O basquete é um dos esportes mais relevantes do mundo, mas, por influência do estilo norte-americano da NBA, tornou-se também um dos principais espetáculos esportivos do planeta. O Brasil, ao que tudo indica, não escapou dessa dança.
O maior país da América Latina tem uma base de 53 milhões de torcedores da NBA. Desse total, 30% são entusiastas, 30% são casuais e 40% são apenas curiosos. Segundo dados do Ibope Repucom, o público brasileiro de 11 a 24 anos que acompanham a NBA passou de 6,4 milhões em 2020 para 20 milhões em 2024.
Danilo Castro, ex-jogador de basquete e comentarista de NBA na TV Bandeirantes, afirmou a Oeste que a liga norte-americana incentiva jovens brasileiros a se tornarem atletas.
“Os jovens brasileiros estão vendo o suprassumo do basquete no mundo”, diz Castro. “Você acompanha jogadas espetaculares, jogadores fisicamente privilegiados e tenta buscar aquilo antes de passar por algumas etapas. A nova geração é bastante imediatista. Os jovens querem buscar um nível de excelência com um mês de treino. Isso não vai acontecer.”
O Google revelou que, em 2022, as pesquisas por basquete aumentaram em 89% no Brasil. O engajamento do público com o esporte, em especial com a NBA, tornou o país um alvo de investimentos. Do ponto de vista corporativo, não existe encaixe melhor do que esse.
“O Brasil está entre os três mercados prioritários e estratégicos da liga no mundo”, informou Rodrigo Vicentini, responsável pela NBA no Brasil, ao portal NeoFeed.
Para Castro, a velocidade da informação é uma das principais razões para o crescimento exponencial da marca em território brasileiro. A presença midiática da NBA e dos atletas nas redes sociais criam um ecossistema favorável para o consumo e propagação da liga.
“Hoje você tem tudo na palma da mão com o celular”, afirmou o comentarista. “Se acontecer uma jogada, basta dez segundos para ela já estar no seu Instagram. Estar no TikTok.”
Divulgação multimídia
A presença da NBA no Brasil se dá de forma multiplataforma. Na temporada 2023-24, que chegou ao fim da noite de segunda-feira 17, os jogos tiveram vez vez na TV por assinatura (ESPN) e serviço de streaming (Prime Video). Para a televisão aberta, a Band transmitiu as finais, em que o Boston Celtics venceu o Dallas Mavericks por 4 a 1.
Além disso, a própria liga marca presença nas redes sociais voltadas ao público brasileiro. Somente no Instagram, o perfil NBA Brasil soma 3 milhões de seguidores. Pelo YouTube, a marca conta com 1,1 milhão de inscritos. A plataforma de vídeos serve como mais uma mídia para divulgação das partidas. Para as finais, o canal exibiu os pré-jogos.
Evento da liga espera juntar 45 mil pessoas em São Paulo
Pelo sexto ano consecutivo, a companhia realiza no Brasil o único evento da marca fora dos Estados Unidos. Trata-se da NBA House — que reúne torcedores e influenciadores para assistir às finais da competição. A festa em 2024 ocorre de 6 a 23 de junho, no Parque Villa-Lobos, em São Paulo. A expectativa é a de que 45 mil pessoas passem pelo evento.
Além da NBA House, outros ativos da companhia encantam os fãs brasileiros. A cidade de Gramado, no interior do Rio Grande do Sul, por exemplo, foi escolhida para receber o primeiro parque de diversões da liga fora dos EUA — o NBA Park.
Dentre os conteúdos no canal do YouTube da liga no Brasil, destaca-se a série NBA na Estrada. O documentário, apresentado por um quarteto de influenciadores, viaja de motorhome por todos os Estados Unidos para mostrar os bastidores do campeonato norte-americano ao público brasileiro.
“Se tem uma coisa que a gente tem que elogiar, é que a NBA sabe valorizar o produto que ela tem”, afirmou Castro. “Seja a marca do time, jogadores, arenas, NBA Cares, NBA Jr… Eles sabem como vender o produto deles de uma forma muito atrativa.”
Espaço para a NBA crescer ainda mais no país
O narrador da NBA no Prime Video, Rômulo Mendonça, afirma a Oeste que o próximo passo para a expansão da liga no Brasil é o retorno de partidas oficiais no país.
“O próximo passo natural é voltar a ter jogos da NBA no Brasil”, avalia Mendonça. “Mas de uma forma mais relevante, ou seja, com jogos válidos de fato pela temporada. Até hoje só tivemos jogos de pré-temporada e isso já faz praticamente uma década.”
Para o locutor esportivo, a proximidade da liga profissional de futebol americano dos EUA com o Brasil pode fazer com que a NBA pense em mais estratégias para o público sul-americano. Nesse sentido, ele lembra que a National Football League (NFL) realizará o confronto entre Philadelphia Eagles e Green Bay Packers diretamente da Neo Química Arena, estádio do Corinthians, em São Paulo. O jogo está programado para 6 de setembro. Com valores de R$ 285 a R$ 2,5 mil, o primeiro lote de vendas se esgotou em três horas.
“Talvez o primeiro jogo de NFL agora em setembro, já valendo pela temporada regular, pressione um movimento de retorno mais relevante da NBA ao Brasil”, diz Mendonça.
Marcas investem na competição
O grande alcance no Brasil não beneficia apenas a expansão da liga, mas também patrocinadores que querem surfar na gigantesca onda da competição. Atualmente, oito marcas estão vinculadas à NBA Brasil. São elas:
- Budweiser (cerveja);
- Gatorade (isotônico);
- Helmann’s (maionese);
- Popeye’s (franquia de fast-food);
- Ruffles (snacks);
- Sadia (alimento);
- Sustagen (suplemento nutricional);
- ESPN (veículo de mídia); e
- XP Investimentos (corretora).
Parceira da competição, a XP Investimentos, por exemplo, espera lançar produtos licenciados, cartões temáticos, descontos e promoções.
“A NBA é referência absoluta de organização e modelo de negócio”, diz Rômulo Mendonça.
Crescimento da NBA no Brasil pode afetar a liga nacional de basquete?
O crescimento da NBA no Brasil é um ponto positivo para os amantes da marca. Para Danilo Castro, no entanto, é preciso que as ligas nacionais brasileiras atinjam outras camadas para poder fazer tanto sucesso quanto o torneio dos EUA.
O alcance da liga nacional é inferior ao da norte-americana. Nas redes sociais, o Novo Brasil Basquete (NBB) fica para atrás em indicadores. No Instagram, por exemplo, a conta do NBB soma 462 mil seguidores — cerca de 17% se comparado com o perfil NBA Brasil na mesma plataforma.
No YouTube, a competição brasileira tem 170 mil inscritos. Ou seja, pouco mais de 10% no comparativo com o canal NBA Brasil.
“Você tem que popularizar o basquete nacional para quem quer que seja”, afirmou o ex-jogador. “Esse basquete tem que começar em nível escolar, assim como é nos EUA. Com mais pessoas jogando você vai ter mais competição e dali extrair o que tem de melhor dentro do seu país.”
Gabriel de Souza é estagiário na Revista Oeste. Sob supervisão de Anderson Scardoelli