O Irã tentou justificar o ataque de terça-feira 1 a Israel como uma resposta em defesa do Hezbollah, pela morte do líder do grupo terrorista, Hassan Nasrallah.
Isso no entanto, foi apenas uma desculpa para encobrir sua real intenção com essa agressão, na opinião do professor de Relações Internacionais da Universidade de São Paulo (USP), Samuel Feldberg.
O que motivou o Irã a essa ação foram os próprios interesses estratégicos do país em tentar conquistar a hegemonia na região.
“Não creio que a resposta do Irã tenha sido para apoiar o Hezbollah”, ressaltou Feldberg a Oeste. Para ele, mais impacto do que a morte de Nasrallah, em bombardeio israelense a Beirute, foi a ação que eliminou o líder do Hamas, Ismail Hanyeh, em julho, dentro de território iraniano, o que expôs ao mundo o sistema de proteção do país.
“O Irã atacou porque queria se manter relevante e ainda devia uma resposta ao assassinato de Haniyeh.”
O Irã, ao agir dessa forma, busca reafirmar seu papel de liderança regional e sua postura contra Israel é uma narrativa fundamental para sua política externa.
Com o assassinato de Haniyeh, a pressão sobre o governo iraniano cresceu, exigindo, na visão do governo extremista, uma retaliação que preservasse sua posição de poder.
Além disso, o ataque serviu para manter o Irã relevante no cenário geopolítico, ao mostrar uma aparente capacidade de resposta em meio às tensões crescentes na região. Tudo dentro de uma guerra de propaganda.
Os interesses iranianos vão além do simples apoio ao Hezbollah. O Hezbollah, embora seja um aliado importante, é parte de um projeto maior do Irã de exportar a revolução islâmica para áreas de maioria xiita, como o Líbano.
Neste sentido, por esta visão de Feldberg, é simplista a afirmação de que o Hezbollah surgiu, em 1982, por causa apenas da invasão israelense ao Líbano naquele ano.
As Forças de Defesa de Israel (FDI) entraram no país, em meio à guerra civil libanesa, para neutralizar as ações da Organização para a Libertação da Palestina, comandada por Yasser Arafat. Na ocasião, o grupo estava organizando diversos ataques terroristas no norte de Israel.
“O Hezbollah surgiu baseado na presença israelense no sul do Líbano, ainda que em um primeiro momento os xiitas tenham saudado a entrada israelense para libertá-los dos palestinos”, lembra o professor da USP.
“Antes disso, porém, pouco tempo depois a Revolução Iraniana de 1979, o Hezbollah já era visto pelo Irã como parte de uma estratégia de longo prazo para consolidar a influência iraniana na região.”
Ausência de fronteiras
O conflito entre Israel e Hezbollah, conforme diz Feldberg, é uma maneira de o Irã indiretamente lutar contra Israel.
“A ausência de uma fronteira direta entre Irã e Israel força ambos os países a travarem uma guerra indireta, utilizando aliados e ataques aéreos estratégicos.”
Para ele, o fato de o Irã ter maior número de armamentos em alguns itens, como blindados ou tanques, não indica superioridade em um confronto militar com as FDI.
“Os últimos embates demonstraram que a diferença está na qualidade do armamento e do elemento humano”, disse o professor, ao destacar o papel da tecnologia e da capacidade militar como fatores decisivos nesse confronto.
Exemplo disso foi a eficiência tecnológica do sistema de defesa antimísseis de Israel, que repeliu, quase na totalidade, os dois últimos ataques iranianos, em abril e em outubro.