As eleições municipais de 2024 devem ser marcadas por uma série de fatores políticos, como a polarização nacional entre PT e PL e o avanço de partidos de centro na disputa pelo maior número de prefeituras, mas também por uma marca histórica:
- Pela primeira vez, é possível que 100 cidades superem os 200 mil eleitores;
- Com isso, elas poderão ter a escolha dos novos gestores definidas em dois turnos.
De 2020 para cá, cinco cidades passaram a ter mais de 200 mil votantes registrados pela Justiça Eleitoral: São José dos Pinhais e Foz do Iguaçu (ambas no Paraná), as paulistas Embu das Artes e Sumaré, além de Palmas – a capital tocantinense era a única do país a ter a disputa decidida em turno único.
No Rio de Janeiro, Magé, com 198.949 eleitores, está a pouco mais de mil novos registros da marca estabelecida pela Constituição para prever segundo turno e, com isso, tornar-se a centésima cidade brasileira com eleição municipal em dois turnos – o prazo final para novos eleitores se apresentarem à Justiça Eleitoral é 8 de maio.
Por sua vez, Governador Valadares (MG) perdeu cerca de 15 mil eleitores nos últimos quatro anos e, com isso, está abaixo do patamar de 200 mil votantes – atualmente, são 198.359, ante 213.886 existentes em 2020. Naquele ano, a cidade mineira estava no chamado G96, que reunia as 26 capitais e os demais eleitorados com mais de 200 mil pessoas.
Em 2024, pela primeira vez os maiores colegiados do país podem constituir um G100 das localidades mais cobiçadas pelos principais partidos do país, onde votam quase 60 milhões de eleitores.
Até o fim de janeiro, pelos dados do Tribunal Superior Eleitoral (TSE),
- 52 dessas cidades ficam no Sudeste,
- 18, no Nordeste,
- 15, no Sul,
- 9, no Norte,
- e 5, no Centro-Oeste.
Eles totalizam 99 municípios com pelo menos 200 mil eleitores.
Apenas 15 não estão em região metropolitana e 11, incluindo 9 capitais, fazem parte da Amazônia Legal.
Uma radiografia do destino desses votos no primeiro turno de 2020 ajuda a compreender em parte o que ocorreu dois anos depois, nas eleições gerais de 2022 e na disputa mais acirrada pela Presidência desde a redemocratização, assim como traçar cenários do que pode sair das urnas em outubro próximo.
Em relação ao total de votos, quem saiu vencedor em 2020 foi o PSDB, com 4,7 milhões – desses, mais de 1,7 milhão de votos foram dados ao então prefeito de São Paulo, Bruno Covas, que se reelegeu em segundo turno, mas morreu em 2021 e deixou o cargo para Ricardo Nunes (MDB).
Em segundo lugar ficou o PT, com 3,7 milhões, um sinal de resiliência da sigla que, embora tenha registrado o pior desempenho em número de prefeituras, ainda sustentou redutos em grandes cidades que ajudaram a levar Lula pela terceira vez ao Palácio do Planalto, dois anos depois. Por sua vez, o PL pré-Jair Bolsonaro fez 775 mil votos naquele ano, ficando em 15º lugar no ranking, e agora espera ter um desempenho muito superior.
Em número de prefeituras, também foi o PSDB quem conseguiu eleger mais gestores, com 10 vitórias em primeiro turno, seguido por MDB e PSD, com 6 localidades cada e o então DEM (hoje União Brasil, após fusão com PSL), com 5 municípios. Com a debacle tucana, um espólio de votos e prefeituras em estados como São Paulo e Minas Gerais está em franca disputa neste ano.
Diante do acirramento da polarização na política nacional, muitas capitais e cidades com segundo turno tendem a reproduzir o enfrentamento entre aliados do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) e do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL).
As respectivas legendas estabeleceram metas próprias para as eleições municipais:
- O PT quer voltar a governar capitais, o que não ocorre desde 2018, quando perdeu Rio Branco (AC).
- O PL almeja superar as mil prefeituras, o que só o MDB conseguiu neste século.
Em 2022, Lula e Bolsonaro travaram uma disputa acirrada nesses municípios desde o primeiro turno, com ligeira vantagem para o então presidente. O candidato do PL fez 20,6 milhões de votos ante 20,1 milhões do concorrente do PT – em todo o país, Lula terminou à frente, com vantagem de 6,2 milhões de eleitores e foi eleito em segundo turno.
Em número de cidades, foram 62 vitórias de Bolsonaro e 37 de Lula entre as 99 localidades que já somam pelo menos 200 mil eleitores. Por sua vez, o petista venceu no maior colégio eleitoral do país, São Paulo, e em mais duas das cinco maiores capitais do país (Salvador e Fortaleza), enquanto o candidato do PL ficou à frente no Rio de Janeiro e em Belo Horizonte.
Quando se leva em conta o voto em candidatos ou legendas para a Câmara dos Deputados, também há vantagem do PL em relação ao PT: são 7,4 milhões de votos ante 5,3 milhões, respectivamente.
Em seguida, aparecem: União Brasil (3,9 milhões), Republicanos (2,8 milhões) e PSOL (2,8 milhões), impulsionados tanto por puxadores de votos entre os candidatos a deputado quanto por concorrentes em cargos majoritários nos maiores colégios eleitorais, como Tarcísio de Freitas, eleito governador em São Paulo pelo Republicanos.
Ainda na faixa acima dos 2 milhões de votos ficaram PP (2,4 milhões), PSD (2,3 milhões) e MDB (2,2 milhões).
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