O ex-secretário de Políticas Agrícolas, Neri Geller, presta depoimento na Comissão de Agricultura da Câmara dos Deputados na manhã desta quarta-feira, 18. Ele foi demitido pelo governo de Luiz Inácio Lula da Silva (PT) depois da suspensão do “leilão do arroz” por suspeitas de irregularidades.
O leilão do arroz realizado pela Companhia Nacional de Abastecimento (Conab) arrematou 263.730 toneladas do cereal de quatro empresas por R$ 1,3 bilhão. Logo depois do pregão diversas denúncias apareceram. Entre elas, o possível uso de empresas de fachada. O caso que chama mais atenção é o da principal vencedora do leilão, a empresa Wisley A. de Sousa.
O governo Lula decidiu fazer o leilão arroz dias depois do início das enchentes no Rio Grande do Sul, responsável por 70% da produção nacional do cereal. À época, produtores rurais e especialistas já tinham informado que a compra de arroz era desnecessária, por não haver risco de desabastecimento.
Em 7 de maio, o ministro da Agricultura, Carlos Fávaro, afirmou que o governo decidiu comprar arroz para evitar a alta de preços diante da dificuldade que o Estado passava para transportar o grão para o país.
Já Neri Geller tomou um posicionamento diferente do Executivo Federal. Em entrevista à Jovem Pan News, o então secretário disse ter alertado que o Brasil tinha arroz suficiente para atender à “demanda nacional.”
“Sempre alertávamos o governo de que o estoque privado do Brasil tinha suficiente para atender à demanda nacional”, garantiu Neri Geller. “Isso com dados claros da colheita do RS.”
Carlos Fávaro também vai falar sobre leilão do arroz
O ministro da Agricultura, Carlos Fávaro, também será escutado pela Comissão de Agricultura. Vai a convite ao plenário na quarta-feira 19. Deve ser questionado quanto à demissão de Neri Geller e sobre o leilão do arroz do governo Lula.
“É importante destacar que o ministro Carlos Fávaro já tem dado sinais de fragilidade em sua gestão há muito tempo”, afirmou Evair de Melo. “Pode ser que ele seja, sim, um dos operadores dessas questões obscuras do leilão do arroz.”
O presidente da comissão afirmou que Fávaro, em seu papel como ministro, “deveria ter escutado os setores produtivo e atacadista, que já tinham revelado que não havia necessidade de se importar arroz. Até porque, se houvesse o desabastecimento, os próprios segmentos já estão preparados para realizar esse tipo de operação.”
“Aconselho ao ministro que venha de forma muito humilde e queira, de fato, esclarecer nossas dúvidas”, declarou Evair. Se vier de forma dissimulada, pode estar se afundando na própria cova. E digo isso porque ele já perdeu seu prestígio no setor há muito tempo. Agora, corre o risco de se complicar ainda mais do ponto de vista político.”
Wisley e o leilão do arroz
Conforme mostrou uma reportagem de Oeste, a Wisley A. de Sousa tem o nome fantasia “Queijo Minas” e atua na região central do Macapá, a capital do Estado do Amapá. No leilão da Conab, essa empresa que comercializa queijos conseguiu um contrato para importar 147,3 mil e receber em troca R$ 736,3 milhões.
A Conab firmou contratos para a aquisição de quase 264 mil toneladas de arroz no leilão. Ao todo, quatro empresas conseguiram os lotes. Além da Wisley, também estão nessa lista: Zafira Trading (73,8 mil toneladas), ASR Locação de Veículos e Máquinas (112,15 mil toneladas) e Icefruit (98,7 mil toneladas).
A companhia alega que o leilão é necessário para evitar o desabastecimento e o impacto econômico com o desastre causado com a enchentes no Rio Grande do Sul. Contudo, os números da própria Conab mostram que a maior parte da colheita ocorreu antes das inundações e que a safra gaúcha de arroz será maior que a anterior.