Você sabe a diferença entre um cometa e um asteroide? Mesmo que a resposta tenha sido “não”, saiba que os objetos espaciais são diferentes entre si, cada um com suas peculiaridades. No entanto, um astro misterioso chamado Phaethon está desafiando cientistas: ele tem características de cometas e asteroides ao mesmo tempo.
O corpo celeste em questão é o causador da chuva de meteoros Geminídeas, que acontece anualmente em dezembro. As novas descobertas apresentadas sobre esse astro também pode desafiar essa compreensão.
O Olhar Digital já explicou o que é cada um deles neste link. Vamos a um resumo.
Os asteroides são corpos celestes rochosos de formas irregulares que orbitam o sol. O formato indefinido desses astros acontece pela falta de massa suficiente para assumir uma forma esférica. No entanto, em relação ao tamanho, eles podem ter até centenas de quilômetros.
A maioria dos asteroides rodeia o Sol entre as órbitas de Marte e Júpiter, região conhecida como Cinturão Principal de Asteroides. No geral, esses corpos passeiam pelo espaço silenciosamente, sem causar danos (mas, quando se aproximam da Terra, sempre causam alvoroço).
Já os cometas são um dos menores corpos celestes conhecidos, formados por poeira, gelo e gases congelados. Quando esses corpos são lançados para o interior do Sistema Solar, o calor do Sol faz evaporar os materiais mais voláteis da composição, criando uma atmosfera ao redor deles. Quando os ventos solares atingem essa atmosfera, provocam uma enorme cauda brilhante.
Ao que parece, as características de um cometa e um asteroide não são mutuamente exclusivas — e o Phaethon é prova disso.
Esse objeto espacial foi descoberto por acaso em 1983, quando dois astrônomos usando um telescópio chamado Infrared Astronomical Satellite o observaram orbitando o Sol. Pouco depois, Simon Green e John Davies (os responsáveis pela descoberta) identificaram que o Phaethon é o responsável pela chuva de meteoros Geminídeas, que acontece anualmente em dezembro (e que o Olhar Digital já falou algumas vezes. Veja algumas fotos do ano passado aqui). A chuva acontece quando a Terra cruza a trilha de poeira do asteroide e os grãos queimam na nossa atmosfera.
Porém, há um detalhe: o Phaethon está passando por uma ausência significativa de emissões de poeira, que não justificariam a Geminídeas. Isso porque a órbita do corpo celeste está extremamente perto do Sol, com sua superfície chegando a cerca de 730 °C.
De duas uma: ou o calor intenso provocaria a liberação de enormes volumes de poeira e gás, ou protegeriam o interior da rocha de mais aquecimento, levando à ausência total de qualquer liberação, como no caso de um asteroide.
Não é isso que está acontecendo. No lugar, o astro está emitindo gás, mas não uma nuvem de poeira.
Pesquisador pode ter desvendado mistério
Uma pesquisa publicada em agosto na revista Nature Communications pode ter desvendado o mistério. O líder do estudo, Martin D. Suttle, explicou em artigo no The Conversation como o trabalho funcionou.
Ele e sua equipe simularam o aquecimento solar intenso que o asteroide Faetonte é submetido durante o periélio (período em que um corpo celeste está mais próximo do Sol). Para isso, eles usaram lascas de um meteorito chamado condritos CM, que contêm uma argila semelhante à composição de Phaethon. Elas foram aquecidas repetidamente em um ambiente sem oxigênio, simulando os ciclos de dia, noite, calor e frio que acontecem em Phaethon quando ele está próximo do Sol.
Eles descobriram que, ao contrário de algumas substâncias voláteis — que seriam perdidas após alguns ciclos de aquecimento —, pequenas quantidades de gases sulfurosos contidos nos meteoritos foram liberadas lentamente ao longo de vários ciclos. Isso mostra que, mesmo depois de várias passagens muito próximas ao Sol, ainda há gás suficiente para as próximas vezes, como funcionaria com um cometa.
De acordo com a teoria, isso significa que, quando Phaethon esquenta, o sulfeto de ferro em sua composição se decompõem em gases. No entanto, como as camadas superficiais do asteroide são relativamente impermeáveis, eles não escapam tão rapidamente, ficando abaixo da superfície e “guardados” para as próximas voltas perto do Sol.
Qual a importância dessa descoberta
Suttle explicou que os desdobramentos dessa pesquisa acadêmica também têm consequências práticas:
- A missão Destiny+, da Agência Espacial Japonesa (JAXA), está programa para ser lançada ao final da década e passará por Phaethon;
- A missão coletará dados do asteroide, mas só será possível analisá-los corretamente a partir da nova compreensão apresentada por ele e sua equipe;
- Isso porque a teoria muda como cientistas e astrônomos encaram as rochas espaciais e os processos que elas passam, como o aquecimento e liberação de gases — o que vale tanto para cometas, quanto asteroides.