O professor emérito de história Benny Morris disse que o primeiro-ministro de Israel, Benjamin Netanyahu, está certo em “invadir Rafah e acabar com o Hamas”. A declaração ocorreu em artigo publicado no jornal The New York Times, nesta quinta-feira, 11.
Morris foi docente especialista em Oriente Médio da Universidade Ben-Gurion, em Israel, e autor do livro 1948: Uma História da Primeira Guerra Árabe-Israelense. Ele faz questão de externar que é crítico do governo de Netanyahu, inclusive o chama de “incompetente” e o acusa de ser “corrupto”. O acadêmico, contudo, destaca a necessidade de Israel continuar com as ofensivas militares na Faixa de Gaza para destruir o grupo terrorista.
“Netanyahu está certo ao considerar que é crucial para Israel conquistar Rafah”, escreveu Morris. “E destruir os batalhões do Hamas abrigados nessa cidade no extremo sul da Faixa de Gaza protegidos por um escudo humano de 1,4 milhão de moradores e refugiados vindos do norte.”
O docente explica que Israel ainda não decidiu se realmente atacará Rafah — região mais populosa da Faixa de Gaza, onde estão centenas de milhares de refugiados. Além disso, importantes combatentes do Hamas também estão fugidos na cidade no sul de Gaza.
“Se isso não ocorrer, o Hamas sobreviverá para matar e estuprar novamente — e seu líder, Yahya Sinwar, emergirá de seu esconderijo declarando vitória”, escreveu o professor. “E ele [Netanyahu] estará certo. Para a paz palestino-israelense ter qualquer chance, em nome da estabilidade regional e pelo futuro bem-estar de Israel e dos israelenses, especialmente os que vivem no sul do país, o Hamas tem de ser aniquilado.”
Historiador defende ofensiva contra o Hamas
O governo norte-americano de Joe Biden cobra que Israel desista da ofensiva, mas Netanyahu disse que já estabeleceu uma data para a invasão, que não foi divulgada. O presidente dos EUA teme que muitos civis sejam atingidos pelo ataque. Apesar disso, o historiador defende o fato de que as ações militares sejam realizadas na região.
“É evidente que existem razões formidáveis para Israel se abster de invadir Rafah”, disse Morris. “Primeiramente — e acima de tudo — aquele escudo humano. Atacar Rafah provocará inevitavelmente muitas mortes de civis, apesar de Israel garantir que removerá os civis do caminho de suas tropas antes de lançar a ofensiva.”
De acordo com o professor, as possíveis mortes de civis devem gerar um maior fluxo de ajuda humanitária que atravessa a fronteira Egito–Gaza. Isso deve desencadear uma maior ameaça de sanções internacionais, que já estão mobilizadas na Organização das Nações Unidas (ONU). Além disso, a ofensiva israelense pode deixar a relação do país com o Egito ainda mais complicada.
“O Egito insinuou que essa ofensiva israelense poderia até subverter o tratado de paz entre Israel e Egito”, explicou Morris. “Considerado pelo governo israelense uma pedra fundamental de sua segurança nacional.”
Embora defenda a ofensiva, o historiador teme que a ação em Rafah desencadeie uma guerra em escala total com o Hezbollah, que tem base no Líbano. O grupo terrorista tem atacado comunidades próximas à fronteira norte de Israel e posições militares israelenses.
“Uma guerra Israel–Hezbollah poderia prenunciar um conflito regional ainda maior”, afirmou Morris, no jornal The New York Times. “Incluindo um confronto direto entre Israel e Irã, que o governo Biden se esforça arduamente para evitar desde 7 de outubro, temendo que os EUA também possam ser sugados pelo turbilhão.”
O docente defende a ideia de que a invasão em Rafah ocorra por causa da iminente possibilidade de o Hamas se reestruturar e voltar a atacar Israel. Segundo analistas consultados por Morris, os terroristas podem usar os túneis e reconquistar, gradualmente, toda a Faixa de Gaza.
“Acima de tudo, se não tomar Rafah e não esmagar as últimas formações militares organizadas do Hamas e suas estruturas de governo, Israel passará uma imagem de fraqueza e derrota para seus inimigos, de uma presa fácil para o próximo possível agressor”, analisou Morris. “Paradoxalmente, o espetáculo da debilidade israelense — tanto quanto uma ofensiva em Rafah — poderia incitar o Hezbollah a apostar em uma guerra em escala total.”