A três horas de Berlim, a pacata cidade de Wolfenbüttel soma pouco mais de 50 mil habitantes e tem um centrinho histórico semelhante ao set de um filme de época. A tranquilidade dita o tom das ruas e ali estão construções preservadas no estilo enxaimel, algumas com mais de quatro séculos.
De desconhecida, porém, ela não tem nada: além de abrigar uma biblioteca que resguarda uma das maiores coleções de livros antigos do mundo, aqui fica a sede da Jägermeister, uma das empresas mais reverenciadas de toda a Alemanha.
Nascida como uma destilaria de vinagre em 1878, a empresa familiar produz hoje licores herbais consumidos em mais de 150 países. O carro-chefe leva 56 ervas e raízes e deve ser servido extremamente gelado em copinhos de shot. Com o tempo, a garrafa verde transformou-se em sinônimo da noite e, segundo a companhia, cerca de 2,4 bilhões de doses de Jägermeister são viradas por ano.
Porém, outra bebida surge no horizonte: o Jägermeister Manifest, também destilado em Wolfenbüttel. O diferencial? Trata-se de uma evolução da versão tradicional por conta do apelo super premium, da receita com mais etapas, do envelhecimento em carvalho e do foco em consumidores mais jovens, mas não menos exigentes.
Presente nas prateleiras da Polônia e da África do Sul antes de desembarcar no Brasil neste mês, a garrafa de meio litro, vendida por R$ 299, lembra um uísque à primeira vista. A cor âmbar, o envelhecimento prolongado em barricas de carvalho e a forma pura de degustá-lo em copo baixo, largo e com um generoso gelo remete ao outro destilado – mas não é.
Por dentro da produção
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Bebida leva a mesma base do Jägermeister tradicional, mas adiciona novos ingredientes, como baunilha e açafrão • Divulgação
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Sede da Jägermeister em Wolfenbüttel, na Alemanha • Saulo Tafarelo
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Barris de carvalho americano e alemão são usados para maturar bebida por um mínimo de 15 meses • Saulo Tafarelo
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Apesar de não aberto para visitantes, o QG da empresa é um contraponto contemporâneo à paisagem histórica da cidade. A construção envidraçada é daquelas sedes descoladinhas que têm geladeira aberta e coworking para os funcionários.
Mas quem chama a atenção dos olhares e dos narizes é o enorme armazém de quatro mil barris de carvalho, alguns de até um século. O cheiro de anis pelos corredores dá uma pista dos ingredientes presentes no Jägermeister, já que a lista completa é guardada a sete chaves.
Dentre as 56 ervas, raízes e frutas secas usadas, algumas são conhecidas e viajam o mundo até chegarem ao interior da Alemanha. O anis-estrelado é do Vietnã, a canela vem do Sri Lanka, o cravo é da Tanzânia, o cardamomo chega da Guatemala e as cascas de laranja são de Gana. Alcaçuz, gengibre e macis, especiaria obtida da noz-moscada, são outros ingredientes que compõem as macerações.
O Manifest usa essa mesma base do Jägermeister tradicional, mas adiciona novos itens à receita e passa por uma dupla maturação, com tempo em barricas prolongado. Primeiramente, a base com os 56 botânicos é macerada por 42 dias, a qual segue para a micro-oxidação de até um ano.
A partir daí, adiciona-se uma nova camada de maceração, cujo principal ingrediente, além de açafrão e cardamomo, é a baunilha, que arredonda a bebida e dá um toque macio em comparação ao herbal acentuado. Junto a um destilado de trigo, a mistura é envelhecida por um mínimo de 15 meses em barricas de carvalho americano e alemão.
Toda essa alquimia resulta em uma bebida elegante, com 38% de teor alcoólico e que é categorizada como um licor de ervas. No nariz sobressaem notas de baunilha e de barril de carvalho. Não há aquela sensação xaroposa em boca, mas mantém-se uma certa cremosidade. Ao invés de embalar festas, os goles são recomendados para momentos casuais e celebratórios, sem pressa envolvida.
Beber menos, mas com qualidade
Com todos esses aspectos sensoriais em vista, o foco é responder a uma tendência mundial: a de beber menos, mas com qualidade.
Comportamentos como “buscas de experiências significativas” e estilos de vida mais saudáveis entram na conta, assim como um público-alvo mais jovem, que engloba indivíduos entre 30 e 40 anos, uma fatia que o mercado de destilados premium tradicional costuma não mirar.
“Queremos explorar as tendências de consumo e ampliamos a relevância da nossa marca para um segmento em amadurecimento que busca ocasiões significativas e de qualidade”, diz Gunar Splanemann, Diretor Global de Inovação e Design da empresa.
E os consumidores estão dispostos a pagar mais por isso. É o que garante Tatiana Rodkina, Gerente Sênior de Portfólio Global da Mast-Jägermeister. “Agora os jovens têm mais possibilidades do que as gerações passadas e estão também conectados às redes sociais. Eles têm condições de pagar por algo premium e de aproveitar o momento com esses produtos”, comenta.
O movimento faz sentido também para uma marca que, no passado, vinculou fortemente sua imagem a grandes eventos de esportes radicais e de luxo, como o automobilismo, com um esquadrão de carros laranjas. Hoje, o holofote dos patrocínios volta-se para festivais de música – celeiro de gente antenada.
Da Alemanha para o Brasil

E ao invés de ser servido a uma temperatura de -18ºC, como pede a versão tradicional, a melhor forma de apreciar o produto puro é em temperatura ambiente com gelo. Isso faz com que a diluição abra os sabores para que sejam melhor percebidos.
Na coquetelaria, seu uso pode entrar como um aliado para bartenders nos mais diferentes drinques, indo de base para sours e até para clássicos como negroni e old fashioned.
“A primeira coisa que vem na minha cabeça quando penso neste destilado é a versatilidade”, conta Spencer Amereno Jr., por trás do balcão do Oculto, em São Paulo. Ele possui até uma receita autoral, chamada de St. Hubertus, que leva:
- 60 ml de Jägermeister Manifest;
- 10 ml de mel de agave (pode ser mel normal);
- 20 ml de limão siciliano;
- hortelã;
- e adição a gosto de ginger ale.
Distribuído em solo nacional pela Interfood, o Manifest chega aqui em garrafas de 500 ml, sendo encontrado nos principais pontos de venda e no e-commerce Todovino por R$ 299.
Goles na capital
Mas qual o melhor lugar do mundo para experimentar o estilo de vida proposto? Berlim, é claro.
Se Wolfenbüttel carrega a herança da marca, então é na capital que o público-alvo se encontra. Bons goles em restaurantes e bares ao redor da metrópole podem ser apreciados por meio de coquetéis, incluindo criações com o destilado.
Se estiver com viagem marcada à cidade, guarde as dicas abaixo. Saúde! Ou como os alemães dizem, Prost!
- 893 Ryōtei Restaurant: disputado por uma clientela jovem, a fachada pichada esconde um dos endereços mais trendy da cidade, um restaurante japonês casual chique com pratos quentes e frios pensados para compartilhar. Da carta, o Chokoreto leva rum, Manifest, jerez doce, chocolate destilado, tonka, toque de limão e bitters;
- The Gibson Bar: escondidinho, íntimo e com uma decoração clássica que envolve grande lustre, poltronas de veludo e luzes baixas, é ótimo para terminar a noite com drinques apresentados de maneira inusitada. A carta atual tem o “Banansky”, com rum, licor de castanha, Manifest, redução de chocolate, suco de graviola e banana.
- Nauta Restaurant: na região central de Mitte, a casa serve uma cozinha nikkei em pequenos pratos que vão do ceviche, tiradito, salada de palmito com lichia e missô até beef tataki. Os coquetéis são inspirados na Amazônia, com nomes e ingredientes que remetem à floresta;
- Lost My Voice Bar: também em Mitte, o bar fica dentro do descolado The Circus Hotel. Há salas reservadas para grupos com papel de parede floral e toca-discos com variedade de vinis. Para não perder a tradição, o endereço serve shots do licor de ervas.
*O jornalista visitou Wolfenbüttel e Berlim a convite da Jägermeister.
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