sábado, abril 5, 2025
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PCC troca carregamentos de droga com facções da Europa

Um relatório da Europol, agência policial da União Europeia, revelou a atuação de facções brasileiras, como o Primeiro Comando da Capital (PCC) e o Primeiro Grupo Catarinense (PGC), em transações diretas com facções europeias.

De acordo com o documento publicado nesta terça-feira, 1º, uma investigação identificou negócios de escambo entre criminosos de Santa Catarina e da Europa com a troca de cocaína por ecstasy (MDMA). Não há movimentação financeira nestas operações, apenas o escambo de mercadoria.

A Europol destaca que “grupos criminosos especializados nesse comércio lideravam os acordos, mas outras grandes organizações criminosas brasileiras, como o PCC e o PGC, também estavam envolvidas”.

A prática do escambo entre narcóticos não é nova no cenário global, mas a confirmação de que facções brasileiras estão ativamente envolvidas nesse tipo de transação com grupos europeus eleva a complexidade do tráfico internacional, de acordo com a agência.

A rota do pó branco do PCC

A rota tradicional do tráfico de drogas entre América Latina e Europa sempre foi de exportação de cocaína sul-americana para consumidores europeus. Agora, o relatório revela um movimento inverso e crescente: a exportação de MDMA da Europa para países como Brasil, Chile, Peru, Colômbia e Argentina.

Entre 2019 e 2022, foram registradas remessas que somaram ao menos 1,2 tonelada de ecstasy enviadas da União Europeia para a América Latina. O Brasil foi destino de 141 quilos desse total, de acordo com a Europol.

Em junho de 2022, autoridades dos Países Baixos e do Chile desarticularam uma rede criminosa que pretendia traficar “quase 500 mil comprimidos de MDMA e mais de 100 quilos de pó da droga” para portos chilenos. O entorpecente estava escondido em trailers e compressores industriais.

O caso do Brasil também chama atenção pela sofisticação logística. Em 2021, a Alemanha serviu como ponto de transbordo de um carregamento de 5,5 litros de óleo de MDMA oriundos do Brasil com destino ao Líbano. “Isso sugere claramente que o óleo de MDMA é exportado da Europa para ser processado em cloridrato de MDMA próximo aos mercados consumidores”, ressalta o texto.

Europa como polo produtor e distribuidor de MDMA

O epicentro da produção de ecstasy está firmemente localizado na Europa, sobretudo nos Países Baixos, que concentram a maior parte dos laboratórios de MDMA. Segundo dados do Escritório das Nações Unidas sobre Drogas e Crime, os Países Baixos foram mencionados como origem em 34% de todas as apreensões de ecstasy no mundo entre 2017 e 2021.

A droga é distribuída tanto para países da União Europeia quanto para destinos globais como Austrália, Nova Zelândia, Estados Unidos, Japão, Vietnã, Tailândia, Israel e, cada vez mais, países latino-americanos.

Cocaína em caminhão apreendida pela polícia de São Paulo
Carga de cocaína apreendida pela Polícia Militar de São Paulo | Foto: SSP/SP

Destaca-se também a utilização de serviços postais para a remessa da droga: “Criminosos da Ásia usam serviços de correio e encomendas para traficar grandes quantidades de MDMA compradas de redes produtoras nos Países Baixos, enviando de cinco a dez quilos por encomenda”, afirma o relatório.

Além dos Países Baixos, o relatório identifica Alemanha, Bélgica e Bulgária como pontos-chave na cadeia de exportação. A Alemanha, por exemplo, tornou-se um centro logístico por sua proximidade com os centros de produção e por abrigar hubs de transporte aéreo internacional.

O submundo digital da droga

A distribuição do MDMA não ocorre apenas por meios físicos. A Europol registra que, em 2022, foram detectadas 8,8 mil ofertas únicas da droga em mercados da darknet, sendo 58% em forma de comprimidos e 42% em pó ou cristal. Os principais países de envio são Alemanha (44% dos anúncios), Países Baixos (36%) e França (10%).

O preço da droga nesses mercados paralelos é significativamente inferior ao das ruas. Um comprimido com 144 mg de MDMA, por exemplo, é vendido na darknet por apenas R$ 8,80, enquanto no mercado tradicional o mesmo produto pode custar entre R$ 24,50 e R$ 116,50.

A cadeia de produção é marcada por alta especialização e uma verdadeira economia paralela de serviços ilícitos. Existem fornecedores especializados em químicos, equipamentos e até em máquinas de compressão para fabricação dos comprimidos de ecstasy, sendo que essas máquinas são predominantemente importadas da China.

De acordo com a Europol, redes criminosas recorrem a prestadores de serviços especializados em diferentes etapas da produção e do tráfico. Há desde especialistas em química e logística até intermediários responsáveis por localizar armazéns e propriedades rurais onde os laboratórios podem ser instalados com discrição.

A via de mão dupla entre cocaína e ecstasy pode representar um novo capítulo da geopolítica do tráfico, com o PCC e a América Latina não apenas como fornecedores, mas também como consumidores crescentes de drogas sintéticas europeias — um ciclo que promete ampliar os desafios para autoridades dos dois continentes.

Via Revista Oeste

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