sexta-feira, novembro 22, 2024
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Pedras e ossos de 45 mil anos mudam história do Homo sapiens

Novas análises apontaram que artefatos encontrados no sítio arqueológico Shiyu, no nordeste da China, datam de aproximadamente 45 mil anos atrás. Isso faz dos artefatos – fragmentos de ossos e rochas – as evidências mais antigas do “homem moderno” (o Homo sapiens) na Ásia Central.

Para quem tem pressa:

  • Novas análises indicam que artefatos encontrados no sítio arqueológico Shiyu, localizado no nordeste da China, datam de cerca de 45 mil anos atrás. Isso torna os achados (fragmentos de ossos e rochas) as evidências mais antigas do Homo sapiens na Ásia Central;
  • Apesar da perda de muitos artefatos encontrados em Shiyu, incluindo um fragmento de crânio de Homo sapiens, novas escavações em 2013, lideradas por Shi-Xia Yang da Academia Chinesa de Ciências, reacenderam o interesse no local;
  • As análises usaram técnicas de radiocarbono e luminescência opticamente estimulada para determinar que a camada mais antiga do local data de cerca de 45 mil anos atrás;
  • A descoberta sugere que o local abrigava uma rica variedade de habilidades tecnológicas, como a técnica Levallois de talha de pedra, pontas de projéteis e evidências de comércio ou viagem a longas distâncias;
  • Além das ferramentas, os pesquisadores encontraram itens como um disco de grafite com um buraco no centro e ossos de animais, principalmente cavalos, com marcas de corte. Estes achados indicam que os habitantes de Shiyu eram caçadores habilidosos e possuíam um nível sofisticado de astúcia e engenhosidade.

As análises provocam novas interpretações sobre os artefatos culturais encontrados em Shiyu. “O local reflete um processo de creolização cultural – o contato entre sociedades e povos realocados – misturando traços herdados com inovações, complicando assim o entendimento tradicional da expansão global do Homo sapiens”, explica o arqueólogo Francesco D’Errico, da Universidade de Bordeaux (França).



Trajetória até as novas análises

Shiyu é conhecido há décadas como um local importante para a arqueologia. Foi habitado por um longo tempo – a sequência sedimentar tem 30 metros de profundidade, e as camadas ali foram depositadas ao longo de dezenas de milhares de anos. Enterrados no sedimento, os arqueólogos encontraram uma rica variedade de ferramentas e artefatos feitos e usados ​​pelos povos que viveram lá.

Estabelecer quem eram essas pessoas e quanto tempo viveram lá tem sido um projeto contínuo. As primeiras escavações, em 1963, renderam milhares de objetos: 15 mil artefatos de pedra, milhares de pedaços de osso e dentes e um único fóssil de hominídeo – um pedaço de osso de crânio identificado como pertencente ao Homo sapiens. No entanto, a maior parte desta, digamos, coleção acabou perdida, incluindo o fragmento de crânio.

Em 2013, os cientistas realizaram outra escavação. Liderada pela paleoantropóloga Shi-Xia Yang, da Academia Chinesa de Ciências, uma equipe multidisciplinar internacional trabalha para caracterizar o local em detalhes. Eles selecionaram um grande número dos artefatos disponíveis e os analisaram de perto. 

Homo sapiens na Ásia Central

Montagem de artefatos encontrados na China
(Imagem: Universidade Griffith)

Além de estudarem ossos de animais encontrados no local, realizaram novas análises de datação. Eles usaram técnicas de radiocarbono e luminescência opticamente estimulada para datar com precisão amostras retiradas de diferentes seções da sequência sedimentar.

A datação revelou que a camada mais antiga da sequência foi depositada há cerca de 45 mil anos. E a análise dos artefatos revelou uma variedade de habilidades tecnológicas, como a técnica Levallois para talhar pedra, desenvolvida na Europa há cerca de 250 mil anos. A pesquisa foi publicada na revista científica Nature Ecology & Evolution.

O conjunto também inclui pontas de projéteis tangidas e encaixadas com evidências de fraturas por impacto, sugerindo habilidade na caça. E havia obsidiana que só poderia ter sido obtida de uma grande distância, pelo menos 800 a mil quilômetros de distância, sugerindo comércio, viagem ou ambos.

Outros itens interessantes incluem uma ferramenta de osso trabalhado e um disco de grafite com um buraco em seu centro, cujo propósito permanece incerto. Em relação ao último, os pesquisadores especulam que poderia ter sido algum tipo de botão grande.

Entre os ossos de animais encontrados no local, a maioria era de equídeos (ossos de cavalo), principalmente adultos. Muitos deles mostravam marcas de corte indicativas de açougue. Isso sugere que os habitantes do sítio Shiyu eram caçadores habilidosos que caçavam cavalos.

Relevância

(Imagem: Philippe Plailly & Atelier Daynes/Science Source)

Combinado ao fragmento de crânio ainda perdido, a descoberta a partir das novas análises traz peça importante da história humana, dizem os pesquisadores. “A fusão de diversos traços culturais significa uma adaptação complexa e inovadora por nossos ancestrais durante sua expansão”, diz Yang.

Trabalhos futuros podem descobrir mais pistas sobre as pessoas misteriosas que um dia habitaram Shiyu. Elas deixaram para trás vestígios de sua astúcia e engenhosidade, a serem descobertos por seus descendentes dezenas de milhares de anos depois.

“Entender as complexidades do nosso passado antigo pode oferecer insights inestimáveis sobre os diversos caminhos tomados por nossos ancestrais e a riqueza da adaptação humana”, diz o arqueólogo Michael Petraglia, da Universidade Griffith, na Austrália.

Via Olhar Digital

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