As investigações da Polícia Federal (PF) apuram se o tenente-coronel Mauro Cid, ex-ajudante de ordens da presidência no governo Jair Bolsonaro (PL), atuava com militares de patentes inferiores para tentar pressionar generais a aderir ao plano de tentativa de golpe de Estado.
Em um dos encontros organizados com esse propósito, Cid teria pedido atenção especial para que um dos militares convidasse especificamente o coronel Cleverson Ney Magalhães. Esse ocupava o cargo de assessor do então general do Comando de Operações Terrestres (Coter), Estevam Theophilo Gaspar de Oliveira.
Um dos depoentes, o coronel Bernardo Romão Corrêa Neto, disse à Polícia Federal (PF) acreditar que Cid via no general Theophilo “uma postura diferente” e enxergava nele “alguém que pudesse cumprir uma ordem”.
De acordo com a PF, a reunião na qual o assunto foi tratado teria ocorrido no dia 28 de novembro de 2022, em um salão de festas na Asa Norte, em Brasília.
Segundo as investigações, foram convidados militares que atuavam ou já tinham atuado como Forças Especiais. Os agentes interrogaram militares ligados à Cid sobre o que aconteceu nesse encontro.
Em depoimento, os oficiais Bernardo Romão Corrêa Neto e o próprio Cleverson Magalhães confirmam a participação na reunião, mas dizem que se tratou um encontro “informal”. O militar Hélio Ferreira Lima, também investigado na operação Tempo da Verdade e apontado como um dos integrantes da reunião, ficou em silêncio quando questionado pela PF sobre o assunto.
De acordo com Romão, o encontro em Brasília teve a presença do próprio Cid. O depoimento ainda aponta que o ex-ajudante de ordens relatou a Corrêa Neto que era importante a presença de Cleverson, assessor de Theóphilo, no encontro. Parte das mensagens trocadas entre os dois foram apagadas, de acordo com a PF.
Corrêa Neto relata também, ainda no depoimento, que combinou com Cleverson Magalhães a presença na reunião e afirma que tem dúvidas se foi “manipulado por Cid”.
Sobre Cid ter apontado ser importante a presença na reunião do assessor do general Theophilo, Corrêa Neto relata que acredita que Cid “perguntou de Cleverson (Magalhães) pelo fato do mesmo ser à época assistente do Comandante do COTER [Comando de Operações Terrestres]; que acredita que Mauro Cid enxergou uma oportunidade de ter acesso ao general Theophilo, por meio do assistente Cleverson [Magalhães]”.
Em relação ao motivo de Mauro Cid supostamente tentar se aproximar do general, Corrêa Neto afirma que “atualmente acredita que, pelo fato de que o general Theophilo teria uma postura diferente, que acredita que Mauro Cid enxergava no general Theophilo alguém que pudesse cumprir uma ordem”.
Não há esclarecimentos sobre qual ordem seria essa.
Nos depoimentos, Corrêa Neto diz ainda que houve discussão da vida pessoal dos integrantes do encontro e do “cenário político” brasileiro. Já Magalhães, diz que o encontro foi estritamente pessoal.
Menos de 15 dias depois dessa reunião, em 9 de dezembro de 2022, o general Theophilo esteve em uma reunião com o ex-presidente Jair Bolsonaro (PL), no Palácio da Alvorada. De acordo com a PF, esse encontro tratou de um plano de golpe.
Em depoimento, Theophilo negou que discutiu qualquer plano de golpe com o ex-presidente e que foi à residência presidencial por determinação do ex-comandante do Exército, Marco Antônio Freire Gomes, e ouviu apenas “lamentações” de Jair Bolsonaro.
Entretanto, Freire Gomes, também em depoimento, negou que determinou o encontro entre o general e o ex-presidente. O ex-comandante do Exército disse que soube da reunião posteriormente por Mauro Cid.
A CNN procurou todos os citados e o Exército.
A defesa de Bernardo Romão Corrêa Netto informou que a retirada do sigilo dos depoimentos mostra que de forma alguma, o militar participou como “arquiteto ou operador” de qualquer tentativa de golpe de Estado. Os advogados mantêm a confiança de que o cliente é inocente.
Os demais citados não deram retorno. O espaço segue aberto para manifestações.
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