O papa Leão XIV, eleito nesta quinta-feira, 8, tem laços profundos com a América Latina. Embora nascido nos Estados Unidos, ele atuou como missionário e bispo no Peru, onde viveu por mais de uma década. Para cardeais brasileiros que participaram do conclave, essa vivência o aproxima da realidade latino-americana e o torna um símbolo do protagonismo da Igreja na região.
“Temos um papa que era um bispo latino-americano”, afirmou o arcebispo de Salvador, dom Sergio da Rocha. “Sem dúvida que sua origem norte-americana tem sido ressaltada, mas não podemos esquecer que sua atuação episcopal, como bispo, foi no Peru, na América Latina. É alguém que traz no coração a própria América Latina.”
Dom Sergio participou, nesta sexta-feira, 9, de uma coletiva de imprensa junto de outros cardeais brasileiros que estiveram no conclave para a escolha do novo papa. Em Roma, eles responderam às perguntas dos jornalistas brasileiros. Um dos temas mais discutidos foi a relação do sumo pontífice com a América Latina e sua posição sobre as políticas migratórias do presidente dos EUA, Donald Trump.
“Ele é mais peruano que norte-americano”, diz cardeal
O cardeal dom Odilo Scherer, arcebispo de São Paulo, também citou o vínculo de Leão XIV com a região. “Ele nasceu nos EUA, mas nunca foi bispo nos EUA”, disse. “Ele é mais peruano que norte-americano, e é cidadão do mundo.”
Ao responder a uma pergunta sobre as medidas de Trump, Scherer afirmou que “a maioria dos bispos dos EUA se manifestou fortemente contrária” às políticas do presidente norte-americano.
Já dom Leonardo Ulrich Steiner, arcebispo de Manaus, disse que Leão XIV tem um perfil dialogal. “Tenho certeza de que ele não irá tolher o diálogo”, afirmou. “O papa é um homem de muito diálogo, de muita escuta.”
O novo papa também é visto pelos cardeais como um líder com visão ampla da Igreja. “Leão XIV é missionário em um momento que a Igreja quer ser cada vez mais missionária”, disse dom Sergio. Ele relatou que Leão XIV demonstrava grande afeto pelo Brasil e que, antes de se tornar papa, planejava presidir uma missa no Santuário do Senhor do Bonfim, em Salvador, ainda neste ano.
Papa Leão XIV “não será repetição” de Francisco, dizem cardeais
Indagado se o papa Leão XIV repetiria as posições do papa Francisco, dom Leonardo Steiner respondeu que ele “não será repetição de outro pontífice”, mas um líder com identidade própria. “O papa Francisco é irrepetível, como cada um de nós é irrepetível”, acrescentou.
Na entrevista, dom Sergio lembrou a convivência com Leão XIV no Dicastério dos Bispos. Segundo ele, o novo pontífice tem um jeito simples, fraterno, acolhedor e atento. “Ele era um pastor sensível às necessidades do nosso povo, muito unido ao papa Francisco e, penso eu, em sintonia com a caminhada da Igreja na América Latina”, observou.
Na ocasião, os cardeais lembraram que, durante seu discurso de apresentação, o papa falou sobre paz e sobre “construir pontes”. Para eles, isso sugere que o pontífice deve continuar o trabalho de Francisco em favor da paz e do fim dos conflitos.
Dom Paulo Cezar Costa, arcebispo de Brasília, afirmou que a atuação do papa é, também, política. “O papa também tem um papel político, de diálogo com a sociedade”, afirmou. “Com a sua palavra, vai ajudar o mundo para que a doutrina social da Igreja possa iluminar as grandes questões da humanidade.”
Leão XIV, nascido Robert Prevost, é chamado de “pastor de duas pátrias” por causa de sua trajetória entre os EUA e o Peru. Foi missionário na cidade peruana de Trujillo nos anos 1980 e bispo de Chiclayo, no norte do país, de 2014 a 2023. Integrante da ordem agostiniana, ocupou o cargo de superior global da congregação.
