Nos últimos três meses, o Atlântico equatorial apresentou uma queda de temperatura sem precedentes, o que deixou cientistas e meteorologistas perplexos. Esse novo padrão climático, que já está sendo chamado de “La Niña Atlântica”, surge em um momento crítico, logo antes da prevista transição para uma La Niña no Oceano Pacífico.
A combinação desses dois eventos pode causar impactos climáticos globais, especialmente considerando as oscilações recentes nas temperaturas oceânicas.
O resfriamento do Atlântico traz um alívio depois de mais de um ano marcado por temperaturas recordes, tanto em terra quanto no mar. Esse calor extremo foi amplamente atribuído ao aumento das emissões de gases de efeito estufa e à presença de um El Niño no Pacífico, que se formou em meados de 2023.
Pedro DiNezio, da Universidade do Colorado Boulder, destacou ao NewScientist que as temperaturas médias dos oceanos globais finalmente começaram a cair, encerrando uma sequência de 15 meses de recordes. Segundo a NOAA (Administração Nacional Oceânica e Atmosférica dos EUA), em julho de 2024, a temperatura média da superfície do mar global foi ligeiramente mais baixa do que no mesmo período do ano anterior.
Oscilações climáticas: ENSO e La Niña
A Oscilação Sul-El Niño (ENSO) é um ciclo climático natural que causa grandes variações nas condições atmosféricas e oceânicas globais. Após o enfraquecimento do El Niño no Pacífico em maio de 2024, espera-se que condições de La Niña mais frias se desenvolvam entre setembro e novembro, de acordo com previsões da NOAA.
Essa transição é parcialmente impulsionada pelo fortalecimento dos ventos alísios ao longo do equador, que trazem à superfície águas mais frias das profundezas do oceano. O ENSO é uma das principais fontes de variabilidade climática natural, mas o Atlântico equatorial também passa por ciclos semelhantes, oscilando entre fases de “Niño” e “Niña” a cada poucos anos, dependendo da força dos ventos alísios.
O ano de 2023 foi marcado por condições de Niño no Atlântico, com as temperaturas da superfície do mar atingindo níveis inéditos em décadas. No entanto, nos últimos três meses, houve um resfriamento acelerado nessa região, o mais rápido já registrado desde 1982.
Essa mudança abrupta é especialmente intrigante, pois os ventos alísios, que geralmente impulsionam o resfriamento, não se intensificaram como esperado. Franz Philip Tuchen, da Universidade de Miami, ressaltou ao NewScientist que, apesar de diversas hipóteses terem sido levantadas, nenhuma delas conseguiu explicar completamente o fenômeno até agora.
Impactos globais e previsões de possível La Niña Atlântica
- Se as temperaturas do Atlântico permanecerem 0,5 °C abaixo da média por mais um mês, o fenômeno será oficialmente considerado uma “La Niña Atlântica”.
- Este evento pode ter grandes impactos nos padrões climáticos globais, influenciando a distribuição de umidade e as temperaturas em várias regiões.
- A La Niña no Pacífico tende a provocar secas no oeste dos EUA e chuvas intensas no leste da África, enquanto a La Niña no Atlântico pode reduzir as chuvas na região do Sahel, na África, e aumentar as precipitações em partes do Brasil.
- Além disso, as duas La Niñas podem ter efeitos opostos na temporada de furacões do Atlântico.
- Enquanto a La Niña no Pacífico pode aumentar a probabilidade de furacões, a La Niña no Atlântico pode enfraquecer algumas das condições necessárias para a formação dessas tempestades.
- Esses ciclos oceânicos também podem interagir entre si de maneiras complexas.
- Embora seja difícil prever com exatidão como isso ocorrerá, existe a possibilidade de que a La Niña Atlântica atrase o desenvolvimento completo da La Niña no Pacífico, retardando assim seus efeitos de resfriamento no clima global.
- Como sugere Michael McPhaden, da NOAA, pode haver uma espécie de “disputa” entre o Pacífico tentando se resfriar e o Atlântico tentando aquecê-lo.