Uma ação do Primeiro Comando da Capital (PCC) na favela de Paraisópolis, na zona sul de São Paulo, coloca em risco o projeto de canalização de córrego Antonico, orçado em mais de R$ 100 milhões. A apuração é do jornal Folha de S.Paulo.
Moradores ouvidos pela reportagem afirmam que criminosos expulsaram os trabalhadores da empresa que atuavam no interior da comunidade no começo do mês. Além disso, determinaram a ocupação das faixas no entorno do córrego, que estavam limpas por conta da remoção de casas que vem ocorrendo desde 2022.
Imagens de satélite mostram novas construções às margens do córrego, em um trecho de 500 metros.
Segundo o jornal, algumas casas estão quase concluídas, enquanto outras continuam em fase inicial.
Na terça-feira, 3, a Prefeitura retomou a demolição de cerca de dez casas construídas em áreas de risco, depois de uma decisão judicial.
“Algumas famílias não quiseram sair, mas eram poucas, por isso esperávamos a reintegração de posse”, disse o secretário municipal de Habitação, Milton Vieira à Folha. “Nesse intervalo, construíram algumas casas ali. Dizem que foi o PCC, eu não sei se foi, o que nós precisávamos era da decisão judicial, que saiu ontem.”
Moradores afirmam que as novas famílias não são da comunidade, mas pessoas trazidas por membros do PCC, possivelmente para extorquir o poder público com pedidos de indenizações.
Os residentes dizem ainda que, no entorno no local invadido, os criminosos colocaram seguranças armados para impedir o retorno dos funcionários ou de representantes da Prefeitura.
A canalização do córrego Antonico, a partir de Paraisópolis, visa a reduzir alagamentos na favela e na região do estádio do Morumbi, e deve beneficiar cerca de 1 milhão de pessoas. Em outros trechos fora da comunidade, as obras continuam.
Prefeitura se manifesta sobre invasão em Paraisópolis
Procurada pela Folha, a Prefeitura de São Paulo informou que as intervenções no Antonico abrangem “canalização, remoção de construções em áreas de risco, readequação de unidades habitacionais e implantação de redes de drenagem, água e esgoto, além de pavimentação”.
“Os seis trechos sob responsabilidade da Sehab [Secretaria Municipal de Habitação] receberão investimentos de aproximadamente R$ 113 milhões”, diz a nota. “Até o momento, cerca de R$ 30,6 milhões foram investidos em obras, desapropriações e indenizações.”
Sobre a ação dos criminosos, o município disse à reportagem que vai colaborar com a polícia, essa de responsabilidade do governo estadual. “Qualquer demanda por parte das autoridades responsáveis pelas investigações contará com a colaboração desta administração”, finaliza o município.
A Secretaria da Segurança informou que no último dia 12, representante da empresa expulsa pelos criminosos registrou boletim de ocorrência pela Delegacia Eletrônica relatando invasões ao local.