A Nasa acaba de lançar, nesta segunda-feira (14), uma nave espacial para a lua de Júpiter, Europa, considerada um dos locais mais promissores do sistema solar para ter vida além da Terra. Acredita-se que esse mundo congelado e vasto oceano subterrâneo é habitável.
A espaçonave robótica movida a energia solar da agência espacial dos EUA, Europa Clipper, foi lançada em um foguete Falcon Heavy da SpaceX a partir do Centro Espacial Kennedy, em Cabo Canaveral, carregando nove instrumentos científicos. Após percorrer 2,9 bilhões de km em uma viagem de cerca de 5 anos e meio, a Europa Clipper deve entrar em órbita ao redor de Júpiter em 2030.
Depois do atraso causado pelo furacão Milton, a Nasa definiu o horário de lançamento para 16h06 no horário de Greenwich (12h06 no horário de Brasília) nesta segunda-feira (14).
Os cientistas têm grande interesse no oceano de água salgada líquida que observações anteriores indicaram estar abaixo da crosta congelada da Europa.
“Há evidências muito fortes de que os ingredientes para a vida existem em Europa, mas precisamos ir lá para descobrir”, disse Bonnie Buratti, cientista planetária do Laboratório de Propulsão a Jato da Nasa e vice cientista do projeto da missão.
“‘Só para enfatizar: não somos uma missão de detecção de vida. Estamos apenas analisando se atende as condições para a vida”, acrescentou Buratti.
A Europa Clipper é a maior espaçonave que a Nasa já construiu para uma missão planetária, medindo cerca de 30,5 metros de comprimento, aproximadamente 17,6 metros de largura e pesando aproximadamente 6 mil kg. Ela é maior do que uma quadra de basquete por causa de seus grandes painéis solares, que captam luz solar para alimentar os instrumentos científicos, eletrônicos e outros subsistemas.
A espaçonave deve voar por Marte e depois voltar pela Terra, usando a gravidade de cada planeta como um estilingue para aumentar a sua velocidade. Ela tem três objetivos principais: medir a espessura da camada externa de gelo de Europa e suas interações com a subsuperfície abaixo, descobrir a composição da lua e determinar sua geologia.
A Nasa está planejando que sua espaçonave realize 49 sobrevoos próximos de Europa em um período de três anos.
O diâmetro de Europa é de aproximadamente 3.100 km em seu equador, cerca de 90% do diâmetro da nossa lua. Atualmente, acredita-se que a camada de gelo de Europa tenha de 15 a 25 km de espessura e flutue sobre um oceano com 60 a 150 km de profundidade.
Um mundo oceano
Essa lua é considerada um “mundo oceânico”. Embora Europa tenha apenas um quarto do diâmetro da Terra, seu oceano subterrâneo pode conter o dobro da água dos oceanos da Terra.
“Como um mundo oceânico, Europa é muito intrigante. E essa missão vai nos ajudar a entender uma parte complexa do nosso sistema solar”, afirmou Gina DiBraccio, diretora interina da divisão de ciência planetária da Nasa.
Segundo DiBraccio, os mundos oceânicos podem ser um tipo comum de corpo fora do nosso sistema solar.
“A Clipper será a primeira missão aprofundada que nos permitirá caracterizar a habitabilidade do que pode ser o tipo mais comum de mundo habitado em nosso universo”, disse DiBraccio.
Apesar de sua superfície hostil e gelada, os cientistas acreditam que Europa pode ser capaz de gerar vida. Buratti observou que há três requisitos principais para a formação de vida: água líquida, certa química — especificamente compostos orgânicos que poderiam servir de alimento para qualquer organismo primitivo — e uma fonte de energia.
Europa recebe apenas cerca de 4% da radiação solar que a Terra — cinco vezes mais próxima do sol — recebe. Mas Buratti observou que Europa se flexiona à medida que sua órbita se aproxima e se afasta de Júpiter, graças à forte atração gravitacional do enorme planeta — um processo que produz calor na lua.
“Essa é a fonte de energia que temos”, comentou Buratti.
No fundo do oceano de Europa, onde a água encontra o manto rochoso, pode haver aberturas térmicas onde o calor libera energia química.
“Elas podem ser semelhantes às aberturas térmicas nos oceanos profundos da Terra, onde existe vida primitiva e onde a vida pode ter se originado na Terra”, disse Buratti.
O instrumento MASPEX da espaçonave coletará amostras de gases para estudar o oceano, a superfície e a química atmosférica de Europa. O MASPEX procurará “moléculas orgânicas sofisticadas que poderiam fornecer o alimento, se houver algum organismo primitivo”, acrescentou Buratti.
Júpiter é o maior planeta do nosso sistema solar. Entre suas 95 luas oficialmente reconhecidas, Europa é a quarta maior, atrás de Ganimedes, Calisto e Io. Europa orbita a cerca de 671.000 km de Júpiter.
Buratti disse que missões exploratórias como essa sempre descobrem algo “que não poderíamos ter imaginado”
“Haverá algo lá — o desconhecido — que será tão maravilhoso que não podemos conceber neste momento”, disse Buratti. “Isso é o que mais me entusiasma.”
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