Pesquisadores da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG) estão testando uma vacina com a função de bloquear os efeitos de euforia, autoconfiança e excitação provocados pelo uso da cocaína.
Os cientistas já obtiveram experiências bem-sucedidas em cobaias na etapa pré-clínica. Agora, aguardam autorização da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) para iniciar testes em humanos, a partir de 2025.
A ideia é que a vacina também funcione para os consumidores de crack, entorpecente mais barato e potencialmente viciante que agrava o problema das cracolândias, como a do centro de São Paulo.
‘Vacina terapêutica’
Líder da pesquisa, o professor de psiquiatria Frederico Garcia explica que a Calixcoca, como é chamada a vacina, não é como os imunizantes convencionais, produzidos a partir de uma proteína.
De acordo com o jornal O Estado de S. Paulo, a equipe da UFMG desenvolveu uma nova estratégia vacinal. Esta utiliza molécula totalmente sintetizada em laboratório, capaz de dizer ao sistema imunológico que ele deve produzir anticorpos contra a droga.
Segundo Garcia, o imunizante é uma espécie de “vacina-soro” ou “vacina terapêutica”, como aquelas utilizadas no tratamento de alergias, que modulam o sistema imune para produzir anticorpos.
Sem efeitos de abstinência
Com base nos testes preliminares, o remédio poderá ser mais eficaz para dependentes em abstinência. Nesse grupo, a molécula bloqueou a entrada da cocaína no cérebro, diminuindo a percepção do seu efeito e aumentando a chance de o paciente permanecer sem a droga.
“A ideia não é prevenir, mas curar”, adiantou o professor, que se dedica à pesquisa há dez anos. “A vacina será usada nos maiores centros de tratamento do mundo, proporcionando à pessoa com dependência química uma vida saudável.”
Nos testes com cobaias, não foram observados efeitos colaterais graves e houve produção de anticorpos em ratos, camundongos e primatas.
Entre 2020 e 2021, essa foi a droga mais consumida no mundo, de acordo com o Escritório das Nações Unidas sobre Drogas e Crime. “Dos que consomem cocaína, um de cada quatro se tornará dependente”, afirmou Frederico Garcia.