domingo, outubro 6, 2024
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Pesquisa requentada para sustentar o alarmismo 

O fim de julho de 2024 foi bombardeado por quase todos os lados com a notícia de que o Brasil estará inabitável em 50 anos por causa do “aquecimento global”. Para dar um toque magistral de seriedade, os anúncios ainda chegam com a chancela da Nasa, a agência espacial dos EUA, ajudando a criar o costumeiro terrorismo climático.

Os títulos sensacionalistas da mídia ajudaram na propagação do caos. Vimos de tudo — desde reportagens que tratavam o caso como uma possibilidade até as que categoricamente chancelaram o veredicto. Trata-se de um desserviço da imprensa, mas, diante da necessidade de se emplacar a agenda, nada mais importa, especialmente a verdade.

Para piorar a situação, o assunto nem sequer é atual. As publicações foram realizadas com base em um estudo antigo, publicado em 2020 na Science Advances. Trata-se simplesmente de mais uma daquelas pesquisas feitas em modelos de computador, onde parâmetros foram simulados. Entre eles temos a temperatura do ar, sempre atrelada à falaciosa concentração de CO2 e a quantidade de umidade disponível no ar.

E o que tem de verdade nisso? Para começar, nada! Novamente estamos a falar de simulações executadas pelos modelos climáticos que não sabem representar absolutamente nada sobre o clima do planeta, conforme já repetimos exaustivamente. Ademais, a distorção feita pela mídia sobre a tal “pesquisa” parece considerar que as variáveis em questão ficariam imutáveis durante as horas, dias, meses e anos permanentemente. É como se o Sol ficasse sobre nossas cabeças 24h por dia.

O estudo de Colin Raymond

O estudo tem como autor principal Colin Raymond, do Laboratório de Propulsão a Jato da NASA (Jet Propulsion Laboratory, JPL) em Pasadena, Califórnia, EUA. Raymond analisou índices de calor (que comentamos preteritamente em artigos distintos), tanto para frio, quanto para situações quentes. Também usa como mote as ocorrências de mortes por calor do ano de 2020 e estatísticas, elencando-as como as maiores responsáveis quando tratamos de efeitos meteorológicos e climáticos, mas não deixando claro se a contagem realizada sobre “invernos” inclui “congelamento”, pois se tratam de situações diferentes. Também já abordamos que o frio causa cerca de nove óbitos contra um de calor extremo, tornando então a pesquisa de Raymond bastante pontual para os EUA, de 1991 a 2020, se os dados estiverem corretos.

Como Raymond sabia que índices térmicos de calor extremo existem aos montes, derivou sua pesquisa em tratar da temperatura de bulbo úmido (Tw). Esta temperatura é obtida por um instrumento conhecido como psicrômetro e seu valor é determinado induzindo-se um resfriamento por evaporação. O aparelho possui dois termômetros e em um deles, o bulbo recebe gaze ou telas de algodão que são umedecidos com água. Em seguida, uma ventilação é forçada a passar pelos bulbos. O termômetro seco dará a temperatura do ar de bulbo seco (Td), enquanto que o segundo sofrerá um resfriamento causado pela passagem do ar que, conforme flui pela tela úmida, força uma evaporação.

Psicrometro
O psicrômetro é um aparelho que contém dois termômetros idênticos colocados um ao lado do outro, que irão servir para avaliar a quantidade de vapor de água encontrada no ar | Foto: Reprodução/Wikimedia Commons

Como sair do estado físico de líquido para gasoso requer energia, esta será retirada do bulbo do termômetro que marcará a queda de temperatura. Quando a temperatura parar de cair e se estabilizar, o valor marcado indicará a temperatura de bulbo úmido (Tw). Isto ocorre por causa da quantidade de umidade já presente no ar amostrado pelo instrumento e vai nos estabelecer a umidade relativa conforme subtraímos Tw de Td. Quanto maior for a diferença entre elas, mais seco está o ar e a inversa indica o quão úmido é seu estado, chegando ao ponto máximo onde Tw será igual a Td. Esta situação indicará que teremos 100% de UR. Lembremos que Tw pode ser igual ou menor que Td, mas nunca maior.

É neste ponto que a hipótese de Raymond trabalha. Na segunda parte do artigo sobre índices, explicamos que a sensação térmica envolve a fisiologia humana. Diversas características individuais e ambientais determinam o estado em que cada pessoa enfrenta um quadro meteorológico específico. Mostramos que o corpo humano também se livra do calor eliminando água através do suor, no intuito de que ele seja evaporado pelo ar, consumindo calor da pele.

Esse processo é bastante eficiente, mas fica prejudicado quando o ar está muito úmido, pois se o ambiente está próximo da saturação (quando o vapor já está no limite e tende a sair do ar, voltando ao estado líquido, ou sólido) o ar não vai receber a água que a pele quer tanto que seja evaporada. Como a pele apresenta uma temperatura ao redor de 33,0oC, o processo de resfriamento por evaporação limita-se ao redor de 35,0oC. Se a temperatura de bulbo úmido (Tw) estiver neste valor ou maior, significa que o corpo não conseguirá perder calor por evaporação cutânea porque o ambiente chegou ao seu limite ou exige mais energia para que haja evaporação.

Os problemas do estudo de Raymond e o alarmismo

Assim, Raymond procurou as ocorrências onde Tw registrou valores maiores ou iguais aos 35,0oC, sugerindo que tal condição, se mantida por mais de seis horas, seja um perigo à vida humana. Contudo ela é válida se apenas essa situação fosse responsável como a única forma de resfriamento do corpo e sabemos que não é bem assim. Nem o número de horas persiste nestas condições com facilidade e nem o corpo usa apenas essa forma de resfriamento.

Califórnia deve enfrentar nova onda de calor no próximo final de semana |
Foto: Shutterstock

O estudo é fechado em apenas uma hipótese e o cerne da pesquisa tem muitos problemas, começando pela regressão linear realizada em dados pretéritos com valores de Tw que já estivessem acima de 27,0oC, achando que esta regra se aplica em projeções futuras. O segundo e mais grave é a espacialização dos dados. Raymond usa os dados psicrométricos (Td e Tw) das Estações Meteorológicas de Superfície (EMS), tanto manuais como as automáticas, onde, nesta última, a temperatura de bulbo úmido é obtida por outras formas, através de dispositivos eletrônicos. Uma vez georreferenciado o dado real, isto permitiu uma interpolação em pontos de grade, mas para escala global.

Este é um grande problema porque as estações meteorológicas estão muito espaçadas, criando enormes vazios de dados que são preenchidos por esta interpolação. Acontece que interpolação não é um dado real! Não importam as técnicas de interpolação utilizadas, elas apresentam limites, conforme o emprego utilizado e este é um deles. Pior ainda é, a partir de um mapa global interpolado, projetá-lo para o futuro seguindo a hipótese de aquecimento contínuo, baseado em CO2. Deste ponto, criou-se então, um mapa “futuro” onde haveria um aumento de regiões cujos valores de temperatura de bulbo úmido excederiam os 35,0oC.

O trabalho computou então as ocorrências em pontos de grade simuladas e projetou isto para anos à frente. Também elaborou estimativas de obtenção das temperaturas projetando as informações mapeadas por satélites. Mesmo esses procedimentos continuam a ser bastante especulativos.

A cereja do bolo veio nas conclusões. Embora o próprio autor tenha admitido ser muito difícil estabelecer quando teríamos temperaturas Tw acima de 35,0oC, dada a “complexidade do processo porque ele se desenrola de forma diferente em lugares diferentes”, acabou sugerindo que os modelos indicariam que algumas regiões provavelmente excederão essas temperaturas nos próximos 30 a 50 anos. Na listagem da publicação de 2020, o sul da Ásia, o Golfo Pérsico e o Mar Vermelho entraram no rol dos 30 anos, ou seja, até 2050, enquanto o leste da China, setores do sudeste da Ásia e o Brasil estão nas projeções de 50 anos, portanto até 2070, tendo em vista que o artigo é de 2020.

Achar que 8,5 milhões de quilômetros quadrados do Brasil estariam inabitáveis porque a temperatura de bulbo úmido permanecerá sempre acima de 35,0oC é completamente absurdo. Na realidade, é irresponsabilidade da imprensa, especialmente porque a tal pesquisa — outro mero exercício computacional hipotético — nem sequer sugere tal coisa. Ressaltamos que ela faz supostos apontamentos baseados em simulações que possuem muita interpolação entre pontos espaciais, além de estabelecer projeção através de técnicas de regressão linear.

Estudos já disseram que o Brasil iria virar savana e deserto. E, agora, sauna?

Ademais, a incoerência é outro fator constante nestas simulações, pois os cenários são desenhados, apoiados em hipóteses até mesmo díspares. Em dado momento, o “aquecimento global” causará secas severas, prejudicando o regime de chuvas por todo o planeta, sendo este o principal argumento recente para requentar também o discurso de “desertificação global”, aquele mesmo proferido nos anos de 1970. Vejamos que já falaram que a Amazônia vai desde savana até deserto. Mas agora, sauna? Lembrando que quando falam destas “secas” estão se referindo às estiagens interanuais, mas como a precisão científica das definições já foi para o ralo faz muito tempo, qualquer coisa acaba servindo. O importante é passar a bobagem adiante.

Para o caso em questão, a hipótese de simulação é inversa, pois um “aquecimento global” permitiria uma maior capacidade do ar em receber umidade. É justamente neste quesito que a simulação publicada por Raymond trabalha. Em seus parâmetros simulados ele presume que a situação é condicionante para um aumento proporcional e permanente de umidade na atmosfera, oriunda da evaporação, cuja fonte majoritária seria dos oceanos. É uma intuição tirada do nada, para não dizer outra coisa, especialmente porque esse padrão não é observável no mundo real como regra absoluta como ele presumiu nas simulações.

Vejamos que já falaram que a Amazônia vai virar desde savana até deserto. Mas agora, sauna?

Também deveríamos supor que a quantidade de nuvens aumentaria nessas condições, mas não tem sido esta a realidade. Será que esta proposta se trata de mais um caso ao estilo Hymalaiagate? Caberá aos candidatos a Matusalém averiguarem em 2050 e 2070 que o pessoal do alarmismo vai errar de novo! De fato, observando os alardes pretéritos, o que mais vimos foi Deus envergonhando os profetas do apocalipse ambiental-climático.

Parece que a criatividade dos terroristas climáticos está a se esvair reutilizando divulgações ditas científicas? Não! Eles somente estão colocando em prática a Agenda 2030 e suas nefastas metas de Objetivos de Desenvolvimento (ODS) também em suas “pesquisas”, acompanhadas pelas divulgações midiáticas repintadas que fazem o mesmo papel, afinal, eles precisam dar o exemplo em reciclar o lixo. Quanto a Raymond, esperemos que ele continue suas pesquisas na área de propulsão a jato, tentando levar máquinas para o alto, e além, em seus baldes de parafusos, como dizia o falecido astronauta da Apollo 1, “Gus” Grissom.

Via Revista Oeste

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