Desde janeiro, o rover Perseverance, da NASA, está explorando o lado sul de Neretva Vallis, um antigo leito de rio que alimentava a cratera Jezero, onde o rover pousou em Marte.
O próximo destino visível da equipe de controle seria Bright Angel (o ‘Anjo Brilhante’), nome dado aos afloramentos claros que poderiam ser rochas que apareceram quando as águas eventualmente secaram.
Inicialmente tranquila, a viagem do rover se complicou ao entrar em um campo de pedregulhos inesperados. Após dias de tentativas frustradas de sair dali, a decisão tomada foi de redirecionar o equipamento através de um campo de dunas e pelo canal do antigo rio. Essa escolha se mostrou acertada, permitindo que o carinhosamente apelidado de Percy chegasse a Bright Angel.
“Estávamos monitorando o canal ao norte enquanto avançávamos, esperando encontrar um trecho onde as dunas fossem pequenas e espaçadas o suficiente para o rover passar”, explicou Evan Graser, engenheiro da NASA responsável pela rota do Perseverance, em um comunicado. “O rover também precisava de uma rampa de entrada segura. Quando as imagens mostraram essas condições, seguimos diretamente para lá”.
Rover Perseverance tem sistema de autonavegação em Marte
O Perseverance utiliza o AutoNav, um sistema que lhe permite navegar sozinho. Diferente dos exploradores robóticos de superfície anteriores que requeriam controle total da Terra, ele recebe uma rota geral, e o AutoNav cuida da navegação minuto a minuto.
Inicialmente, o mecanismo conseguiu contornar as rochas no caminho, mas logo os obstáculos se tornaram grandes demais para o sistema lidar. “O que antes eram movimentações diárias de mais de cem metros caíram para apenas dezenas de metros. Foi frustrante”, lamentou Graser.
Ao norte do percurso, um campo de dunas separava o rover do leito do canal. Atravessar essas dunas permitiria se livrar das rochas, mas era arriscado, pois as areias marcianas podem prender rovers – como aconteceu com o Spirit, também da NASA, em 2009. Felizmente, essas dunas eram pequenas e espaçadas o suficiente para que o Perseverance pudesse traçar um caminho através delas.
No canal do rio, ele conseguiu avançar cerca de 200 metros por dia marciano. O novo trajeto também ofereceu oportunidades científicas. No meio do canal, o rover encontrou o Monte Washburn, uma colina rochosa que despertou grande interesse geológico. Uma das descobertas foi uma rocha que, segundo a NASA, os cientistas acreditam ser o produto de uma piscina de magma subsuperficial.
Após alcançar um penhasco na borda norte do canal, o Perseverance virou para o oeste. Quatro dias depois, o rover chegou a Bright Angel e começou a analisar suas rochas.
O local, com seus afloramentos de tons claros, pode revelar informações valiosas sobre a história geológica de Marte. A equipe científica está avaliando cuidadosamente as imagens das amostras para decidir se vale a pena coletá-las, tendo em vista o limitado espaço de armazenamento no rover.