Podemos ter várias definições sobre criatividade. Para alguns, a criatividade pode ser uma expressão artística com o propósito de desenvolver experiências sensoriais, enquanto para outros, pode ser apenas uma forma de apresentar algo inovador, revolucionário ou até mesmo ser disruptivo.
Em minhas andanças pelo mundo nos últimos anos, levando o conceito do Tan Tan a congressos e eventos, tive a oportunidade de visitar os bares mais criativos do mundo e assistir a muitas palestras sobre o assunto.
Acredito que, independentemente da narrativa, o produto tem que ser bom, e muitas vezes a criatividade vira subterfúgio, evidenciando uma carência de técnicas ou conhecimento acumulado por parte dos bartenders ou diretores criativos.
Em 2021, durante uma visita ao bar Lyaness, em Londres, antigo Dandelyan, idealizado por Ryan Chetiyawardana e ganhador do The World 50th Best Bars em 2018, fiquei encantado com o conceito do menu. Em vez de apresentar uma lista de coquetéis, o menu trazia uma lista de ingredientes que representavam a essência do bar naquele momento. Por exemplo, o “Monkey nut cordial” era um cordial feito a partir de uma mistura de nozes cruas e envelhecidas, processadas com semente de coentro tostada e misturadas em álcool e açúcar.
A partir desses ingredientes, surgiam dois ou três coquetéis com perfis distintos, repetindo-se o processo com outros seis ingredientes. Assim, o menu se compunha, tornando a experiência mais divertida e interessante, instigando a experimentação de diversos coquetéis.
A criatividade em um bar pode se manifestar de diversas formas: em coquetéis que subvertem ideias, brincam com texturas, invertem sabores e até mesmo resgatam lembranças. Em minha opinião, isso eleva a experiência e torna o ato de beber cada vez mais divertido.
Existe uma frase atribuída a Albert Einstein que diz: “o segredo da criatividade é saber esconder as suas fontes”. Talvez isso flerte com a ideia de que muitas criações não parecem ser genuinamente criativas e são apenas cópias de conceitos já apresentados anteriormente. No entanto, concordo com o jargão, pois muitas vezes ser criativo não é criar algo novo ou inventar conceitos nunca antes vistos, mas sim apresentar algo já conhecido de uma maneira diferente. Para isso, referência, personalidade e conhecimento como base são fundamentais.
Confesso que já tive minha fase de aversão a manifestações criativas na indústria. No entanto, hoje, com convicções amadurecidas, acredito que a criatividade é um combustível muito poderoso no processo de evolução. Através dela, podemos criar novos caminhos, solucionar problemas, despertar curiosidade e engajar pessoas, afinal, ir a um bar, na maioria das vezes, é um ato recreativo.
*Os textos publicados pelos Insiders e Colunistas não refletem, necessariamente, a opinião do CNN Viagem & Gastronomia.
Quem é Thiago Bañares
Bañares, formado em gastronomia pela FMU (SP), foi considerado pelo ranking “Bar World 100”, organizado pela importante publicação Drinks International, uma das 100 pessoas mais influentes da indústria de bares global. Seu restaurante/bar Tan Tan figura – pela terceira vez consecutiva – na lista dos melhores bares do mundo do “World’s 50 Best Bars”; comanda o também premiado Kotori, considerado o 65º melhor restaurante da América Latina pelo “World’s 50th Best Awards”; e está à frente do intimista The Liquor Store, casa que privilegia a conexão entre cliente e bartender e entrega coquetéis preparados com excelência.
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