sábado, novembro 23, 2024
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‘Pior massacre desde o Holocausto’, diz militar das Forças de Defesa de Israel, ao comentar ataques do Hamas

“Eles abriram a barriga de uma mulher grávida, retiraram o bebê e cortaram a cabeça dele, em frente ao pai da criança”, contou o reservista brasileiro Henry Tkacz. O militar, de 30 anos, largou o emprego e os projetos pessoais para lutar ao lado de Israel contra o grupo terrorista Hamas, assim que soube dos atentados de 7 de outubro. 

As cenas de horror que o integrante das Forças de Defesa de Israel (IDF) presenciou na Faixa de Gaza foram mais do que suficientes para buscar apoio psicológico. O objetivo, com o tratamento, era ficar mais forte. Ele sabia que iria enfrentar mais cenas como o massacre da mulher grávida e de seu bebê. 

Tkacz viveu a cultura judaica desde criança. Seus avós se refugiaram no Brasil. vindos da Polônia, em meio ao Holocausto da Alemanha nazista.

Soldado do Exército de Israel desde os 21 anos, Tkacz viveu experiências que nunca mais esquecerá. “Até hoje, sinto o cheiro dos corpos, tanto de civis quanto de terroristas”, relatou a Oeste. Depois de servir por alguns anos e de passar por um dos treinamentos militares mais intensos do mundo, o reservista voltou ao Brasil, em 2018. 

Foi contratado pela Federação Internacional de Futebol Associado (Fifa) para liderar a segurança do time da Bélgica. No Catar, país do Oriente Médio que sediou a Copa do Mundo em 2022, morou por três meses — com passaporte brasileiro, pois não há permissão para o documento israelense. Recebeu uma mensagem no Whatsapp de seu batalhão israelense e um documento oficial do consulado de Israel no Brasil sobre sua convocação.

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“Assunto: aprovação de recrutamento de emergência operação Espada de Ferro”, escreveu um dos comandantes, em comunicado oficial que estava em hebraico, uma das cinco línguas fluentes de Tkacz. “Em 7 de outubro de 2023, foi distribuída ordem de mobilização de reserva (ordem 8). O recrutamento baseia-se na presença dos agentes da reserva perante uma chamada através de conversa telefônica ou mensagem. Reporte ao serviço de reserva a partir de 7 de outubro de 2023.”

Na entrevista, o militar revelou os detalhes de como foi enfrentar o Hamas, o que pensa da ocupação israelense na Faixa de Gaza e ressaltou a sua indignação com o antissemitismo incorporado por algumas figuras políticas e movimentos estudantis no Brasil e no mundo. 

Documento oficial, em hebraico, da convocação de Henry Tkacz para o Exército de Israel, em virtude do ataque terrorista em 7 de outubro de 2023 | Foto: Reprodução/Arquivo pessoal

Como foi enfrentar essa guerra?

Minha saúde mental tratei desde as primeiras experiências militares, aos 21 anos. Tive ataque de pânico e de ansiedade. Um dia, cheguei em uma casa que havia sido invadida por um terrorista. A parede do quarto da menina de 7 anos estava pichada com sangue, escrito “brigadas al qassam“, a brigada militar do grupo terrorista Hamas. A perícia verificou que, no sangue, havia sêmen. Ou seja, além de massacrar a menina, eles a violentaram sexualmente. Depois do 7 de outubro, nos preparamos para tudo. Se Israel permitisse, estaríamos lá durante um ano em combate direto contra o Hamas. Mas dependemos dos tomadores de decisão. Até hoje sinto o cheiro dos corpos de civis, de terroristas. O Hamas usa as pessoas para forjar narrativas. Em uma noite, durante um acampamento, apareceu uma menina de sete anos perto de nós. O pai, que estava no túnel com os terroristas, a libertou para averiguar o nosso Exército. Isso tudo ela mesma contou para nós, depois que a levamos a um lugar seguro. Ela ainda disse que havia uma câmera para filmar caso atirássemos. Tudo para formar narrativa. Não somos iguais a eles. Nosso Exército possui muita ética.

Hoje está pior, em relação aos seus primeiros anos como militar?

Foi o pior massacre ao povo judeu desde o Holocausto, pela quantidade de civis massacrados e pala quantidade de maldade cometida. Eles queimaram bebês vivos nos fornos. Teve o caso de uma mulher grávida, que o terrorista abriu a barriga dela, enquanto ela estava viva, decapitou o bebê diante dela e do pai da criança. 


O Estado de Israel seguia a filosofia de que era melhor atacar o inimigo antes de ele atacar. Mas isso mudou. Israel é democrático, queremos ser. Mas, no mundo árabe, vale a lei do mais forte — infelizmente. Se Israel não responder com a força necessária, pagaremos o preço pelos próximos “7 de outubros” que podem acontecer. O combate não é contra o povo palestino, é contra um grupo terrorista que afeta a sociedade como um todo. 

O Hamas também assassina os palestinos?

Sim. Tem vídeos disso. Eles indagam se a pessoa é de Israel e, mesmo sendo muçulmano, eles matam os palestinos também. Estes são considerados traidores. Se tivessem a oportunidade, teriam matado 9 milhões de israelenses. E não falo somente dos 7 milhões de judeus, falo do 1 milhão e meio de muçulmanos, de 1 milhão de cristãos que estão lá. Se tivessem chance, teriam aniquilado o Estado de Israel. 

Como o senhor enxerga os protestos recentes nas universidades norte-americanas, em Nova York? 

Esses episódios são condizentes com o atual momento político dos Estados Unidos. Os líderes atuais são os que estudaram nessas universidades. E os líderes do futuro são os que estão lá hoje. Países como Rússia, Catar, Irã, Coreia do Norte investem nessas universidades para criar divisões ideológicas. Isso não é de hoje, já faz tempo. E, a partir daí, começa o movimento “estudantil”.

Há terroristas infiltrados nessas universidades, puxando protestos, recrutando pessoas. Há a Agência das Nações Unidas de Assistência aos Refugiados da Palestina no Próximo Oriente (UNRWA), que é um braço da ONG para refugiados. O Brasil é um de seus maiores doadores. Inclusive, é a única agência de refugiados no mundo que só aumenta o número de refugiados palestinos, nunca diminui. Você pode até ser milionário, ser da terceira geração de algum palestino, e, ainda assim, ser parte dessa estatística inerte da UNRWA. 

O que pensa desse conflito?

O povo palestino, apesar de dizer que também era israelense antigamente, nunca teve governo oficial, moeda. É uma junção de refugiados de diversos países árabes — Irã, Líbia, Síria. A Faixa de Gaza era de Israel até 2005. O Estado israelense deu ao povo palestino em razão de um acordo de paz. Um ano depois, o Hamas entra numa guerra civil com a autoridade palestina e toma o controle da Faixa de Gaza. Há o braço político e o braço militar do Hamas. A ideologia do Hamas se baseia na irmandade muçulmana, que integra, também, a lei da Sharia, a lei extremista. Direito da mulher, de LGBT, não existem. Só que os líderes principais do Hamas não moram na Faixa de Gaza. Todos estão no Catar em hotéis cinco estrelas. 

Como o senhor enxerga o posicionamento antissemita de alguns grupos da esquerda no Brasil e no mundo?

Há pessoas sem informação, há pessoas que sabem e, mesmo assim, escolhem ser anti-Israel. Para mim, é uma vergonha. Desde as declarações do governo Lula até esse recente episódio na Câmara dos Deputados, em que o sujeito panfletou com a camiseta do Hamas ali.

Por que o Lula não abriu a boca para falar sobre o Michel Nisenbaum, brasileiro até hoje sequestrado pelo Hamas? Trouxeram até terroristas de lá, que ganharam status de refugiados. Pouco se fala no Brasil do envolvimento do narcotráfico com terroristas no Brasil. Apartheid é o que está acontecendo dentro da Faixa de Gaza, pelas mãos do Hamas. 

E o ataque a hospitais? 

O Hamas sabe que não atacamos hospitais. E, quando ocorre, temos todo o cuidado. Eles se escondem nos hospitais de maneira propositada, porque há civis e pessoas feridas, doentes. Primeiro, separamos os civis dos terroristas, pedimos para evacuarem. Tem gente vestida de civil com uma AK-47, armado. Os terroristas se vestiam de civis, colocavam granadas no bolso e jogavam em nós.

Quais críticas o senhor faria a Israel?

Acho que a questão de segurar um pouco algumas contraofensivas pode ter prejudicado o objetivo militar. Hoje, vejo Israel menos atuante com o que precisa. Há 135 reféns ainda lá com os terroristas. Israel está mais preocupado com o que mundo vai pensar. Teria atacado primeiro Rafah, onde estavam vários integrantes do Hamas, e fechado os túneis onde eles têm acesso. A força militar é o que vai resultar em acordo com eles. Cortamos luz, água, atacamos diariamente pontos importantes para eles. A partir disso, o próprio Hamas se sentiu sufocado a ponto de fazer acordos conosco sobre os reféns. O que os russos fizeram na Ucrânia é absurdo, morreram muito mais civis e não criticam da mesma forma.

Por que retornou do Exército?

Fui liberado. O reservista é uma pessoa como eu e você. De repente, você é convocado enquanto está em outro emprego. Os supermercados, as lojas, os bancos, os comércios ficam vazios. De vez em quando, é necessário liberar um número de pessoas, até para dar a sensação de que as coisas estão funcionando. 

Como era o treinamento?

Bem mais difícil do que o do Batalhão de Operações Policiais Especiais (Bope), ao contrário do que o Capitão Nascimento fala em Tropa de Elite (risos). Claro que há uma baita importância no Bope, mas ele é tem um treinamento voltado para uma força especial policial, e há a dificuldade do terreno, dos recursos. Mas as FDI possuem treinamento militar para um Exército. Há um período chamado de “semana de guerra”. Em simulação, somos atacados com simunition. É uma municação especial, como um paintball, mas machuca muito mais. Também existe um processo chamado de “noite branca”. Eles nos deixam acordados por mais de 24 horas. Fora que o deserto faz muito calor de dia, uns 40 °C. De repente, à noite, a temperatura cai para 10 °C. Para evitar o choque térmico, ficamos todos juntos, deitados no chão. No começo, ficamos doentes, mas depois de uns três meses, o corpo se adapta. E fora a pressão psicológica. Não xingam, mas falam no ouvido: “Acho que isso daqui não é para você, está se tremendo todo. Desista”. Tudo em hebraico.



Via Revista Oeste

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