O Primeiro Comando da Capital (PCC) está sob suspeita de utilizar empresas de maquininhas de cartão de crédito para lavar dinheiro do tráfico e ocultar bens, conforme investigações do Grupo de Atuação Especial de Repressão ao Crime Organizado de São Paulo, braço do Ministério Público de São Paulo, Receita Federal, Polícia Federal e Ministério Público Federal.
De acordo com a Operação Concierge, deflagrada nesta quarta-feira, 28, há evidências de que a empresa Yespay Soluções de Pagamentos Ltda foi usada por João Aparecido Ferraz Netto, conhecido como João Cabeludo, para lavar dinheiro do PCC. As informações são do jornal Estadão.
Em 2022, a empresa foi alvo de busca e apreensão pela Polícia Civil de São Paulo. O Estadão tenta contato com os envolvidos nas operações. A I9Pay negou envolvimento em crimes ou com o PCC, enquanto os bancos Bonsucesso e Rendimento afirmaram colaborar com as investigações.
Em 2021, Inácio Cezar Marques de Souza tornou-se sócio da Yespay e foi citado em uma operação policial sob suspeita de lavar dinheiro para João Cabeludo, utilizando documentos falsos. Ao ingressar na empresa, Marques de Souza depositou R$ 122 mil na conta corporativa.
“Além disso, Marques de Souza transfere o veículo Mercedes Benz 2018/2019, avaliado em cerca de R$ 660 mil para a empresa Smart Money Investimentos e Participações, de propriedade de Aedi Cordeiro dos Santos, provável sócio oculto de Denis Arruda na Yespay. O veículo foi apreendido nos autos da Operação Black Flag em maio de 2021, na posse de Aedi”, relata a Polícia Federal. A Smart Money é apontada como uma empresa de fachada criada por Aedi Santos.
Operações do T10 Bank e envolvimento com o PCC
Denis Arruda é citado como líder da T10 Bank, alvo da Operação Concierge, investigada por ajudar pessoas físicas e jurídicas a criar contas invisíveis para evitar rastreamento das autoridades, permitindo a lavagem de dinheiro e evitando bloqueios judiciais. O PCC é apontado como cliente do grupo.
A I9Pay também está sob investigação. As empresas operavam em instituições financeiras de grande porte autorizadas pelo Banco Central, como os bancos Bonsucesso e Rendimento.
Entre a Smart Money e a Cedro Preparação de Documentos e Serviços Ltda, empresa também ligada a Denis Arruda, houve uma transação de R$ 225 mil em novembro de 2020, que pode ser pagamento pelo veículo, segundo os investigadores. Não há transação registrada entre a Smart Money e Marques de Souza.
Relações entre empresas e lavagem de capitais
Documentos enviados à Justiça mencionam a estreita relação entre Aedi Santos e Denis Arruda, por meio de empresas de fachada, com o objetivo de “operar o branqueamento de capitais para terceiros e obter lucro, ainda que seus clientes sejam integrantes da facção criminosa PCC”.
Na operação Fim da Linha, deflagrada em abril deste ano, o PCC é investigado por lavar dinheiro através das empresas UPBus e Transwolff, que operam no sistema de transporte público de São Paulo. Um documento do Ministério Público cita outra empresa de pagamento por maquininhas de cartão de crédito supostamente usada para lavagem de dinheiro.
“Segundo se apurou, Luiz Sergio Ferreira da Mota era sócio oculto da empresa que operava com ‘maquininhas’ de pagamento” disseram investigadores. “O auto de infração comprovou que a Zigpag utilizava essas maquininhas para fazer diversos repasses de valores, sem qualquer motivo comercial, ou alugar maquininhas a comerciantes para que estes não tivessem seu faturamento em seu nome.”
Ferreira da Mota é apontado como sócio de uma empresa ligada à SPE 7 de Admar de Carvalho Martins, envolvido em um sofisticado esquema de lavagem de dinheiro do PCC, segundo o Gaeco.
Admar de Carvalho Martins é apresentado como um dos maiores acionistas da UPBus em 2015, conforme balanço de 2016. “De 2015 a 2022, enquanto a UPBUS registrou prejuízo na casa dos R$ 5 milhões, Admar recebeu quase R$ 15 milhões em lucros distribuídos, valores absolutamente incompatíveis com o quadro deficitário apurado”, diz a investigação do Gaeco.
Ações judiciais e intervenções municipais
Desde abril, a UPBus está sob intervenção da Prefeitura de São Paulo, por determinação das 1ª e 2ª Varas de Crimes Tributários, Organização Criminosa e Lavagem de Bens e Valores da Capital. A empresa também aparece na Operação Concierge suspeita de abrir uma subconta na T10 Bank para ocultar patrimônio e evitar penhoras.
A criação da subconta no T10 Bank é suspeita devido à dívida milionária da UPBus com a União e à operação Fim da Linha. A operação financeira seria para evitar bloqueios judiciais. “O fato de a empresa UPBus possuir mais de R$ 61 milhões em débitos tributários inscritos em dívida ativa da União justifica (indícios) a utilização dos ‘serviços’ fornecidos pela T10 Bank, de ‘impenhorabilidade’ de suas contas bancárias”, diz a investigação citada pela juíza Valdirene Ribeiro de Souza Falcão, da 9ª Vara Criminal Federal de Campinas, que determinou prisões preventivas, temporárias e buscas e apreensões.
A UPBus está no 11º lugar no ranking de maiores remetentes da T10 Bank. “Observou-se, portanto, que ao que tudo indica a subconta da UPBus no T10 Bank serviu como intermediária à movimentação dos recursos, quebrando a cadeia de análise do percurso dos recursos, considerando que, para o sistema financeiro oficial, a conta era titularizada pelo T10 Bank e não pela UPBus”, diz o documento.