Em 11 de outubro, a BandNews FM divulgou uma denúncia de um caso que o governo federal escondeu durante um mês. Seis pacientes transplantados foram infectados com o vírus HIV no laboratório Patologia Clínica Doutor Samele (PCS-Saleme), em Nova Iguaçu (RJ).
A ministra da Saúde, Nísia Trindade, soube do problema desde o começo. No entanto, não tomou nenhuma medida de urgência. Durante esse tempo de omissão, o laboratório continuou a realizar exames.
Em entrevista a Oeste, Francisco Cardoso, infectologista e perito médico federal, afirmou que esse é caso horrendo. Segundo ele, trata-se do pior escândalo da história do Ministério da Saúde. A pasta foi criada em 25 de julho de 1953, sob o governo de Getúlio Vargas.
“Se a regulação é nacional, a responsabilidade é do governo”, ressaltou o infectologista, ao explicar que o Sistema Nacional de Transplantes é federal. A pasta atribui a culpa do escândalo ao Estado do Rio de Janeiro.
O escândalo dos infectados com o vírus HIV
O perito explica que Nísia Trindade, sob pressão de órgãos como o Conselho Nacional de Secretários de Saúde, revogou duas portarias (3264/22 e 3265/22) que foram assinadas pelo ex-presidente Jair Bolsonaro (PL), em 2022.
Essas portarias regulamentavam critérios de segurança para vigilância dos transplantes, das estatísticas, da eficácia, da mortalidade, do tempo de espera e da qualidade do órgão.
Cardoso explica que, sem esses indicadores preenchidos, os Estados não poderiam receber “verba extra” da Saúde. Para que pudessem recebê-la, teriam de estar em dia com todos aqueles requisitos.
Segundo o perito, para facilitar a autonomia e o envio de dinheiro aos Estados, Nísia revogou as portarias que exigiam aquelas condições.
Doutor Luizinho e o Ministério da Saúde
O deputado federal Doutor Luizinho (PP-RJ) faz parte dessa história, porque atuou como secretário de Saúde do Estado de janeiro a setembro de 2023. Matheus Sales, um dos sócios do laboratório PCS-Saleme, é primo do deputado. Outro sócio, Walter Vieira, preso nesta segunda-feira, 14, é tio do parlamentar.
Segundo Cardoso, Doutor Luizinho assinou contratos durante sua gestão como secretário para que o laboratório realizasse exames. Isso, no entanto, não era necessário. O especialista explica que o Hemocentro do Rio — hospital estadual — teria a capacidade de realizar tais procedimentos.
Cardoso acrescenta que a ministra deveria mandar refazer todos os testes realizados pelo PCS-Saleme nos últimos dois anos, para saber se há mais pessoas com o vírus. Deveria, conclui o infectologista, ter entrado em contato com as vítimas para oferecer apoio e orientação de tratamento.