduzindo a captação dos mananciais.”
Edson Luís Piroli, professor da Universidade Estadual Paulista (Unesp), campus de Ourinhos, colabora com a ONG desde sua fundação. O docente fornece orientações técnicas e documentos.
Ele estuda o aumento da demanda por recursos hídricos na região por causa da atividade industrial, agricultura e geração de energia. A universidade busca envolver a população e gestores para estabelecer parâmetros de uso racional e compartilhado da bacia.
“A universidade fazendo pesquisa e gerando dados”, explicou Piroli. “A ONG fazendo divulgação e questionando ações que podem ser maléficas, e a comunidade agindo.”
O professor desenvolve estudos sobre a Bacia do Rio Pardo, que atualmente tem águas de “classe 2”, adequadas para banho e pesca, mas não potáveis.
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O Rio Pardo é um dos rios mais limpos do Estado de São Paulo. Ele nasce no oeste do Estado, próximo ao município de Pardinho, e percorre 264 km até desaguar no Paranapanema, que marca a divisa com o Paraná. Sua bacia, dividida em 476 microbacias, se estende por 4,8 milhões km².