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O que resta do “Cinturão Vermelho” para o PT

Os 39 municípios que compõem a Região Metropolitana de São Paulo tiveram um ponto em comum no primeiro turno das eleições deste ano. Nenhum elegeu prefeito filiado ao Partido dos Trabalhadores (PT). Mais do que derrota, o resultado representa mudança de paradigma, uma vez que, justamente pela força de petistas, a localidade já recebeu o apelido de “Cinturão Vermelho”.

A alcunha não se deu por acaso. Na capital paulista, por exemplo, o PT já esteve à frente do Poder Executivo em três oportunidades: Luiza Erundina, Marta Suplicy e Fernando Haddad.

Hoje ministro da Fazenda do governo do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, Haddad foi parte do que foi o último grande momento do “Cinturão Vermelho”. Em 2012, ele foi eleito prefeito paulistano. No mesmo ano, sem contar a capital paulista e seus mais de 11 milhões de habitantes, petistas haviam sido eleitos em cinco das outras seis cidades mais populosas da região.

Na ocasião, os integrantes do PT eleitos prefeitos foram:

  1. Sebastião Almeida (reeleição), em Guarulhos;
  2. Luiz Marinho (reeleição), em São Bernardo do Campo;
  3. Carlos Grana, em Santo André;
  4. Jorge Lapas, em Osasco; e
  5. Donisete Braga, em Mauá.

A decadência do “Cinturão Vermelho”

A partir das eleições de 2016, no entanto, a definição de “Cinturão Vermelho” como sinônimo da Região Metropolitana de São Paulo deixou de fazer sentido. Depois de dois mandatos de Luiz Marinho, atualmente ministro do Trabalho, São Bernardo do Campo nunca mais elegeu um representante do PT como prefeito — detalhe: o município é o domicílio eleitoral de Lula.

Em Santo André, que assim como São Bernardo do Campo integra a sub-região do ABC Paulista, o cenário é similar. Na cidade de Celso Daniel, nenhum petista venceu depois da campanha de Grana em 2012. A história de decadência do PT na Grande São Paulo segue o mesmo cenário em Guarulhos e Osasco, que há 12 anos acumulam rejeições ao partido.

Lula
O presidente Lula durante compromisso oficial. PT acumula derrotas em São Bernardo do Campo, domicílio eleitoral do chefe do Executivo do país | Foto: Fabio Rodrigues-Pozzebom

Neste ano, São Bernardo do Campo, Santo André, Guarulhos e Osasco tiveram outro ponto em comum. Candidatos do PT ficaram de fora do segundo turno. Com cerca de 1,3 milhão de habitantes, Guarulhos viu o petista Alencar Santana somar 9,67% dos votos válidos e ficar somente na quarta colocação.

Em Osasco, o ex-prefeito Emídio de Souza ficou em segundo, mas viu Gerson Pessoa (Podemos) ser eleito no primeiro turno. Situação similar ocorreu com Bete Siraque em Santo André, onde Gilvan Júnior (PSDB) se tornou prefeito eleito já no dia 6 de outubro.

“Casa” eleitoral de Lula, São Bernardo do Campo foi outra cidade da Região Metropolitana de São Paulo a rejeitar o PT já no primeiro turno. Na cidade, o segundo turno será entre o ex-vice-prefeito Marcelo Lima (Podemos) e o deputado federal Alex Manente (Cidadania), que conta com apoio formal do Partido Liberal (PL), do ex-presidente Jair Bolsonaro. Nome do PT na disputa, mas que não empolgou os eleitores locais, o deputado estadual Luiz Fernando Teixeira ficou na terceira colocação.

PT com sobrevida em cidades do ABC Paulista

Para não sumir de vez das prefeituras da Grande São Paulo, o PT luta para se manter à frente da administração de duas cidades que integram o ABC Paulista. Em toda a região metropolitana da capital paulista, petistas só se fazem presente no segundo turno em Diadema e Mauá, onde tentam a reeleição.

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O atual prefeito de Diadema, Filippi (PT), busca o seu segundo mandato consecutivo contra Taka Yamauchi (MDB). No que depender de levantamento de intenções de voto, o petista, no entanto, corre o risco de perder o gabinete. De acordo com o levantamento do Paraná Pesquisas da última segunda-feira, 14, o emedebista tem 45,6% contra 43,4% — condição de empate técnico.

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Lula em comício ao lado de Filippi, candidato do PT à reeleição à Prefeitura de Diadema. Chance de o partido seguir no poder em algum lugar do antigo ‘Cinturão Vermelho’ | Foto: Ricardo Stuckert/PR

A outra possibilidade de o PT se fazer presente naquilo que um dia foi o seu “Cinturão Vermelho” é Mauá. O partido busca reeleger Marcelo Oliveira. Ele chega ao segundo turno depois de conquistar 45,13% dos votos válidos na parte inicial do pleito. Para isso, vai ter de superar nas urnas o ex-prefeito Átila Jacomussi (União Brasil), que obteve 35,65% no primeiro turno.

Se perder tanto em Diadema quanto em Mauá, haverá uma certeza: a partir de 2025, nenhuma prefeitura da Região Metropolitana de São Paulo será conduzida por alguém do PT.

Guarulhos, uma disputa em que Lula já perdeu

Guarulhos poderia integrar a lista de cidades em que o PT segue vivo na disputa. Mas isso não ocorrerá por decisão da direção do próprio partido. Um dos fundadores do PT e prefeito guarulhense por dois mandatos, Elói Pietá demonstrou no início do ano o interesse de disputar o cargo do Poder Executivo mais uma vez. Contudo, não teve apoio da cúpula da legenda — leia-se o presidente Lula —, que tentou renovar a presença na cidade, com a agora comprovada campanha fracassada do deputado federal Alencar Santana.

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Elói Pietá deixou o PT para se candidatar a prefeito de Guarulhos pelo Solidariedade | Foto: Reprodução/Paraná Pesquisas

Sem vez no PT, Pietá migrou para o Solidariedade, superou Santana em votos e, com 29,81%, vai disputar o segundo turno contra o vereador Lucas Sanches (PL), que teve 33,25%. Na quinta-feira 17, o Paraná Pesquisas indicou vantagem do liberal, com quase 15 pontos porcentuais de vantagem sobre o ex-petista: 52,3% das intenções de voto contra 37,4%.

Nanismo eleitoral no antigo “Cinturão Vermelho”

As derrotas do PT na Grande São Paulo não ficam, entretanto, restritas aos maiores colégios eleitorais locais. Em algumas cidades, integrantes do partido somam votações insignificantes. Neste ano, por exemplo, o petista Jair Meneguelli teve o equivalente a 4,23% dos votos válidos em São Caetano do Sul. O que, aliás, representa até avanço, pois em 2020 João Moraes (PT) teve apenas 1,81%.

Em Mairiporã, o petismo terceirizou a derrota neste ano, pois a federação sob liderança da sigla lançou a candidatura de Dr. Márcio Pampuri (PV), que teve somente 3,38% dos votos válidos. Em 2020, a petista Dona Francisca foi a escolha de somente 2,15% dos eleitores da cidade.

Meneguelli não foi o único petista a decepcionar nas urnas em 2024 na Grande São Paulo. Outros nove membros do partido tentaram se eleger prefeitos na região, mas tiveram menos de 10% dos votos válidos.

Apesar da dezena de candidatos que não chegou a 10%, nenhum petista na Região Metropolitana de São Paulo teve em 2024 um desempenho tão ruim quanto o de José Geraldo de Souza em 2020. Há quatro anos, o membro do PT conhecido pelo apelido Zé do Boné tentou — sem sucesso — se tornar prefeito de Cotia. Terminou a eleição com pouco mais de 1,2 mil votos, o equivalente a 1,11%.

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Zé do Boné, candidato do PT à Prefeitura de Cotia em 2020: maior exemplo da derrocada do partido na Grande SP | Foto: Divulgação do candidato

Enquanto o PT acumula derrotas, o PL passou a registrar consecutivas vitórias na Grande São Paulo. No primeiro turno deste ano, a sigla do ex-presidente Bolsonaro elegeu oito prefeito na região, incluindo a reeleição de Eduardo Boigues em Itaquaquecetuba, com 91,7% dos votos válidos, o maior porcentual do país entre cidades com mais de 200 mil eleitores.

Assim, com vitórias do PL e sequência de derrotas do PT, os eleitores da Região Metropolitana de São Paulo mostram que o antigo “Cinturão Vermelho” caminha para se tornar um “Cinturão Liberal”.

Via Revista Oeste

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