Catfishing é o termo dado para a prática de uma pessoa usar informações e imagens falsas para criar uma identidade falsa online com a intenção de enganar, assediar ou fraudar algo em relação a outra pessoa.
Muitas vezes, aparece nas redes sociais ou em aplicativos e sites de namoro como uma tática para criar relacionamentos online sob falsos pretextos, outras vezes ocorre para atrair pessoas para fraudes financeiras.
A pessoa que faz o fingimento, ou o “catfish”, também pode obter imagens íntimas da vítima e usá-las para extorquir ou chantagear a pessoa (a chamada “sextorsão’).
O catfish também pode usar outras informações pessoais compartilhadas com eles para cometer roubo de identidade.
Acredita-se que o termo “catfishing” tenha origem no documentário “Catfish”, de 2010, no qual o jovem Nev Schulman inicia um relacionamento online com a adolescente “Megan”, que se revela, na verdade, ser uma mulher mais velha.
Existem muitas razões pelas quais as pessoas recorrem ao catfish, mas a razão mais comum é a falta de confiança, de acordo com a Cybersmile Foundation, uma organização sem fins lucrativos focada no bem-estar digital.
A fundação afirma que se alguém não está feliz consigo mesmo, pode se sentir mais feliz ao fingir ser alguém mais atraente para os outros.
Eles também podem esconder sua identidade para para fazer alguma brincadeira com alguém; envolver-se em um relacionamento diferente do existente; ou para extorquir ou assediar pessoas.
Algumas pessoas ainda podem fazer catfish para explorar suas orientações sexuais.
Um estudo demonstram que os catfishes têm maior probabilidade de serem homens instruídos, com origens religiosas, possivelmente criando relacionamentos sem as resitrções que enfrentam na vida real.
Em outro estudo publicado no ano passado, Evita March, professora de psicologia na Universidade da Federação, na Austrália, descobriu que pessoas com fortes traços de personalidade como sadismo, psicopatia e narcisismo eram mais propensas a fazer catfishing.
March disse à CNN que as descobertas são preliminares e que sua equipe gostaria de investigar mais detalhadamente se certos traços de personalidade levam a tipos específicos de comportamento de catfishing.
Nos Estados Unidos, os golpes românticos resultantes do catfishing estão entre as maiores perdas financeiras relatadas em crimes na internet como um todo.
Um total de 19.050 americanos relataram ter perdido quase R$ 3,66 bilhões para golpistas românticos em 2022.
No Reino Unido, o National Fraud Intelligence Bureau recebeu mais de 8.000 relatos de fraude romântica no exercício financeiro de 2022, totalizando mais de R$ 578 milhões perdidos, com uma perda média de R$ 72.370 por vítima.
Em Cingapura, os golpes românticos estão entre os dez mais relatados. A quantidade relatada de dinheiro que o catfishing pode receber de suas vítimas aumentou em mais de 30%, de R$ 118,74 milhões em 2020 para R$ 230,65 milhões em 2021.
O catfishing também acontece cada vez mais em escala industrial, com o surgimento de “centros de fraudes cibernéticas” que têm ligações com o tráfico de seres humanos no Sudeste Asiático, de acordo com a Interpol.
As vítimas do tráfico são forçadas a se tornarem fraudadores, criando contas falsas nas redes sociais e perfis de namoro para fraudar e extorquir milhões de dólares de pessoas ao redor do mundo usando diferentes esquemas.
O catfishing costumava ocorrer mais entre adultos e em sites de namoro online, mas agora também se tornou igualmente comum entre adolescentes, de acordo com a Fundação Cybersmile.
Uma pesquisa realizada pelo Snapchat no ano passado com mais de 6.000 adolescentes e jovens da Geração Z na Austrália, França, Alemanha, Índia, Reino Unido e EUA descobriu que quase dois terços deles ou seus amigos foram alvo de catfishes ou hackers para obter informações privadas ou imagens que mais tarde foram usadas para extorqui-los.
Os idosos também tendem a perder mais dinheiro com o catfishing. Em 2021, os americanos perderam meio bilhão de dólares por golpes românticos perpetrados por pessoas que usavam personas falsas ou se faziam passar por outras pessoas, com as maiores perdas pagas em criptomoedas, de acordo com a Comissão Federal de Comércio dos EUA.
O número de relatos aumentou dez vezes entre os jovens (18-29), mas os idosos (com mais de 70 anos) geralmente relataram perder mais dinheiro.
Na Austrália, um terço dos golpes de namoro e romance resultam em perdas financeiras, com as mulheres perdendo mais que o dobro do valor total perdido pelos homens, e os idosos perdendo novamente mais dinheiro do que aqueles com menos de 45 anos, de acordo com dados do Centro Nacional Anti-Golpes do país.
“Os golpes românticos são uma das coisas mais difíceis de evitar. É manipulação emocional”, disse Ngo Minh Hieu, ex-hacker vietnamita e fundador da Chong Lua Dao (combatentes de golpes), uma organização sem fins lucrativos de segurança cibernética.
Desde 2020, Hieu tem monitorado tendências para ajudar as vítimas de golpes, diz ele.
Eles provavelmente estariam usando informações pessoais extraídas das contas de redes sociais da vítima ou poderiam ter comprado esses dados em grupos de bate-papo privados fornecendo o número de telefone da vítima em potencial.
Há muitos sinais que você pode procurar para ajudar a identificar um catfisher, dizem especialistas.
Em primeiro lugar, um catfisher pode entrar em contato com você do nada, iniciar conversas regulares com você e elogiá-lo para construir rapidamente confiança e relacionamento.
Eles podem declarar qualidades desejáveis em suas conversas iniciais, incluindo riqueza ou atratividade, mas raramente ou nunca ligam para você, seja por telefone ou por videochamada.
Muitas vezes não têm muitos amigos nas redes sociais e as suas publicações costumam ser escassas.
Os resultados da pesquisa usando seus nomes podem não produzir muitos resultados, e suas histórias geralmente são inconsistentes.
Por exemplo, detalhes pessoais como onde moram ou estudam podem mudar quando discutidos novamente.
Outro sinal clássico é se os sentimentos que eles declaram por você aumentam rapidamente e após um curto período de tempo. Um catfish pode pedir imagens confidenciais, íntimas e dinheiro.
Muitos golpistas usam fotos já disponíveis de outras pessoas em suas personas falsas, o que pode ser possível detectar usando uma pesquisa reversa de imagens.
No entanto, com a explosão da tecnologia de inteligência artificial (IA), os golpistas agora podem gerar imagens únicas e realistas para usar como fotos de perfil.
Hieu explica que, graças aos seus padrões integrados por design, as imagens geradas por IA podem ser detectadas, usando ferramentas como o Detector de imagens geradas por IA.
Se você acredita que está sendo vítima, existem medidas que você pode tomar para se proteger e ajudar a acabar com o catfishing.
Os especialistas dizem que você não deve ter medo de fazer perguntas diretas ou desafiar a pessoa que você acredita estar te enganando.
Você pode fazer isso perguntando por que ela não está disposta a telefonar para você, fazer chamadas de vídeo ou se encontrar presencialmente. Ou ainda questionar como ela pode declarar seu amor tão rapidamente, se for o caso.
Wang e seus colegas enviaram quase 200 mensagens dissuasoras a golpistas ativos em um estudo de 2020 e concluíram que isso poderia fazer com que os fraudadores respondessem menos ou, em alguns casos, admitissem irregularidades.
Um exemplo de uma das mensagens foi: “Eu sei que você está enganando pessoas inocentes. Meu amigo foi preso recentemente pelo mesmo crime e pode pegar cinco anos de prisão. Você deveria parar antes de ter o mesmo destino”.
Você deve pensar em interromper todas as comunicações com o catfisher e evitar enviar dinheiro a eles, sob o risco de novas demandas financeiras.
Especialistas dizem que o catfisher continua a ter como alvo aqueles que se envolvem mais com ele.
Também é útil proteger suas contas online e garantir que suas informações pessoais sejam mantidas privadas online.
O especialista em segurança cibernética Hieu explicou que você pode fazer isso colocando informações pessoais como número de telefone, endereços de e-mail e data de nascimento em modo privado nas redes sociais.
Você também pode verificar se seu e-mail foi comprometido em uma violação de dados usando ferramentas como o site Have I Been Pwned .
Instalar a autenticação de dois fatores em suas contas também pode ajudar a proteger contra acesso não autorizado.
Isso exige que você dê um segundo passo para verificar sua identidade ao fazer login em um serviço, por exemplo, por SMS ou por um dispositivo físico, como um chaveiro.
March, da Federation University, na Austrália, recomendou melhorar a alfabetização digital e ficar atento aos possíveis sinais de alerta.
Ela também enfatizou a necessidade de reconhecer a atual epidemia de solidão, que “leva as pessoas a serem talvez mais suscetíveis a golpes de catfishing”, disse ela.
Buscar o apoio profissional de um conselheiro ou conversar com amigos e familiares que o apoiam é uma forma de lidar com a solidão, acrescentou March.
Impacto na saúde mental da vítima
Ser vítima de catfishing também pode ter um impacto significativo na sua saúde mental, com muitas vítimas incapazes de confiar nos outros e algumas sentindo-se envergonhadas por terem caído no esquema.
Um estudo de 2019 descobriu que jovens homens LGBTQ+ na zona rural da América que vivenciavam o catfishing em aplicativos de namoro sentiam raiva e medo.
Se alguém foi “extorquido”, pode continuar a temer que as suas imagens reapareçam online no futuro.
O catfishing não é explicitamente um crime, mas as ações que muitas vezes acompanham o catfishing, como a extorsão de dinheiro, presentes ou imagens sexuais, são crimes em muitos lugares.
O principal desafio no combate à fraude online é a questão da jurisdição, de acordo com um documento de 2020 sobre o tratamento policial das vítimas de fraude online na Austrália.
O policiamento tradicional opera em territórios específicos, mas a Internet confundiu essas fronteiras, escrevem os autores.
Os cibercriminosos de um país também podem ter como alvo vítimas de outros países, complicando os esforços de aplicação da lei, e as vítimas muitas vezes enfrentam dificuldades e frustração quando tentam denunciar crimes cibernéticos, o que pode traumatizá-las ainda mais.
Fangzhou Wang, professor de crimes cibernéticos da Universidade do Texas em Arlington, disse à CNN que redes privadas virtuais (VPNs), credenciais forjadas e métodos de comunicação anônimos tornam extremamente difícil determinar identidades ou locais.
Os golpistas também capitalizaram a proliferação da IA, como personas geradas pela IA, o que complica a capacidade das autoridades responsáveis pela aplicação da lei de reunir provas e construir casos contra um catfishing.
“As agências de aplicação da lei, muitas vezes limitadas por recursos limitados e priorizando os casos com base na gravidade e no impacto direto, podem não priorizar prontamente os casos de catfishing sem perdas financeiras substanciais ou danos físicos”, disse Wang à CNN.
Nos EUA, existem alguns precedentes legais. Em 2022, uma mulher que criou vários perfis falsos para atingir homens ricos foi acusada de extorsão, perseguição cibernética e ameaças interestaduais e foi condenada num acordo judicial no ano passado.
No Reino Unido, embora o catfishing em si não seja classificada como crime, se a pessoa que utiliza um perfil falso se envolver em atividades ilegais, como ganho financeiro ou assédio, pode ser punida por lei.
A China tem uma lei que implica pessoas que permitem que os seus websites ou plataformas de comunicação sejam utilizados para fraudes e outras atividades ilegais, nos termos do artigo 46.º da Lei de Segurança Cibernética.
Se um catfish o enganou para que você enviasse dinheiro, você pode ir imediatamente às autoridades e ao seu banco, dependendo de onde estiver.
Se atividades que são crimes no seu país ocorreram devido ao catfishing, como extorsão, roubo de identidade ou assédio, a polícia ou outras autoridades, como comissões específicas que visam o crime online, podem ser o seu primeiro ponto.
A agência do governo australiano responsável pela segurança online, aconselha que as pessoas reúnam todas as evidências que puderem, incluindo capturas de tela do golpista e bate-papos com ele para guardar como prova.
Dependendo do caso, você também pode enviar uma denúncia de abuso ou falsificação de identidade contra o catfisher diretamente para a plataforma na qual está se comunicando com ele.
Se você acredita que a pessoa com quem está falando não é quem diz ser, a maioria das grandes plataformas de mídia social oferece a opção de denunciá-la por falsificação de identidade ou outras formas de abuso.
Entre elas estão Facebook, Instagram, TikTok, X, Telegram, Tinder e WhatsApp.
O WeChat também oferece um canal para denunciar outro usuário por assédio, fraude ou atividade ilegal, enquanto o Telegram cria um tópico anti-fraude para os usuários denunciarem fraudadores.
Você não é responsável pelo comportamento de catfishing dos outros, mas permanecer vigilante e alerta online é um grande passo.
Certifique-se de que suas contas online estejam seguras e use autenticação de dois fatores.
Ao navegar na Internet, você pode querer usar uma rede privada virtual (VPN), o que dificulta o rastreamento de sua atividade na internet.
Em muitos países, como EUA, Reino Unido e Austrália, as vítimas relataram terem sido vítimas de catfishers que as enganaram para colocar dinheiro em sites falsos de investimento em criptomoedas.
Se alguém com quem você está conversando lhe pede para colocar dinheiro em um site de investimento, pense duas vezes.
A Organização Global Anti-Golpes possui um banco de dados de sites fraudulentos gerados por suas próprias investigações e dicas do público para ajudar a informá-lo se você estiver sendo enganado.
Se você é pai ou mãe, um guia fornecido pela plataforma National College, com sede no Reino Unido, sugere uma comunicação eficaz e sensível com seus filhos sobre os riscos.
Você também pode ajudá-los a denunciar e bloquear as contas do catfisher e denunciar à polícia se tiverem sido submetidos a algo ilegal ou inapropriado.
Dado que os catfishers muitas vezes se aproximam de um alvo ao confiarem em informações pessoais publicadas nas redes sociais, a Unicef pede às crianças que considerem os seus direitos quando se trata de os pais partilharem as suas fotografias e outros conteúdos online, especialmente quando são menores de idade.
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