Uma “maravilha da engenharia” que acabou em pedaços num ferro-velho. Em suma, essa é a história da Plataforma de Instrumentos Flutuantes (R/P FLIP, na sigla em inglês), projetada para pesquisa oceânica na era pós-Segunda-Guerra nos Estados Unidos.
Plataforma que era ‘maravilha da engenharia’ teve fim trágico
- A Plataforma de Instrumentos Flutuantes (R/P FLIP), uma “maravilha da engenharia” projetada para pesquisa oceânica pós-Segunda Guerra nos EUA, foi desativada em 2023 devido a cortes nos gastos governamentais após a pandemia de Covid-19 e a recessão econômica global;
- Com 108 metros de comprimento, a FLIP podia ser rebocada horizontalmente como uma embarcação e, ao chegar ao local designado, virava 90 graus para ficar na vertical, com mais de 90 metros submersos. Esse processo levava 20 minutos;
- Operada pela Oceanografia de Scripps, a FLIP foi usada por mais de 60 anos para pesquisas sobre fenômenos oceânicos e atmosféricos, incluindo acústica, por meio das quais ajudou a entender como ondas sonoras são influenciadas por variações no oceano e a profundidade dos mergulhos das baleias;
- Margaret Leinen, da Oceanografia de Scripps, celebrou a FLIP como uma construção importante para a exploração oceânica. Segundo ela, as descobertas feitas graças à plataforma ajudaram a estabelecer as bases para a ciência oceânica contemporânea.
A FLIP foi vítima de cortes nos gastos governamentais na esteira da pandemia de Covid-19 e da consequente recessão econômica global. Após algumas decisões financeiras, a Marinha dos EUA desligou a plataforma, desmembrada em 2023.
“Custaria cerca de US$ 8 milhões para tornar a FLIP utilizável por mais cinco ou dez anos, mas esse financiamento poderia ser melhor utilizado em outro lugar. Tivemos muitas ideias criativas, mas não havia inércia ou financiamento suficientes para mantê-la em operação”, disse Rob Sparrock, oficial de Programas do Escritório de Pesquisa Naval da Marinha dos EUA, em 2021, segundo a revista Sea Power.
Com 108 metros de comprimento, a FLIP era uma plataforma de pesquisa oceânica projetada para ser rebocada para o mar horizontalmente, como se fosse uma embarcação marítima.
Ao chegar no local designado, dava para acionar um comando por meio do qual a plataforma era parcialmente inundada e virada em 90 graus. Isso permitia que a FLIP ficasse na vertical na água, com mais de 90 metros de seu “corpo” submersos. Esse processo levava 20 minutos.
Talvez seja difícil imaginar uma plataforma se erguendo desta forma. Por sorte, existe um vídeo dessa virada. Assista abaixo:
A plataforma foi desenvolvida na era pós-guerra por pesquisadores do Laboratório de Física Marinha de Scripps e operada pela Oceanografia de Scripps em nome da Marinha dos EUA.
Sua primeira virada ocorreu em 23 de julho de 1962, num fiorde em Washington. Após provar seu valor numa série de testes, a FLIP foi rebocada para San Diego em setembro de 1962.
A plataforma que mudava de eixo passou grande parte de sua vida útil no Pacífico, aventurando-se até o Havaí. Mas teve uma implantação no Atlântico.
R/P FLIP foi fundamental para pesquisas sobre oceano e atmosfera
A FLIP foi usada por mais de 60 anos para coletar observações sobre fenômenos oceânicos e atmosféricos.
“[A plataforma] foi uma maravilha da engenharia construída durante uma fase importante de novas tecnologias para a exploração oceânica após a Segunda Guerra Mundial”, disse Margaret Leinen, diretora da Oceanografia de Scripps, numa comunicado, em 2023, sobre a “aposentadoria” da plataforma.
Uma de suas especialidades era a pesquisa acústica, por meio da qual se descobriu as muitas maneiras que ondas sonoras são influenciadas por variações no oceano, como mudanças de temperatura ou salinidade.
A plataforma até ajudou os cientistas a aprenderem sobre as profundezas nas quais as baleias mergulham e as propriedades da crosta terrestre em constante mudança.
“As muitas descobertas da FLIP ajudaram a estabelecer as bases para a ciência de ponta em curso para entender nosso oceano”, acrescentou Margaret. Que a plataforma descanse em paz agora.