Conforme noticiado pelo Olhar Digital, um relatório da Agência Nacional de Inteligência Geoespacial (NGA) dos Estados Unidos, em colaboração com o Centro Geográfico de Defesa (DGC) do Reino Unido, revelou o crescimento da Anomalia magnética do Atlântico Sul (AAS), uma área onde o campo magnético terrestre é mais frágil.
Essa região abrange parte do Brasil e do sul do Oceano Atlântico, sendo monitorada de perto pela NASA devido aos possíveis impactos em satélites e comunicações.
Conversamos com Roberto “Pena” Spinelli, físico pela Universidade de São Paulo (USP) e pesquisador com foco em Inteligência Artificial (Alinhamento e Consciência), com especialização em Machine Learning pela Universidade Stanford, nos EUA. Ele explicou o que esse crescimento representa.
Primeiro, de acordo com Pena, é necessário entender o que é o campo magnético da Terra. “O campo magnético da Terra é causado por correntes de convecção, que são materiais líquidos em movimento lá no centro da Terra, compostos principalmente por materiais ferromagnéticos – rochas derretidas que têm em sua composição ferro e outros elementos químicos. Quando você tem essas correntes se movendo por conta do giro da Terra e da temperatura, então criam-se correntes internas que ficam subindo, descendo e girando e induzem o campo magnético”.
O campo magnético da Terra age como uma defesa contra partículas carregadas do Sol, que vêm com a radiação cósmica e os ventos solares. No entanto, nessa região específica, essa proteção é reduzida, permitindo uma maior proximidade das partículas com a superfície terrestre. Isso pode gerar problemas para satélites que cruzam essa área.
Falhas no interior da Terra interferem no campo magnético
Isso é causado, segundo Pena, por imperfeições nas correntes internas. “Se as correntes acontecessem de maneira simétricas, fossem todas perfeitas, o campo magnético da Terra seria homogêneo. Mas existem imperfeições nessas correntes, o que resulta em anomalias magnéticas”.
Pena descreve essas imperfeições como rochas sólidas que tomam formas diferentes, a subducção das placas tectônicas de forma diferente em cada região e outras variações geológicas, com destaque para uma possível presença de um pedaço do protoplaneta Theia que se chocou com a Terra há bilhões de anos, dando origem à Lua (saiba mais aqui).
O relatório revela que a intensidade do campo magnético na região da AAS é aproximadamente um terço da média global. A causa exata dessa anomalia ainda não é totalmente compreendida, mas os pesquisadores observaram seu crescimento e aprofundamento em direção ao oeste. Entre 2020 e 2024, estima-se que a área da AAS tenha aumentado em cerca de 7%.
Além de estar crescendo, Pena destaca que a anomalia também está se separando e se movendo para oeste. “Tudo isso por causa de heterogeneidades de dentro da Terra, que também se movem com o tempo e com a movimentação das placas tectônicas. Essa movimentação afeta as correntes de convecção, portanto, afetam também o campo magnético”.
Pena ressalta que esse movimento todo é muito lento e que a AAS existe já há milhões de anos. Então, não é algo preocupante, sendo apenas um ponto mais fraco da magnetosfera da Terra, não implicando em resultados práticos na nossa vida, a não ser aos satélites que por ali trafeguem.
Um estudo publicado em 2020 na revista Proceedings of the National Academy of Sciences descartou o temor de que a expansão da AAS pudesse alterar o campo magnético global, indicando que a anomalia é uma característica persistente, remontando a milhões de anos atrás. Embora não represente riscos diretos à saúde humana, seu impacto em satélites e comunicações justifica o monitoramento e pesquisa contínuos para entendê-la melhor.