Centenas de mulheres da República Democrática do Congo receberam US$ 250 (cerca de R$ 1,3 mil) cada uma como ressarcimento após sofrer abusos sexuais por parte de funcionários da Organização Mundial de Saúde (OMS), agência especializada da Organização das Nações Unidas (ONU).
A informação foi divulgada nesta terça-feira, 14, pela agência de notícias Associated Press (AP) que teve acesso a relatórios internos da ONU.
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O valor é menor do que o reembolso de diárias para alguns funcionários das Nações Unidas que trabalham na capital congolesa, Kinshasa.
Além disso, para receber o dinheiro, as vítimas são obrigadas a realizar cursos de formação para que iniciem “atividades geradoras de renda”.
Uma forma encontrada para contornar a política da ONU que não prevê o pagamento de indenizações às vítimas de más condutas de funcionários da organização internacional.
Segundo Paula Donovan, diretora da campanha Código Azul, que luta contra a impunidade por má conduta sexual por parte de funcionários das Nações Unidas, este sistema de pagamento de ressarcimento é “perverso”.
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“É bom que a ONU pague às pessoas dinheiro inicial para que possam aumentar os seus meios de subsistência, mas combinar isso com compensação por agressão sexual é algo inédito”, observou.
Entretanto, para Donovan, exigir que as mulheres participem de cursos de formação antes de receberem dinheiro cria condições desconfortáveis para as vítimas de crimes que procuram ajuda.
Funcionários da ONU abusaram centenas de mulheres no Congo
Os crimes ocorreram entre 2018 e 2020, quando a OMS estava atuando no combate à epidemia de Ebola que atingiu o Congo.
A cidade de Beni, no leste do Congo, foi o epicentro da epidemia de 2018-2020.
Durante esse período, alguns funcionários da OMS assediaram e abusaram de centenas de mulheres locais.
Esse foi o maior escândalo sexual conhecido na história da Organização Mundial da Saúde.
Os fatos foram revelados pelo relatório produzido em março por Gaya Gamhewage, diretora da OMS para a prevenção e resposta à exploração, abuso e assédio sexual, que apresentou os resultados de uma investigação interna iniciada sobre o caso.
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Muitas das vítimas não foram ainda identificadas e, portanto, não receberam qualquer indenização.
A OMS informou em um documento confidencial no mês passado que cerca de um terço das vítimas era “impossível de localizar”. E que cerca de dez mulheres rejeitaram a oferta.
Nas entrevistas, as vítimas dos abusos disseram à AP que o dinheiro que receberam não era suficiente, e que queriam justiça.
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As mulheres salientaram que o mais queriam era que “os perpetradores fossem responsabilizados para que não pudessem fazer mal a mais ninguém”.
Gamhewage declarou estar ciente de que “esse dinheiro não é suficiente para compensar os danos sofridos pelas mulheres vítimas de abuso” e que a OMS está disposta a trabalhar para ajudá-las também de outras formas.
Funcionários da ONU tem histórico de violências e abusos
O caso da OMS no Congo é apenas o último de uma longa série de escândalos sexuais envolvendo funcionários da ONU em missões na África e em outras localidades.
No começo de 2023, onze capacetes azuis da ONU deslocados na República Centro-Africana foram acusados de exploração e abuso sexua.
Em outubro, oito capacetes azuis da ONU deslocados República Democrática do Congo também foram detidos sob acusações de abuso sexual.