Duas medalhas de prata em sua primeira Olimpíada e com apenas 22 anos. A realidade do mesa-tenista sueco Truls Moregardh mudou desde que deixou Paris com o 2º lugar na disputa individual e por equipes.
Atleta de um país no qual o tênis de mesa é esporte tradicional, Moregardh ainda está se acostumando aos pedidos de foto nas ruas e às mensagens que chegam nas redes sociais, inclusive de brasileiros.
O nome do atleta pode soar familiar para quem torceu por Hugo Calderano na Olimpíada de Paris. Ele foi o responsável pela eliminação do carioca na semifinal, em partida que ficou marcada por uma grande virada do sueco logo no primeiro game.
Moregard perdia por 10 a 4 quando conseguiu encaixar oito pontos seguidos e fechar a parcial em 12 a 10. Em entrevista exclusiva à CNN Brasil, o mesa-tenista explica como aquele momento do jogo foi decisivo para decidir a semifinal e encaminhar sua classificação à decisão olímpica.
“Como jogador profissional, não é comum que você vença um set [após estar] perdendo por 4 a 10. Eu acho que fiz isso apenas uma ou duas vezes na carreira. É super raro”, conta Truls Moregard à CNN.
Do jeito que ele (Calderano) jogou até o 10 a 4, nenhum jogador do mundo poderia vencê-lo. Então minha esperança era que ele começasse a ficar nervoso e não continuasse jogando mais o que estava jogando. E foi o que aconteceu quando comecei a atrapalhar sua confiança ao vencer aquele primeiro set
Truls Moregard
Não é que antes da semifinal a confiança do sueco estivesse em baixa. Na segunda rodada da Olimpíada, Moregardh havia derrotado o chinês Wang Chuqin, número 1 do mundo no ranking da ITTF (Federação Internacional de Tênis de Mesa).
Virar um game que esteve praticamente na mão de Calderano foi o último empurrão que ele precisava para acreditar não só em medalha, mas na possibilidade de deixar Paris com um ouro no individual.
“Tenho muito respeito por ele [Hugo Calderano]. Quando assisti às quartas de final dele contra o Jang Woo-jin pensei que seria quase impossível vencê-lo. O que ele estava jogando era realmente assustador.”
O lugar mais alto do pódio, contudo, mostrou-se um degrau alto demais para ele, que perdeu a final para o chinês Fan Zhendong por 4 sets a 1.
“Os asiáticos são difíceis, a China sempre mostra que eles são realmente os melhores. São os melhores e vão ser para sempre. Mas Japão, Coreia, estamos perto deles. Eram quase quatro continentes diferentes jogando entre si na semifinal, foi muito bom ver isso. Ver tantos jogadores de diferentes países pode ser muito bom para o esporte”, diz Moregardh, sobre desafiar a hegemonia dos chineses na modalidade.
Truls Moregardh começou a jogar tênis de mesa com seis anos, após acompanhar um de seus irmãos — Malte, que também é seu técnico — em alguns torneios pela Suécia. O país nórdico, inclusive, é descrito pelo medalhista como “uma nação do tênis de mesa”.
Ao longo do tempo, depois de também praticar tênis e futebol, descobriu o amor pelo tênis de mesa por ser um esporte não tão simples de jogar.
“Tentar ficar bom em um esporte que é difícil. Foi aí que o amor pelo tênis de mesa começou”, diz Moregardh.
Após vencer Hugo Calderano na semifinal em Paris, o sueco viu suas redes sociais ficarem cheias de mensagens de usuários brasileiros. Algumas não tão positivas, inclusive.
“Recebi muitas mensagens de brasileiros, algumas não muito boas”, brinca o medalhista de prata.
Mas está tudo bem, a paixão é fantástica e eu apoio todas as mensagens que recebo. Sei que talvez o tênis de mesa não seja tão grande aí (no Brasil), mas é muito bom para o tênis de mesa brasileiro que Calderano e Bruna (Takahashi) estejam liderando o caminho
No caminho até a medalha de prata na Olimpíada de Paris, Truls Moregard enfrentou alguns dos melhores mesa-tenistas do mundo.
À CNN, o sueco revelou qual foi o mais difícil de vencer na disputa individual.
“Wang Chuqin era o que eu mais tive dificuldades antes [de Paris]. Mas foi uma partida em que eu não estava nem um pouco ansioso no começo. Eu também sabia que Calderano estava no nível mais alto desde alguns torneios prévios à Olimpíada e ele realmente mostrou que merece ser um dos 3 primeiros no ranking mundial e top 5 por um longo tempo. Então, Calderano e Chuqin foram os mais difíceis de jogar”, completa Moregardh, que já projeta a Olimpíada de Los Angeles 2028.
“As pessoas me dizem que eu deveria deixar o esporte, porque não é possível fazer muito mais do que ganhar duas medalhas olímpicas. Mas estou ansioso para Los Angeles. Os Jogos Olímpicos são algo realmente especial, capaz de mudar tudo nas nossas vidas.”