Um artigo publicado nesta segunda-feira (2) na revista Nature Astronomy sugere que Vênus nunca teve oceanos. Segundo o estudo, a atmosfera do planeta, rica em dióxido de carbono (CO2), contém níveis insuficientes de vapor d’água para sustentar a ideia de um passado úmido. Essa descoberta pode redefinir a forma como os astrônomos investigam os exoplanetas mais quentes que a Terra.
Por décadas, cientistas e escritores de ficção científica imaginaram um Vênus com oceanos. Mesmo após pesquisas que revelaram temperaturas capazes de derreter chumbo, alguns especialistas acreditavam que, há bilhões de anos, o planeta poderia ter sido habitável.
Uma equipe de pesquisadores da Universidade de Cambridge, no Reino Unido, agora desafia essa visão, adotando uma abordagem baseada na química atual da atmosfera venusiana. “Quisemos entender como a estabilidade atmosférica se mantém”, disse a doutoranda Tereza Constantinou, líder do grupo, em um comunicado. Para isso, eles analisaram a relação entre os gases liberados por vulcões e sua reposição no ambiente.
Falta de oceano em Vênus indica que exoplanetas semelhantes podem ser inabitáveis
Os vulcões da Terra liberam vapor de água junto com CO2. Em Vênus, no entanto, essa proporção é drasticamente menor. A equipe estima que o vapor liberado pelos vulcões venusianos representa apenas 6% do total de gases emitidos, sugerindo um interior muito mais seco que o terrestre.
Esse déficit hídrico aponta que qualquer água presente no planeta pode ter escapado há bilhões de anos. Segundo Constantinou, o resfriamento lento do magma em Vênus permitiu essa perda gradual. Ela acredita que esse processo pode ser comum em planetas localizados na borda interna da zona habitável de sistemas estelares.
Os resultados afetam a busca por vida extraterrestre. “Se Vênus nunca foi habitável, planetas parecidos com ele podem ser menos promissores”, disse Constantinou. Atualmente, os telescópios focam em planetas próximos de suas estrelas, mas a nova pesquisa indica que se deve priorizar aqueles um pouco mais distantes, onde a presença de água seria mais provável.
“Gostaríamos que Vênus fosse semelhante à Terra no passado. No entanto, é mais eficiente focar em planetas com maior potencial de sustentar vida como a conhecemos”, disse a pesquisadora.