O diretor artístico da abertura dos Jogos Olímpicos, Thomas Jolly, negou que a cena com drag queens apresentada na cerimônia tenha se inspirado no quadro “A Última Ceia”, de Leonardo Da Vinci. A obra do italiano retrata o episódio bíblico em que Jesus Cristo se juntou aos apóstolos antes de ser preso e crucificado.
Em entrevista à emissora de televisão francesa BMF TV, Jolly explicou que Dionísio, deus grego relacionado ao vinho e às festas, foi a verdadeira inspiração do episódio, que gerou polêmica entre a Igreja Católica e a extrema-direita da França, conforme apontou a Reuters.
“A Última Ceia? Essa não foi minha inspiração. Dionísio chega a essa mesa. Ele está lá, por quê? Porque ele é o deus da festa, do vinho, e pai de Sequana, deusa ligada ao rio. A ideia era fazer uma grande festa pagã ligada aos deuses do Olimpo”, afirmou.
“Você nunca encontrará em mim qualquer intenção de zombaria, de difamar qualquer coisa. Eu quis fazer uma cerimônia que cura, que reconcilia. Também que reafirma os valores da nossa República.”
The world is a stage, and Paris is a catwalk. 💅
The #OpeningCeremony is France’s largest nightclub. Celebrities are showcasing young French designer talent, while DJ Barbara Butch provides the tunes. The perfect moment for the last delegations to arrive. ✨ #Paris2024 pic.twitter.com/zOzELw8n8a
— The Olympic Games (@Olympics) July 26, 2024
A porta-voz de Paris 2024, Anne Descamps, reafirmou em entrevista coletiva que a organização dos Jogos Olímpicos não teve intenção de ofender ninguém. O foco era a celebração da diversidade.
“Claramente, nunca houve a intenção de mostrar desrespeito a nenhum grupo religioso. (A cerimônia de abertura) tentou celebrar a tolerância na sociedade”, disse. “Acreditamos que essa ambição foi alcançada. Se as pessoas se ofenderam, lamentamos muito.”
Desde sexta-feira, alguns internautas já apontavam que a verdadeira inspiração para a cena poderia ser o quadro “A Festa dos Deuses”, do pintor holandês Jan Harmensz van Bijlert.
Vocês passaram o dia criticando “o desrespeito à última ceia” e na verdade era uma representação do quadro “a festa dos deuses”.
Sabemos disso pois não tem baco na última ceia mas tinha baco nas olimpíadas. Então a drag com coroa não é Jesus e sim Apolo. pic.twitter.com/ZlYHNndorJ
— Ouriço de cartola (@cegadede) July 27, 2024
Extrema-direta e Igreja Católica se revoltaram
A cena com um grupo de drag queens, uma modelo transgênero e um cantor nu representado como Dionísio provocou fúria entre a Igreja Católica e políticos de extrema-direita franceses, enquanto apoiadores elogiaram a mensagem de tolerância.
A Igreja Católica na França criticou a encenação na abertura da Olimpíada. “Infelizmente, esta cerimônia apresentou cenas de escárnio e zombaria do cristianismo, que deploramos profundamente”, afirmou a Conferência dos Bispos Franceses em comunicado.
Políticos de extrema-direita da França e de outros lugares expressaram seu descontentamento nas redes sociais. “Para todos os cristãos do mundo que estão assistindo à cerimônia #Paris2024 e se sentiram insultados por esta paródia drag queen da Última Ceia, saibam que não é a França que está falando, mas uma minoria de esquerda pronta para qualquer provocação”, escreveu a política de direita Marion Marechal em um post no X.
O italiano de direita Matteo Salvini acrescentou: “Abrir os Jogos Olímpicos insultando milhares de milhões de cristãos no mundo foi realmente um péssimo começo, queridos franceses”.
O bilionário Elon Musk, que cimentou a sua mudança em direção à política de direita ao apoiar Donald Trump neste mês, disse que isso era “extremamente desrespeitoso para com os cristãos”.
*Com informações de Giovana Christ, da CNN, e da a Reuters