quinta-feira, julho 4, 2024
InícioCiência e tecnologiaPeixes estão ficando cegos – e a culpa é dos humanos

Peixes estão ficando cegos – e a culpa é dos humanos

As tragédias ambientais não estão muito longe das cidades e somos a razão para mais uma delas: uma pesquisa brasileira constatou que, pela primeira vez, peixes estão ficando cegos em rios próximos a municípios devido a resíduo humano despejado na água. O responsável são corantes usados em grande escala pela indústria têxtil.

Peixes estão ficando cegos em rios próximos às cidades

Um estudo brasileiro publicado na Science of The Total Environment revelou que peixes da espécie zebrafish, popularmente conhecidos como “paulistinhas”, estão ficando cegos em rios próximos às cidades. O motivo é a contaminação da água com resíduos de corantes usados em grande escala pela indústria têxtil.

Segundo o Jornal da USP, essa é a primeira vez que se observa cegueira de animais por ação de corantes químicos.

O grupo responsável pelo estudo, da Universidade de São Paulo (USP) em Ribeirão Preto, analisou os efeitos de três corantes vermelhos em larvas e embriões de zebrafish, o Disperse Red 60 (DR 60), o DR 73 e o DR 78.

Além da cegueira, outros efeitos foram constatados nos peixes após a exposição, como alterações no comportamento de locomoção e má formação.

Análise mostrou que peixes não conseguiam distinguir entre claro e escuro em água contaminada (Imagem: Divulgação/Science of The Total Environment)

Todos os corantes tiveram efeitos adversos nos peixes

Veja o que cada corante causou nos peixes:

  • No caso do DR 60, as larvas tiveram problemas nas estruturas oculares, reduzindo a área e mudando a morfologia dos olhos, e alterações no padrão natatório. Os pesquisadores constataram a cegueira a partir da dificuldade dos animais de distinguir entre claro e escuro, mesmo em baixas concentrações de corante;
  • Já o DR 73 afetou o desenvolvimento geral das larvas, impedindo que a bexiga natatória inflasse. Isso, por sua vez, impede o controle e a movimentação do peixe na água. Nesse caso, os pesquisadores mencionam “efeito potencialmente neurotóxico, com consequências no sistema nervoso”, sem contar a “deformação evidente”;
  • No terceiro caso, o DR 78, a velocidade do nado foi reduzida junto ao aumento do estresse das larvas, observado pela mobilização do sistema de defesa de desintoxicação dos organismos.

A conclusão é que os dois primeiros corantes são mais tóxicos que o terceiro. O último caso também pode ter a ver com a questão energética dos peixes, que afetaria o organismo e a natação.

Água contaminada com corantes vermelhos pode causar outras anomalidas nos peixes (Imagem: KatMoys/Shutterstock)

Resultados preocupam

Os resultados dos dois primeiros corantes analisados preocupam os pesquisadores.

Vamos dar um passo atrás. Os peixes paulistinhas são amplamente usados pela comunidade científica como modelo de estudo em laboratórios. E há um motivo por trás disso: segundo a professora Danielle de Oliveira, cerca de 70% dos genes humanos têm pelo menos um ortólogo (genes de espécies diferentes com um gene ancestral comum) do paulistinha. Ou seja, o peixe é usado como modelo no estudo de doenças humanas.

A professora adiantou que ainda não é possível afirmar que os dois corantes têm efeitos tóxicos também aos humanos, pelas diferentes vias de exposição.

Corantes ainda não têm regulação que impeça contaminação

Oliveira lembrou que mais de 15% do total de corantes usados no mundo são lançados na água inadvertidamente. Mesmo o tratamento da água não é suficiente para barrá-los, o que pode “gerar subprodutos ainda mais tóxicos”. Ela também destaca a escassez de estudos sobre os corantes, que não são regulamentados no Brasil.

A professora espera que seu estudo mostre as consequências desses produtos e estimule regulamentações Brasil afora.

Via Olhar Digital

MAIS DO AUTOR

DEIXE UMA RESPOSTA

Por favor digite seu comentário!
Por favor, digite seu nome aqui