Agentes da Rota chegaram à Rua Itapeti, no Tatuapé, zona leste de São Paulo, com um mandado de busca e apreensão e outro de prisão para ser cumprido. Estavam em apenas um dos 52 lugares revistados pela Operação Fim da Linha, feita contra a captura do transporte público de São Paulo pelo Primeiro Comando da Capital (PCC).
A infiltração do PCC no bairro do Tatuapé transformou a região em uma base de operações de luxo do crime. A reportagem é do jornal O Estado de S. Paulo.
Um dos locais vistoriados foi o Edifício Figueira Altos do Tatuapé, onde foram apreendidos dois fuzis, uma submetralhadora, cinco pistolas e um revólver. O prédio, o mais alto da cidade entre os residenciais desde 2021, tem 50 andares e 168 metros de altura.
Infiltração do PCC na área rica do Tatuapé
A operação revelou a profundidade da infiltração do PCC na área mais rica do Tatuapé. O apartamento onde as armas foram encontradas estava em nome da empresa AHS Empreendimentos e Participações, supostamente usada por Silvio Luiz Ferreira, conhecido como Cebola. Integrante da cúpula do PCC, Cebola é acusado de gerenciar a lavagem de dinheiro do tráfico. Sua defesa nega qualquer envolvimento com atividades ilícitas.
As iniciais da empresa levaram os policiais ao advogado Ahmed Hassan Saleh, o Mude, acusado de ser peça-chave no esquema de lavagem de dinheiro da facção. A empresa de Mude controlava a empresa de ônibus UPBus e adquiriu imóveis milionários no Tatuapé.
Apartamentos em prédios como o Figueira Altos do Tatuapé estão sob suspeita da Receita Federal e do Grupo Especial de Combate ao Crime Organizado (Gaeco). Eles variam de R$ 2 milhões a R$ 20 milhões e estão registrados em nome de empresas de fachada. Isso ajuda a ocultar os verdadeiros donos, que, segundo a investigação, devem estar ligadas ao líder Marcola.
A defesa de Marcola classificou as acusações de lavagem de dinheiro como “absurdas” e destacou uma absolvição do cliente na Justiça, em decisão de 1ª instância.
Outros envolvimentos
Outros pessoas envolvidas no esquema investigado pela Polícia incluem Antonio Vinicius Lopes Gritzbach, ex-diretor da Porte Engenharia. Ele vendeu imóveis de luxo a membros do PCC.
Consultada pela reportagem do Estadão, a construtora afirmou desconhecer a ligação de Gritzbach com o crime organizado. A empresa disse ter construído três dos cinco principais prédios investigados.
O advogado de Gritzbach, Ivelson Salotto, disse que o cliente apenas vendeu imóveis a pessoas erradas. “Ele era um corretor de imóveis de uma grande construtora do Tatuapé, a Porte”, informou.
“Era jovem e chegava a ganhar R$ 1 milhão de comissão por mês. Ficou rico. Mas vendeu imóveis de luxo a pessoas erradas. E foi ouvindo coisas a respeito dessas pessoas.”
Acertos de contas violentos do PCC no Tatuapé
Nos últimos cinco anos, a Polícia Federal, Polícia Civil, Receita Federal e Gaeco investigaram 41 endereços. O esquema de lavagem de dinheiro também envolve lojas de carros importados e fintechs da região, como a Cash Back Turismo e Serviços Empresariais, que teve R$ 200 milhões bloqueados pela Justiça.
A empresa, em nome de Lucas de Souza Teixeira, morador de Heliópolis, movimentou R$ 10 bilhões em dois anos, segundo a Polícia Civil.
O Tatuapé foi palco de violentos acertos de contas do PCC desde 2018, envolvendo assassinatos de membros da facção. Uma testemunha chave, Antonio Vinicius Lopes Gritzbach, vive sob ameaça de morte e escapou de um atentado no Natal de 2023.
Autoridades comentam assunto
Essas circunstâncias levaram as autoridades a concluir que o Tatuapé se tornou uma base de luxo para criminosos que enriqueceram com o tráfico internacional. “É a nossa Little Italy, a nossa Sicília”, disse o promotor Fábio Bechara, do Gaeco, em referência ao bairro de Nova York e à região da Itália, dominados pela máfia.
O delegado Marcos Galli Casseb, do 30º DP, comentou que a pandemia foi fundamental a expansão da influência do PCC no bairro.
Investigações como as Operações Rei do Crime e Tempestade revelaram bens bloqueados pela Justiça Federal, incluindo imóveis, postos de gasolina, helicópteros e iates. “Esses dados apareceram nos autos das Operações Rei do Crime e Tempestade”, contou o delegado Alexandre Custódio Neto, da FICCO.