A NASA listou os destaques das 500 pesquisas tocadas na Estação Espacial Internacional (ISS, na sigla em inglês) entre 2022 e 2023. O texto, escrito pela jornalista Melissa Gaskill, do programa de pesquisa da ISS, foi publicado nesta terça-feira (27) no site da agência espacial estadunidense.
A ISS é um laboratório de pesquisa em microgravidade que hospeda demonstrações de tecnologia e investigações científicas. Até o momento, mais de 3,7 mil investigações foram realizadas na estação, segundo a NASA. Ainda de acordo com a agência, essas pesquisas geraram aproximadamente 500 artigos publicados em periódicos científicos.
Resultados da ciência na ISS em 2023
A lista escrita por Melissa resume os resultados publicados entre outubro de 2022 e outubro de 2023 (também disponíveis em detalhes numa publicação anual da NASA). Confira abaixo:
Nova perspectiva sobre pulsares
Estrelas de nêutrons, matéria ultra-densa deixada para trás quando estrelas massivas explodem como supernovas, também são chamadas de pulsares porque giram e emitem radiação de raios-X em feixes que varrem o céu igual a faróis. O Explorador da Composição Interna de Estrelas de Nêutrons (NICER) coleta essa radiação para estudar a estrutura, dinâmica e energia dos pulsares.
Pesquisadores usaram dados do NICER para calcular rotações de seis pulsares e atualizar modelos matemáticos de suas propriedades de giro. Medidas precisas aprimoram o entendimento dos pulsares, incluindo sua produção de ondas gravitacionais, e ajudam a abordar questões fundamentais sobre matéria e gravidade.
Aprendendo com raios
O Monitor de Interações Atmosfera-Espaço (ASIM) estuda como descargas elétricas na alta atmosfera geradas por tempestades severas afetam a atmosfera e o clima da Terra. Esses eventos ocorrem bem acima das altitudes de raios e nuvens de tempestade normais.
Usando dados do ASIM, pesquisadores relataram as primeiras observações detalhadas da iniciação de um lampejo, de raios dentro de nuvens. Entender como as tempestades perturbam a alta atmosfera poderia melhorar modelos atmosféricos e previsões climáticas e meteorológicas.
Regeneração de tecidos no espaço
A pesquisa sobre regeneração de tecidos e defeito ósseo – Pesquisa em Roedores-4 (CASIS) – patrocinada pelo Laboratório Nacional da ISS examinou mecanismos de cura de feridas em microgravidade.
Pesquisadores descobriram que a microgravidade afetou os componentes fibrosos e celulares do tecido da pele. Estruturas fibrosas no tecido conjuntivo fornecem estrutura e proteção para os órgãos do corpo. Essa descoberta é um passo inicial para usar a regeneração do tecido conjuntivo para tratar doenças e lesões para futuros exploradores espaciais.
Músculos em microgravidade
A Agência de Exploração Aeroespacial Japonesa (JAXA) desenvolveu o Sistema de Pesquisa de Gravidade Artificial Múltipla (MARS), que gera gravidade artificial no espaço.
Três investigações da JAXA (MHU-1, MHU-4 e MHU-5) usaram o sistema de gravidade artificial para examinar o efeito em músculos esqueléticos de diferentes cargas gravitacionais – microgravidade, gravidade lunar (1/6 g) e gravidade terrestre (1 g).
Os resultados mostram que a gravidade lunar protege contra a perda de alguns tipos de fibras musculares, mas não de outros. Níveis gravitacionais diferentes podem ser necessários para apoiar a adaptação muscular em futuras missões.
Imagens de ultrassom melhores
O Eco Vascular, investigação da Agência Espacial Canadense (CSA), examinou mudanças em vasos sanguíneos e no coração durante e após voos espaciais usando ultrassom e outras medidas.
Pesquisadores compararam a tecnologia de ultrassom 2D com ultrassom 3D motorizado – e descobriram que o 3D é mais preciso. Medidas melhores poderiam ajudar a manter a saúde da tripulação no espaço e a qualidade de vida das pessoas na Terra.
Cérebro no espaço
A investigação Brain-DTI da Agência Espacial Europeia (ESA) testou se o cérebro se adapta à ausência de peso usando conexões entre neurônios anteriormente não utilizadas.
Imagens obtidas por meio de ressonância magnética (MRI) de membros da tripulação antes e após voos espaciais demonstram mudanças funcionais em regiões específicas do cérebro. Isso confirmou a adaptabilidade e plasticidade do cérebro sob condições extremas.
Esse insight apoia o desenvolvimento de formas para monitorar adaptações cerebrais e contramedidas para promover a função cerebral saudável no espaço e para aqueles com distúrbios relacionados ao cérebro na Terra.
Melhorando materiais solares
Materiais de perovskita de halogeneto metálico (MHP) convertem luz solar em energia elétrica e mostram promessa para uso em células solares de filme fino no espaço devido ao baixo custo, alta performance, adequação para fabricação no espaço, e tolerância a defeitos e radiação.
Para o Experimento Internacional de Materiais na Estação Espacial-13-NASA (MISSE-13-NASA), que continua uma série de investigações sobre como o espaço afeta vários materiais, pesquisadores expuseram filmes finos de perovskita ao espaço por dez meses.
Os resultados confirmaram sua durabilidade e estabilidade neste ambiente. Essa descoberta poderia levar a melhorias em materiais e dispositivos MHP para aplicações espaciais, como painéis solares. Aliás, a NASA aposta que energia solar espacial pode se tornar a fonte energética mais eficiente até 2050.
Bolhas em espumas
Espumas úmidas são dispersões de bolhas de gás numa matriz líquida. Uma investigação da ESA – Dinâmica de Matéria Mole FSL (ou ESPUMA) – examina o crescimento, processo termodinâmico no qual bolhas grandes crescem à custa de menores.
Pesquisadores determinaram as taxas de crescimento para vários tipos de espumas e encontraram uma concordância próxima com previsões teóricas. Entender melhor as propriedades da espuma poderia ajudar cientistas a melhorar essas substâncias para uma variedade de usos – por exemplo: combate a incêndios e tratamento de água no espaço, além de fabricação de detergentes, alimentos e medicamentos na Terra.
Respostas sobre fogo
O fogo é uma preocupação constante no espaço. A série de experimentos Saffire estuda condições de chama em microgravidade usando espaçonaves de reabastecimento Cygnus vazias que se desacoplaram da estação espacial.
O Saffire-IV examinou o crescimento do fogo com diferentes materiais e condições e mostrou que uma técnica chamada pirometria de cor pode determinar a temperatura de uma chama que se espalha. A descoberta ajuda a validar modelos numéricos de propriedades de chama em microgravidade e fornece insights sobre segurança contra incêndios em futuras missões.
O pulo do robô
Astrobatics testa o movimento robótico por meio de manobras de pulo ou autolançamento pelos robôs Astrobee da estação. Em baixa gravidade, robôs poderiam se mover mais rápido, usar menos combustível e cobrir terrenos de outra forma intransitáveis com essas manobras, expandindo suas capacidades orbitais e planetárias.
Os resultados verificaram a viabilidade do método de locomoção e mostraram que ele proporciona uma faixa de distância maior. O trabalho é um passo em direção a ajudantes robóticos autônomos no espaço e em outros corpos celestes. Isso poderia reduzir a necessidade de expor astronautas a ambientes perigosos.