quinta-feira, janeiro 16, 2025
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O que significa 2024 ser o ano mais quente da história? Entenda impactos

Resultado temido, embora amplamente previsto pela comunidade científica, a temperatura global ultrapassou pela primeira vez, no ano passado, a meta de 1,5°C fixada pelo Acordo de Paris. Segundo o Copernicus, principal serviço de monitoramento climático da União Europeia, a temperatura média em 2024 foi 1,6°C acima dos níveis pré-industriais, ou seja, um salto de 0,1°C em relação a 2023.

Quando se anuncia que o ano passado ultrapassou 1,5%, isso não quer dizer que a meta, assumida por 196 países (inclusive o Brasil) em dezembro de 2015, tenha sido descumprida.

Isso indica, por enquanto, um desvio pontual que pode ter sido causado, por exemplo, por condições climáticas excepcionais, como um forte El Niño, em conjunto com emissões de gases de efeito estufa causadas pelos seres humanos.

No entanto, “a temperatura média global 1,5º C já possui efeitos bastante severos que estamos presenciando nas várias localidades do mundo e também no Brasil”, explica a professora Cássia Ferreira, coordenadora do Laboratório de Climatologia e Análise Ambiental da UFJF (Universidade Federal de Juiz de Fora) e da Estação Climatológica UFJF/Inmet, à CNN Brasil.

Ainda que temporária, a ultrapassagem de 1,5°C sugere que estamos bem perto, ou parcialmente mergulhados, no que o secretário-geral da ONU, António Guterres, chamou de um “colapso climático”.

Consequências imediatas do aquecimento global

Temperaturas mais quentes aumentam a evaporação da água do solo, tornando a terra e as florestas mais secas, e suscetíveis a incêndios, como os que ocorrem em Los Angeles. • Getty Images

Segundo o Copernicus, 2024 não bateu apenas o recorde de ano mais quente da história, mas também o recorde de quantidade de água na atmosfera. Isso é preocupante, porque o vapor de água é uma exemplo clássico de retroalimentação climática onde o aquecimento acaba reforçando positivamente a sua própria existência.

Ou seja, quanto mais quente o clima fica, mais água a atmosfera retém, e quanto mais água é retida, maior o aquecimento. Esse ciclo pode acelerar as mudanças climáticas além do que seria causado somente pelo dióxido de carbono. Com níveis aumentados de água na atmosfera, eventos de chuvas intensas se tornam mais severos, como observado em 2024, em regiões como Dubai, leste da Espanha e sul do Brasil.

Por outro lado, temperaturas mais quentes aumentam a evaporação da água do solo, tornando a terra e as florestas mais secas. Como resultado, a vegetação fica mais suscetível a incêndios. Os incêndios florestais em andamento em Los Angeles, nos EUA, que resultaram em 24 mortes (até o momento da redação desta matéria), são um exemplo de que mesmo regiões com muitos recursos são vulneráveis.

O que esperar do colapso climático nos próximos anos?

Usando 2024 como um referencial histórico, podemos esperar dois cenários opostos para o futuro da humanidade. No primeiro deles, realisticamente otimista, podemos ver 2024 como um momento de virada positivo, isso se agirmos rapidamente para reduzir as emissões de gases de efeito estufa agora.

Improvável, mas não impossível, a teoria é apoiada pelo retorno do padrão climático natural La Niña, anunciado no dia 9 de janeiro. Esse fenômeno oceânico-atmosférico tende a influenciar temporariamente um resfriamento global.

“Porém, o que estamos vendo em uma escala local, regional e global, não é isso”, pondera a professora Cássia. “A cada ano, temos maiores focos de incêndios em florestas, estamos emitindo quase o dobro do que seria aconselhável numa meta de minimização das emissões”.

Nesse cenário sombrio, alerta a climatologista, “os governos de estado ainda estão sendo ocupados por sujeitos que negam o aquecimento global e, portanto, se colocam contrários a medidas mitigadoras”. Com base em um artigo científico publicado em 2022 na revista Science, a ONU afirma que exceder 1,5 °C pode desencadear vários pontos de inflexão climática.

Esses efeitos envolvem “colapsos dos principais sistemas de circulação oceânica, degelo abrupto do permafrost boreal e colapso dos sistemas de recifes de corais tropicais”. Os impactos, afirma a organização internacional, podem ser “abruptos, irreversíveis e perigosos para a humanidade”.

Para Cássia Ferreira, ainda que “sigamos a cartilha”, podemos evitar que “o aquecimento aumente, mas a reversão do quadro demorará alguns bons anos”. Após a emissão de uma molécula de gás carbônico, explica a professora, o gás pode ficar na atmosfera por mais de 100 anos.

Independentemente das decisões políticas dos líderes mundiais, um desses cenários se transformará em realidade. E, como todos sofreremos as consequências, esse futuro dependerá das escolhas globais que fizermos hoje.

Veja como geografia e clima na Califórnia explicam incêndios em Los Angeles

Via CNN

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