O presidente da Comissão de Agricultura da Câmara dos Deputados, Evair de Melo (PP-ES), disse que o convite para o depoimento de Neri Geller, ex-secretário de política agrícola do Ministério da Agricultura, visa a elucidar as “obscuridades por trás do leilão do arroz”.
Neri Geller foi exonerado da pasta depois de suspeitas de irregularidades no leilão do arroz. A Polícia Federal (PF) investiga a licitação, que foi oficialmente suspensa pela Companhia Nacional de Abastecimento (Conab). O pregão arrematou 263.730 toneladas do cereal de quatro empresas por R$ 1,3 bilhão.
Ao anunciar o novo secretário de Políticas Agrícolas, o ministério alegou que Neri Geller teria “colocado o cargo à disposição” para concorrer às eleições. Em entrevista ao jornal Folha de S.Paulo, ele negou o pedido de exoneração. Disse não ter responsabilidade sobre o leilão do arroz e que até foi ignorado pelo ministro Carlos Fávaro.
Segundo Evair de Melo, o ex-secretário é “o elo mais fraco do que parece ser uma grande falcatrua do governo” de Luiz Inácio Lula da Silva. “Achamos muito estranho esse comportamento do Executivo, que inclui a exoneração de Neri Geller”, disse. “Todas essas ações nos passam a impressão de que há algo muito errado.”
“Tudo isso se agrava com a licença remunerada do secretário da Conab, Thiago José dos Santos, responsável pelo leilão do arroz”, afirmou. “A pessoa responsável por esse tipo de operação sair e logo depois a Polícia Federal abrir uma investigação nos soa muito estranho. Sabe-se que onde há fumaça, há fogo.”
O presidente da Comissão de Agricultura disse que “não haveria necessidade alguma de atuação da PF” se não existisse algo “que se queira acobertar”. “Há interesse obscuro na importação de arroz. Sabemos que o governo já tinha esse interesse nisso, e se aproveitou da tragédia do Rio Grande do Sul para lançar o leilão”, argumentou.
Evair de Melo ainda salientou que “os resultados mostram a fragilidade da Conab” não só quanto ao leilão do arroz, mas “em outras atividades.” Destacou que vai buscar apurar se “a sanha dos esquemas fraudulentos do velho PT voltou com tudo neste governo.”
Na audiência desta terça-feira, 18, serão escutados representantes das seguintes entidades:
- Associação das Empresas Cerealistas do Brasil (Acebra);
- Federação da Agricultura do Estado do Rio Grande do Sul (Farsul);
- Organização das Cooperativas Brasileiras (OCB);
- Companhia Nacional de Abastecimento (Conab).
Carlos Fávaro também vai falar sobre leilão do arroz
O ministro da Agricultura, Carlos Fávaro, também será escutado pela Comissão de Agricultura. Vai a convite ao plenário na quarta-feira 19. Deve ser questionado quanto à demissão de Neri Geller e sobre o leilão do arroz do governo Lula.
“É importante destacar que o ministro Carlos Fávaro já tem dado sinais de fragilidade em sua gestão há muito tempo”, afirmou Evair de Melo. “Pode ser que ele seja, sim, um dos operadores dessas questões obscuras do leilão do arroz.”
O presidente da comissão afirmou que Fávaro, em seu papel como ministro, “deveria ter escutado os setores produtivo e atacadista, que já tinham revelado que não havia necessidade de se importar arroz. Até porque, se houvesse o desabastecimento, os próprios segmentos já estão preparados para realizar esse tipo de operação.”
“Aconselho ao ministro que venha de forma muito humilde e queira, de fato, esclarecer nossas dúvidas”, declarou Evair. Se vier de forma dissimulada, pode estar se afundando na própria cova. E digo isso porque ele já perdeu seu prestígio no setor há muito tempo. Agora, corre o risco de se complicar ainda mais do ponto de vista político.”