Apesar da crescente desconfiança dos brasileiros em relação aos partidos políticos, a filiação partidária tem aumentado no país. O principal motivo é a rejeição dos filiados aos adversários do campo oposto.
Uma pesquisa, conduzida por cientistas políticos da Universidade Federal de São Carlos (UFSCar) e da Universidade de São Paulo (USP), mostra que aproximadamente 70% dos filiados consideram a aversão ao rival político um fator relevante para aderir a uma legenda.
O levantamento, realizado em 2020, 2022 e 2023, abrangeu 32 partidos e incluiu questionários com 52 perguntas para filiados e dirigentes partidários.
“Queríamos entender por que a filiação partidária estava aumentando, mesmo diante do crescente descrédito e desconfiança da opinião pública com relação aos partidos”, afirmou Pedro Paulo de Assis, pesquisador do Departamento de Ciência Política da USP, ao jornal O Estado de S. Paulo. “Então, descobrimos que o ódio e a rejeição ao adversário motivam não só a filiação, mas também são fatores que tornam os filiados muito mais engajados na vida partidária.”
Ódio como fator crucial para incentivar a filiação partidária
Segundo o estudo, 36% dos entrevistados se tornam altamente engajados nas atividades partidárias quando enfrentam a possibilidade de vitória do partido que mais rejeitam. Este fenômeno é chamado de “engajamento pelo ódio”, segundo os pesquisadores.
No questionário, os cientistas políticos perguntaram quantas horas os filiados dedicavam às atividades partidárias em diferentes cenários de estímulo. Para a análise, foram considerados apenas aqueles que responderam que se dedicam mais de 30 horas mensais.
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“Para 36% desses filiados, a principal motivação para o alto engajamento é a possibilidade de vitória do partido que mais odeiam e rejeitam em uma eleição presidencial”, explica Vinícius Alves, pesquisador da UFSCar e um dos coordenadores da pesquisa. “Portanto, o ódio atua como um incentivo negativo fundamental para que os filiados se tornem altamente engajados. Daí surge a expressão ‘engajamento pelo ódio.’”
Alves também destaca que a aversão extrema identificada na pesquisa vai além das divergências e debates políticos, aspectos nos quais são normais e presentes em uma democracia.
“Estamos falando de um passo adiante no sentimento de rejeição”, ressalta. “Não se trata de debates sobre programas partidários ou da ideia de simples competição entre partidos, por exemplo. É o sentimento de que o outro não pode existir. É o medo, o receio extremo de perder ou do adversário ganhar.”